Os livros que fizeram a cabeça da livreira mais conhecida de BH
Ao voltar a trabalhar em uma livraria na Rua Fernandes Tourinho, Simone Pessoa revela os autores e autoras mais marcantes de sua formação literária
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Siga noA mais conhecida livreira da cidade, Simone Pessoa (foto), está de volta a um endereço que ela conhece bem: Rua Fernandes Tourinho, 241, Savassi, onde trabalhou por mais de 20 anos na Livraria Ouvidor e agora funciona a Jenipapo Livraria.
O retorno de Simone ao local onde é sempre procurada para sugestões de livros foi marcado com uma confraternização organizada pelo proprietário da Jenipapo, Fred Pinho. “Ela esteve na esquina da Fernandes Tourinho com Getúlio Vargas por mais de 20 anos, contribuindo diretamente tanto na formação de novos leitores, quanto na divulgação de novos autores. O papel dela para a cena literária da capital mineira é inestimável”, afirma Fred, ao anunciar uma festa neste sábado “com chopes, churrasquinhos e uma feirinha de livros e CDs”, para marcar o retorno de Simone.
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As leituras que mais marcaram a livreira
“Sou de Dores do Indaiá. Como toda criança de interior que vivia numa fazenda e sem muita oportunidade de contato com livros, comecei a ler com Monteiro Lobato: é o que havia disponível nas salas de aula do Educandário Religioso até o término do primário. Tudo mudou quando entrei no Colégio Estadual Francisco Campos, montado pelo ilustre Chico Campos, com uma biblioteca fantástica.
Aí, tudo mudou. Aos 11 anos, li “O encontro marcado” (Fernando Sabino); na sequência, “João Ternura” (Aníbal Machado) e, ainda no mesmo ano, “A lua vem da Ásia” (Campos de Carvalho): uma forma de leitura mais lírica e urgente, cinematográfica, pois cinema não havia. Na adolescência, não li Conan Doyle ou Agatha Christie, saltei para outro encontro importante, aos 17 anos, com ‘Ulysses’, de James Joyce.
A leitura se manteve nesse modernismo por décadas até que, aos 36 anos, fui surpreendida pela carga erótica e potente da ‘Odisséia’, que me levou, já como leitora adulta, para descobertas transformadoras. Na atualidade, leio muito as mulheres escritoras do século 20. Gostei muito da ‘Trilogia de Copenhagen’, de Tove Ditlevsen. De Minas, acompanho com especial atenção e percebo a evolução real da poesia racionalista e bela de Ana Martins Marques.”
Para reforçar os sentidos que a palavra conduz
“Um livro que pudesse ser lido-visto-ouvido e tocado em qualquer lugar, que pudesse ser levado no bolso ao alcance das mãos: assim nasce ‘o teto é baixo e me espreme se não agacho’. A percepção tátil e do seu formato tive quando, no início de 2023, me deparei numa livraria com ‘O jovem’, de Annie Ernaux. ei a tarde com ele nas mãos em uma troca de afagos. Nesse momento me intrigava pensar por que coisas óbvias pareciam perder significado no país. Para mim, este livro reforça os sentidos que a palavra conduz e, através da associação, ou do encontro de metáforas (e outras figuras de linguagem), enfatiza/revela a contradição de cada texto. Leio o livro como vejo um filme.
Nele se articulam oito cenas de respiração poética, aparentemente alegorias ingênuas, ambivalentes, com uma abertura às vezes ambígua, às vezes propositalmente óbvia, que representa uma ideia de ‘créditos iniciais’ para o livro que motivou a sua criação. Reunidas como em processo de edição de imagens, as cenas são alinhavadas por textos de agem que estruturam o livro objeto. No final, faço um agradecimento-homenagem a ‘não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase’, do poeta gigante Paulo Leminski, homenagem estampada também na capa de meu livro.”
• Marcelo Braga de Freitas, a respeito de “o teto é baixo e me espreme se não agacho” (Impressões de Minas), que ele lança neste sábado, das 11h às 15h, no Memória Gráfica Mercado Novo (Av. Olegário Maciel, 742, loja 3166, 3º andar), com “deslinha”, de Angela Quinto (leia mais sobre “deslinha” na página 12 desta edição).