Morre idosa intoxicada após comer torta de frango contaminada em BH
Vítima estava internada há mais de um mês após consumir alimento suspeito vendido em padaria na Região da Pampulha, em BH
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Siga noApós pouco mais de um mês internada, a aposentada Cleuza Maria de Jesus, de 78 anos, morreu nesta terça-feira (27/5) em decorrência de complicações causadas por uma grave intoxicação alimentar. A idosa foi hospitalizada no dia 22 de abril, depois de consumir uma torta de frango comprada em um estabelecimento no Bairro Serrano, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte.
A confirmação da morte foi feita por familiares ao Estado de Minas. Ainda não há informações sobre velório e sepultamento. À reportagem, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que o corpo da idosa deu entrada no Instituto Médico Legal (IML) por volta das 14h30.
A torta foi comprada na noite de 21 de abril pela sobrinha de Cleuza, Fernanda Isabella de Morais Nogueira, de 23 anos, e pelo namorado dela José Vitor Carrillo Reis, de 24, que visitavam a idosa. Além da torta, eles também consumiram uma empada adquirida no mesmo local, a Padaria Natália, no Bairro Serrano.
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Assim que experimentaram os alimentos, notaram um gosto estranho, azedo, e decidiram devolver o que restou ao estabelecimento. Horas depois, o casal começou a apresentar sintomas graves de intoxicação alimentar e precisou ser internado em Sete Lagoas, onde mora. No dia 28 de abril, ambos foram transferidos para um hospital particular em BH. aram três semanas entubados, já receberam alta da UTI, mas, até esta terça, continuvam internados.
Já Cleuza, que inicialmente não apresentou sintomas, teve uma parada respiratória no dia seguinte ao consumo do salgado. Ela precisou ser reanimada pelo filho antes de ser levada a um hospital particular, onde permaneceu internada até a manhã desta terça.
Desde 23 de abril, a Padaria Natália está interditada pela Vigilância Sanitária de Belo Horizonte. De acordo com a prefeitura, o local não possui Alvará Sanitário e sequer havia iniciado o processo de regularização. Além disso, a fiscalização encontrou diversas irregularidades relacionadas à higiene e à estrutura sanitária.
Resultado dos exames
A principal suspeita para os casos era botulismo, uma intoxicação grave causada por toxina bacteriana. No entanto, exames realizados pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL) deram resultado negativo, conforme informou a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) na semana ada. A pasta solicitou análises complementares para investigar outras neurotoxinas e agentes patogênicos que podem ter causado a intoxicação.
A negativa não convenceu os familiares das vítimas. Uma parente, que preferiu não se identificar, relatou em entrevista ao Estado de Minas que os médicos que acompanharam o casal foram unânimes em afirmar se tratar de botulismo. Segundo ela, os profissionais explicaram que esse tipo de exame tem alta taxa de falso negativo.
Ela afirmou ainda que os profissionais não têm outra hipótese de diagnóstico e que a família já havia sido alertada por outras pessoas que o falso negativo em casos de botulismo é comum. "Não tem como descartar, eles estão sendo muito precipitados em descartar porque os médicos afirmam com toda certeza”, concluiu. Não há informações sobre como foi conduzido o tratamento da idosa, nem se houve medidas específicas para tratar um possível caso de botulismo.
O caso segue sob investigação conjunta da Fundação Ezequiel Dias (Funed), da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e da Vigilância Sanitária de Belo Horizonte.
Questões sanitárias
O fator que culminou na morte de Cleuza e na internação do jovem casal ainda está longe de ter uma explicação definitiva. Procurada pela reportagem, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que as investigações seguem em andamento e aguarda a finalização dos laudos periciais que determinarão a causa e circunstâncias do ocorrido. "A depender da complexidade, o prazo poderá ser estendido", comunicou por meio de nota.
Logo após a interdição da padaria, em 23 de abril, o padeiro responsável pela produção da torta, recém-contratado e com apenas seis dias de trabalho no local, se apresentou espontaneamente à Polícia Civil, no Bairro Alípio de Melo, Região Noroeste de Belo Horizonte. Ele foi ouvido, negou qualquer envolvimento criminoso e foi liberado.
Na delegacia e à imprensa, o padeiro apontou precariedade nas condições de higiene e armazenamento da padaria como potenciais causas da contaminação. Segundo ele, os alimentos eram armazenados de maneira inadequada, expostos a riscos de contaminação cruzada. A esposa do padeiro, Ruth Lazarini, reforçou essa denúncia ao Estado de Minas, relatando que o marido frequentemente comentava sobre a falta de cuidados básicos no local.
“A higienização da padaria, pelo que meu marido me contava, não era de boa qualidade, não. Eles mantinham muito os alimentos jogados, e não havia aquele cuidado com os alimentos que tinha que ter. As comidas ficam todas juntas e abertas dentro do congelador”, disse na ocasião. Ruth contou ainda que o marido levou para casa uma torta de frango preparada na mesma fornada da vendida ao casal, e que nenhum familiar apresentou sintomas.
A Vigilância Sanitária realizou nova vistoria na padaria no dia 28 de abril, quando apreendeu todos os produtos irregulares segundo as normas sanitárias. O restante, que estava dentro dos padrões, foi recolhido pelos funcionários.
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O dono do estabelecimento chegou a apontar o padeiro como responsável pela contaminação, mas não apresentou nenhuma prova que sustentasse a acusação. Desde então, a família do trabalhador a dificuldades financeiras. “As pessoas não estão abrindo oportunidade de vagas de emprego para a gente”, afirmou Ruth Lazarini ao Estado de Minas na semana ada. Ela afirma que eles e a filha, de 5 anos tem sobrevivido com a ajuda de amigos e parentes, que fornecem alimentos. Caso contrário, segundo Ruth, eles ariam fome. “As coisas estão cada vez mais difíceis. Até que isso se resolva, a gente fica 'à mercê' da sociedade com julgamentos ofensivos”, desabafou.