PADARIA EM BH

Caso de intoxicação por torta impõe crise financeira a padeiro, diz esposa

O caso, que ainda está sem solução, é marcado por trocas de acusações entre o funcionário e o dono do estabelecimento, localizado na Pampulha, em BH

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Às vésperas de completar um mês desde a internação de três pessoas que comeram torta de uma padaria de BH, localizada no Bairro Serrano, na Pampulha, a esposa do padeiro diz que a família tem ado por crise financeira. “As pessoas não estão abrindo oportunidade de vagas de emprego para a gente”, afirmou Ruth Lazarini ao Estado de Minas nesta terça-feira (20/5). O caso, que ainda está sem solução, é marcado por trocas de acusações entre o funcionário e o dono do estabelecimento. 

A esposa do padeiro afirmou que eles e a filha, de 5 anos, estariam sobrevivendo com ajuda de amigos e parentes, que levam alimentos. Caso contrário, Ruth afirma que eles ariam fome. “As coisas estão cada vez mais difíceis. Até que isso se resolva, a gente fica 'à mercê' da sociedade com julgamentos ofensivos”, desabafou.

A esposa do profissional contou que o marido atuava como padeiro há 40 anos. “Ele [dono da padaria] acabou com nossas vidas porque as pessoas têm o pé atrás, não têm a confiança mais”, disse. 

A internação dos dois jovens, de 23 e 24 anos, e uma idosa, de 78, aconteceu entre os dias 21 e 22 abril. Dias depois, Ruth afirmou à reportagem que o marido levou a mesma torta de frango produzida na padaria para a família e que ninguém ou mal ou teve qualquer reação adversa. O padeiro trabalhava no local há seis dias quando as intoxicações vieram à tona.

Questões sanitárias

Na semana em que as três pessoas foram internadas em estado grave, a mulher disse que o padeiro havia relatado a ela que os ingredientes não eram armazenados de maneira adequada no estabelecimento. “A higienização da padaria, pelo que meu marido me contava, não era de boa qualidade, não. Eles mantinham muito os alimentos jogados, e não havia aquele cuidado com os alimentos que tinha que ter. As comidas ficam todas juntas e abertas dentro do congelador”, disse na ocasião. 

No dia 23 de abril, o estabelecimento foi interditado pela Vigilância Sanitária por não ter alvará sanitário e nenhum cadastro no serviço para iniciar o processo para liberação do documento. De acordo com a Prefeitura de BH, a inspeção revelou ainda problemas de higiene e estrutura. 

No dia 28 de abril, a Vigilância Sanitária voltou à padaria e realizou apreensão de todos os produtos irregulares quanto às normas sanitárias. Os demais produtos que estavam sanitariamente adequados foram recolhidos pelos funcionários.

Acusações e processo

Em entrevista à "Folha de S. Paulo" em 23 de abril, o proprietário do estabelecimento acusou o funcionário de envenenar o salgado que provocou as internações. À reportagem do veículo paulista, ele disse que o padeiro teria confidenciado a colegas estar enfrentando problemas conjugais e, a partir daí, concluiu que ele pretendia matar a esposa. Apesar da acusação grave, o dono da padaria não apresentou qualquer prova ou detalhe sobre o teor e gravidade dos supostos conflitos conjugais. 

Ainda segundo ele, o funcionário teria levado para casa a mesma torta vendida no balcão e, por isso, teria confundido os produtos, deixando a versão supostamente envenenada à venda para o público. Na entrevista, ele chega a dizer ainda que se soubesse dos problemas conjugais do casal teria “mandado esse cara embora na hora”.

"A bomba [das possíveis contaminações] veio à tarde, e à noite eu juntei as peças. Ele ia matar a mulher envenenada e acabou colocando três pessoas no hospital, e eu ando por essa situação, por esse pesadelo", afirmou o proprietário.

A declaração dele também não consta no boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar às 18h40 do dia 23 de abril. Caso a acusação tenha sido feita à polícia e seja falsa, o dono da padaria pode responder por falso testemunho, crime com pena de até três anos de prisão.

Indignado com a acusação feita publicamente pelo proprietário da padaria, o casal informou na época que pretende processá-lo por calúnia. Ruth contou que ficou surpresa ao saber, pela imprensa, da alegação de que o marido teria tentado envenená-la. 

Nesta quarta-feira (20/5), questionada sobre o possível processo, a esposa do padeiro disse apenas que eles estão precisando saber informações sobre os laudos das vítimas e necessitando ajuda financeira. 

Resultado dos exames

Principal suspeita dos casos de internação, o botulismo foi descartado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) com base no resultado negativo dos exames feitos pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL). A pasta da saúde informou que solicitou a análise de outras neurotoxinas e agentes. A informação foi divulgada pela pasta nesta terça-feira. 

O caso está sendo acompanhado em conjunto com a Fundação Ezequiel Dias (Funed), Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e Vigilância Sanitária de Belo Horizonte.

Familiares das vítimas contestam os resultados negativos. Conforme uma parente, que não quis se identificar, os médicos do casal afirmam que o caso é de botulismo. Segundo os profissionais, seria possível que os resultados tenham dado falso negativo.

“Os médicos deles [do casal] são categóricos em afirmar que é botulismo, que o exame dá muito falso negativo, que o exame é muito falho e que eles não têm nenhuma dúvida que seja de botulismo", disse a parente. Ela afirmou ainda que os profissionais não têm outra hipótese de diagnóstico e que a família já havia sido alertada por outras pessoas que o falso negativo em casos de botulismo é comum. "Não tem como descartar, eles estão sendo muito precipitados em descartar porque os médicos afirmam com toda certeza”, concluiu.

Embora os exames para botulismo tenham dado resultado negativo, outras possíveis causas de intoxicação estão sendo analisadas. A SES solicitou ao IAL a realização de exames complementares para detecção de outras neurotoxinas e agentes relacionados.

Os jovens Fernanda Isabella de Morais Nogueira, de 23 anos, e José Vitor Carrillo Reis, de 24, saíram da UTI na semana ada, mas a idosa Cleuza Maria de Jesus, de 78, segue internada em estado grave. 

Relembre o caso 

De acordo com o boletim de ocorrência, o casal estava em BH no dia 20 de abril para visitar a idosa. Horas depois, perceberam que a torta que haviam comido estava estragada e chegaram a retornar à padaria para devolver o produto. Já em Sete Lagoas, na Região Central, onde moram, começaram a ar mal e procuraram atendimento médico, sendo imediatamente internados. No dia 28 de abril, os jovens foram transferidos para um hospital particular em Belo Horizonte.

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A idosa só apresentou os primeiros sintomas na manhã do dia seguinte. Ela teve uma parada respiratória e precisou ser reanimada pelo filho antes de ser levada a um hospital particular na capital. Cleuza Maria de Jesus está internada no Hospital Med Center, na Região de Venda Nova.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata

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