Menor bairro de BH tem só duas ruas e incontáveis histórias
'Bairrinho' fica dentro do Saudade, na Região Leste da capital mineira, e, para os moradores, a memória do local também está guardada na saudade
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Siga noÉ no espaço entre as ruas Arcos e Leopoldo Gomes, na Região Leste de Belo Horizonte, que moradores do menor bairro da capital mineira compartilham memórias e relatam como é viver na Vila Vera Cruz II. O bairrinho, que fica “dentro” do bairro Saudade, também fica na saudade das pessoas que ali residem e acompanharam as transformações ao longo dos anos, ou por meio de histórias contadas pelos anteados.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o menor bairro de BH em área tem apenas 1,4 mil metros quadrados, mas é nesse pequeno espaço dentro dos 331,4 quilômetros quadrados da cidade que se preservam grandes memórias. Segundo o censo de 2022, cerca de 54 pessoas ocupam 20 residências na Vila Vera Cruz II e compartilham vivências e emoções semelhantes.
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Moradora do pequeno bairro, Maria de Lourdes Silva, de 80 anos, viveu quase toda a sua vida no local e conta como o lugar era revendo fotos e mapas. “A gente vê as coisas antigas pelo celular, aquele mapa antigo, e eu sei que o bairro teve esse nome. Esse bairro é pequeno mesmo. É só um pedacinho mesmo. Gosto daqui e não troco por nada. Já me convidaram, já fizemos uma experiência de mudar daqui, mas não valeu a pena. Eu fiz meu cantinho aqui”, diz.
De outro lado, quase 50 anos mais nova, a estudante de medicina veterinária Samira Moutinho mora no bairro desde que nasceu, mas se surpreendeu ao tomar conhecimento do fato. De acordo com ela, nos 34 anos vividos na região, nunca ouviu dizer que a Vila Vera Cruz II é o menor bairro da capital, mas também busca na memória as mudanças pelas quais o local ou.
“Que legal, bicho! Eu não sabia. Quando eu nasci, essa praça aqui nem existia. Era tipo um espaço vago. Não tinha praça, não tinha nada. Só tinha igreja. Isso tem muitos anos. Meu avô morava aqui quando não tinha nada, quando era só trilha. Mas meu avô já não é vivo mais. Aí, tem só minha mãe lá, mas eu acho que ela também nunca ouviu falar isso”, conta.
Lembranças da Paróquia Santa Cruz
Uma igreja chamada Cruzeirinho ficou na memória de alguns dos moradores, que tiveram experiências diferentes vivendo ali. A Paróquia Santa Cruz, conhecida como Igreja Padre Léo, ficou na memória da construção do bairro. É o que conta Dailton Nogueira, 78 anos, residente na Rua Arcos há 40 anos.
“Lá em cima, onde hoje está a igreja, não tinha nada. Naquela grande área, que chamava Cruzeirinho, o pessoal se reunia. Lembro até de um parque que chamava São João, tinha barraquinha. A comunidade juntou e fez a igreja ali, com uma cruzinha na ponta do telhado. Quando eu cheguei por aqui, nem rua tinha. Tinha aquela escadinha, e quando chovia, eles escorregavam lá de cima e paravam aqui. Então, é mais ou menos isso aí eu lembro”, conta.
Já Claudiane Vicentino da Silva, 53, conta que ouviu de seus avós e bisavós o quanto o bairro e os arredores cresceram. A moradora, atualmente desempregada, relembra o início das antigas construções, como a Igreja Padre Léo, na região. De acordo com Claudiane, quando a igreja foi fundada, quase não havia casas.
“Quando a igreja foi fundada, não tinha nada aqui. Nada, nada, nada. Eram poucas casinhas, como se fosse uma fazenda”, lembra. Para ela, participar de quase metade da história da capital mineira morando em um único bairro – o menor de todos – é uma sensação incrível. “É incrível. O carinho de ter participado da história da cidade está vivo também”, conclui.
Censo
Na contramão dos 54 moradores da Vila Vera Cruz II, dados do IBGE, divulgados em 2024, mostram que o Bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte, é o mais populoso de Minas Gerais. Com um crescimento populacional de cerca de 13 mil pessoas entre os dois últimos levantamentos, a área a, então, a ficar no topo da lista.
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Em 2010, o Buritis já estava entre os mais populosos, ficando atrás apenas do Bairro Santa Mônica, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, maior bairro do estado na época, e do Bairro Sagrada Família, Região Leste da capital, que ocupava o segundo lugar. No ranking, o Bairro Buritis aparece com 17.094 domicílios particulares permanentes ocupados, e 42.342 moradores.