Médicos do João XXIII contestam versão sobre fechamento de bloco cirúrgico
Decisão de desativar bloco cirúrgico do hospital sobrecarregou o João XXIII e gerou cancelamento de procedimentos, afirmam profissionais
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Siga noAntes de ser desativado, o HMAL funcionava como retaguarda do João XXIII e realizava cerca de 300 cirurgias por mês, muitas delas encaminhadas pelo pronto-socorro. Com o fechamento do bloco, a expectativa era que os pacientes fossem redistribuídos entre outras unidades da rede. Na prática, porém, segundo profissionais ouvidos pelo Estado de Minas, a maioria continuou na unidade pressionando ainda mais o João XXIII.
Sem salas de cirurgia suficientes para a alta demanda, apenas um quarto dos procedimentos, que antes eram realizados no HMAL, está sendo feito. “O hospital não comporta. Tentaram aumentar os giros das salas, mas isso não foi suficiente para absorver a demanda”, disse outra profissional à reportagem, que também preferiu não ser identificada.
Versão do Governo
Nos bastidores, porém, profissionais da saúde ouvidos pela reportagem denunciam que houve manipulação dos números para sustentar a narrativa de que o serviço se mantém eficiente. Um dos médicos relatou que, antes de uma visita oficial do governo ao hospital, a unidade ou por uma espécie de "limpeza". “Até sexta-feira ada, o hospital estava abarrotado. No fim de semana, do nada, ficou vazio. Nunca vi isso. Corredores limpos, enfermarias vazias... Foi uma maquiada antes da visita oficial. Na segunda-feira, quem veio visitar, encontrou um cenário completamente diferente da realidade do dia a dia”, contou.
Disputa na Justiça
As denúncias dos médicos relatadas ao Estado de Minas também foram levadas pelo Sindicato Único dos Servidores da Saúde do Estado de Minas Gerais (Sind-Saúde/MG) ao Ministério Público, que ingressou com uma ação civil pública na terça-feira (1º/4), exigindo a reabertura imediata do bloco cirúrgico do HMAL.
Apesar das críticas e da decisão judicial, o governo segue defendendo a mudança. Em coletiva, Baccheretti argumentou que a nova gestão ampliará o número de cirurgias eletivas e evitará filas paradas, como a que ocorreu em janeiro, quando cirurgias ortopédicas precisaram ser suspensas por 15 dias na capital mineira devido à alta de acidentados.
Como deve funcionar a terceirização
A reestruturação do hospital faz parte do programa Opera Mais, lançado pelo governo estadual em 2021, com o objetivo de reduzir a fila de cirurgias eletivas no estado. O programa já disponibilizou mais de R$ 900 milhões para procedimentos cirúrgicos e, neste ano, prevê um investimento de R$ 376,8 milhões.
Com o novo modelo, o HMAL será voltado exclusivamente para cirurgias eletivas, desafogando, segundo o governo de Minas, hospitais de urgência e emergência como o João XXIII. A expectativa é que a unidade realize cerca de 500 cirurgias por mês, especialmente ortopédicas, já que essa é a maior demanda reprimida atualmente.
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Sobre os servidores, o secretário garantiu que ninguém será demitido e que todos serão realocados para o Hospital João XXIII, localizado a apenas 100 metros do Maria Amélia Lins. “Os profissionais da mesma carreira serão absorvidos no João XXIII. Precisamos deles: dos cirurgiões, enfermeiros e anestesistas”, assegurou Baccheretti em entrevista anterior publicada no Estado de Minas.
(Com informações de Melissa Souza)