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SANTA TEREZA

Coletivo propõe mudar nome da Praça Duque de Caxias para Clube da Esquina

Mudança foi proposta depois que discussão ideológica saiu de dentro da Câmara dos Vereadores e ganhou as ruas. O nome de outra também também está em disputa

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O coletivo Alvorada, autoidentificado como de esquerda, pretende reunir s e propor um projeto de lei para mudar o nome da Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de Belo Horizonte, para Praça Clube da Esquina.

A nomenclatura atual homenageia o patrono do Exército brasileiro, atuante em diversas guerras no século 18, e o coletivo pretende ar a honraria para o grupo de músicos, surgido no bairro na década de 1960, que marcou a história da MPB. A proposta faz parte de uma disputa iniciada dentro da Câmara dos Vereadores e tem dividido opiniões entre moradores.


A ideia de renomear a praça é uma resposta ao projeto de lei do vereador Pablo Almeida (PL) para mudar a Praça Ernesto Che Guevara, no Taquaril, também na Região Leste, para Praça Martin Luther King Jr. O parlamentar, por sua vez, propôs a mudança em reação a uma lei municipal de 2023, na qual se proíbe a nomeação de praças e ruas com menções a datas durante a ditadura militar ou a “autores das graves violações de direitos humanos” durante o período.


Na argumentação do projeto de lei, o vereador citou a legislação da capital mineira que proíbe, entre outros, nomes de praças e ruas com pessoas que tenham sido condenadas por crime contra o estado democrático ou contra direitos individuais.

"Com isso e naturalmente, devem ser abolidos nomes que rememorem pessoas vocacionadas ao mal e aos crimes contra a humanidade, como Ernesto Che Guevara, o quanto antes", argumentou na proposição do projeto de lei.


Disputa



No outro lado do espectro político, e cinco quilômetros distante, o Coletivo Alvorada publicou um manifesto pela mudança do nome da Praça Duque de Caxias. O espaço, situado na região boêmia do Santa Tereza, convive com o militarismo à porta. Colado à praça ficam o Colégio Tiradentes e o 16º Batalhão da Polícia Militar. Contudo, o coletivo diz que a campanha é motivada por pedido de moradores do bairro que alegam que Duque de Caxias “não representa os valores e a identidade do bairro”.


O compositor Gabriel Guedes, de 47 anos, um dos encabeçadores da proposta, conta que a ideia surgiu há cerca de 12 ou 15 anos, quando participou de uma manifestação na praça. "No final da apresentação eu levantei essa lebre no microfone. Algumas pessoas aderiram, outras não”, relata.


O artista cita que, na ocasião, uma moradora mais velha se posicionou firmemente e afirmou que era um absurdo, e que não se pode mexer no nome da praça. “A pessoa prefere manter, por um tradicionalismo enraizado, o nome de um militar que comandou um tanto de guerra, que com certeza fez morrer muita gente”, conta Guedes, com referência à participação do Duque nas guerras do Paraguai, dos Farrapos e da Balaiada.


O próximo o do coletivo é buscar o apoio da população e de vereadores, e, para isso, pretende promover um abaixo-assinado pela mudança, assim como exibição de faixas pela cidade, ações nas redes sociais e intervenções na Câmara Municipal. O objetivo, conforme argumentam, é reafirmar a memória e a importância do Clube da Esquina para a cultura do Santa Tereza.


Controvérsias


Para o filósofo Vitor Coelho Lima, de 35, morador do bairro há pouco mais de um ano, e frequentador dali desde jovem, a retirada do nome do patrono do Exército da praça parece ser um caminho natural devido à recente tentativa de golpe de estado com o apoio de membros das Forças Armadas.


“No caso do Duque de Caxias, que é um militar, eu acho uma resposta cultural interessantíssima mudar esse nome diante de tudo que o Brasil tem vivido nos últimos anos. Essa guerra política também tem que vir para o campo cultural, então mudar o nome da praça para Clube da Esquina para mim faz todo sentido e tem tudo a ver com o bairro”, defende.


Por outro lado, o comerciante Nivaldo Benedito Bicalho, de 62, acredita que não se deve mudar o nome tão tradicional da praça. O espaço, inaugurado em 1937 sob o nome de Praça Santa Tereza, ou a carregar o nome do militar em 1993, cerca de 10 anos antes do comerciante instalar o seu ponto bem ali em frente.


“A Praça Duque de Caxias é muito tradicional, eu não gostaria que mudasse o nome não. Já tem o Clube da Esquina com a tradição dele, com a placa na esquina, com o bar com o nome deles. Não precisa dar nome à praça também”, afirma.


Além das discussões sobre quem deve ou não ser homenageado nos nomes de equipamentos públicos, a trabalhadora de serviços gerais Maria Cardoso, de 55, deseja que a Praça Che Guevara, onde leva a filha e os amiguinhos para brincar todos os dias, receba mais atenção dos vereadores e do Poder Público no geral. Entre as reclamações, está o mato alto na praça que esconde os insetos e faz com que muitas crianças sejam picadas enquanto brincam.


“Tinha um gira-gira aqui que tiraram porque estava muito perigoso para as crianças brincarem. Podia ter um balanço ou um escorregador, com aquele tapete almofadado no chão”, disse. Ainda, Maria pede que “em vez de mudar o nome da praça, deveriam era trazer mais brinquedos para as crianças”.

Mato alto e lixo trazem riscos para as crianças que brincam na Praça Che Guevara
Mato alto e lixo trazem riscos para as crianças que brincam na Praça Che Guevara Túlio Santos/EM/D.A Press


Resposta


O vereador Pablo Almeida disse à reportagem que, embora Che Guevara seja tido como um ícone revolucionário, considera que o mesmo foi responsável por ações violentas e expressou opiniões racistas e homofóbicas, o que não representa a população de Belo Horizonte.


“Eu não defendo uma mudança por mudança, ou por meramente questões ideológicas. Estamos falando de uma praça em nossa cidade, uma das capitais mais importantes do Brasil, que simplesmente presta homenagem a uma pessoa que defendia a violência revolucionária e perseguiu homossexuais e negros”, disse.


Sobre a escolha pela homenagem a Martin Luther King Jr., pastor batista norte-americano e líder dos movimentos pelo fim da segregação racial nas décadas de 1950 e 1960, o parlamentar cita que o mesmo defendia valores como a não-violência e a justiça social.


“Eu não escolhi o nome de algum general ou militar do período do regime. Eu escolhi o nome de uma pessoa que tem um respeito mundial. Até mesmo respeitado pelos progressistas nos Estados Unidos e por muitos esquerdistas no Brasil”, argumenta.

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