
Brumadinho: famílias das vítimas criticam divulgação dos segmentos achados
O Corpo de Bombeiros informou que novos materiais corpóreos foram encontrados. A PCMG confirmou que se tratava de Maria de Lurdes Bueno
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Siga noApesar de todo o alívio com a conclusão de mais um longo e angustiante período de espera, a Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum) criticou a divulgação “prematura” de informações após a mais recente descoberta de segmentos. No início da tarde dessa quinta-feira (6/2), o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais informou que novos materiais corpóreos foram encontrados em meio a mancha deixada pelo desastre.
Durante a nova descoberta três vítimas ainda não haviam sido reconhecidas. A confirmação da identidade foi feita durante a noite pela Polícia Civil de Minas Gerais, que indicou que um dos segmentos encontrados pelos Bombeiros pertencia a Maria de Lurdes da Costa Bueno, que tinha 59 anos à época do desastre.
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Ao Estado de Minas, Nayara Porto, presidente da Avabrum, e esposa de Everton Lopes, uma das vítimas da barragem, explicou que a difusão da informação sobre novos segmentos encontrados à imprensa saiu do protocolo já praticado pelo Corpo de Bombeiros. Segundo ela, mensalmente a corporação encontra materiais ósseos, notifica a entidade e os encaminha para a perícia da Polícia Civil onde a identificação é feita ou não. No entanto, diferente do habitual, na quinta-feira (6/2), foi encontrada uma prótese que poderia pertencer a uma das vítimas ainda não reconhecida.
“Essa falta de sensibilidade não traz conforto, mas sim mais angústia e sofrimento para aqueles que há seis anos convivem com a dor desse crime continuado. Quantos pais e mães já faleceram em decorrência da tristeza e da depressão? Quantos ainda enfrentam doenças físicas e mentais causadas pelo trauma irreparável que vivemos? Todos os protocolos foram descumpridos. Não houve respeito aos familiares. Diante disso, a Avabrum exige de todos os envolvidos empatia e respeito pela nossa dor”, lamentou a entidade em nota.
Fim da espera
A confirmação da identidade de Maria de Lurdes foi divulgada pela corporação na tarde desta sexta-feira (7/2). Em nota, a PCMG informou que o processo aconteceu por meio de exame antropológico. Na tarde de ontem, durante coletiva de imprensa, os bombeiros informaram que “vários segmentos de interesse” foram encontrados na mancha deixada pelo desastre. Os materiais estavam em “remanso 4”, área de buscas que fica a cerca de dois quilômetros da pousada.
O porta-voz da corporação, tenente Henrique Barcellos, não especificou quantos fragmentos foram encontrados, mas disse que o maior interesse é de fêmur, de uma perna direita, que possuía uma prótese. Até o momento, a PCMG não confirmou qual segmento ajudou na identificação de Maria de Lourdes.
No entanto, pelas redes sociais, antes da identificação oficial, o ex-porta-voz do CBMMG e atual deputado federal Pedro Aihara (PRD-MG) disse que pelas características da estrutura é provável que seja da mulher. “Uma familiar me contou que ela tinha uma prótese de titânio no fêmur. A gente sempre ficava ansioso para fazer essa localização e identificação."
Pelo “X”, antigo Twitter, o governador Romeu Zema (Novo) comentou sobre a identificação. “Mais uma joia da tragédia de Brumadinho foi identificada pela PCMG. Maria de Lurdes estava na Pousada Nova Estância e foi a 268ª vítima encontrada pelos Bombeiros de MG, na maior operação de buscas das Américas. Espero que essa notícia conforte a família”, escreveu.
Maria de Lurdes da Costa Bueno era corretora. Moradora de São José do Rio Pardo, em São Paulo, estava hospedada na Pousada Nova Estância, que foi soterrada pela lama da barragem. Além dela, Adriano Ribeiro da Silva, marido de Maria de Lourdes, dois enteados, Luiz Taliberti e Camila Taliberti, e a nora, Fernanda Damian de Almeida, também morreram na tragédia. A família estava em Brumadinho para conhecer o Museu Inhotim.
Quem ainda está desaparecido?
Ao todo, o rompimento da barragem de rejeitos, em 25 de janeiro de 2019, deixou 272 mortos. Porém, duas vítimas ainda continuam desaparecidas. Nathália de Oliveira Porto Araújo tinha 25 anos e era estagiária na Vale. Ela deixou dois filhos e o marido. No momento em que a barragem da mina se rompeu, ela ligou para o marido e pediu “Deus me dê o livramento”. Tiago Tadeu Mendes da Silva tinha 34 anos e era engenheiro mecânico. Ele foi transferido de Sarzedo para Brumadinho cerca de 20 dias antes do rompimento da barragem. Deixou a mulher e dois filhos.
O desastre
Em 25 de janeiro de 2019, uma das mais terríveis das tragédias humanitárias e ambientais do Brasil se abateu sobre Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e se propagou pela Bacia do Rio Paraopeba. Com o rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, às 12h28 de uma sexta-feira, 270 pessoas morreram – há ainda dois desaparecidos. Ao número oficial de vítimas, denominadas “joias” pelos moradores locais, somam-se dois nascituros, que se chamariam Maria Elisa e Lorenzo ao vir ao mundo. Assim, 272 perderam a vida.
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O desastre mudou a realidade de 26 municípios atingidos pelos aproximadamente 12 milhões de metros cúbicos (m³) de rejeitos que contaminaram as águas do Rio Paraopeba até a Usina Hidrelétrica (UHE) de Retiro Baixo, entre Curvelo e Pompéu, na Região Central do estado