Em julho de 2024, a Câmara Municipal de São Paulo decretou o 22 de maio o Dia de Rita Lee. Nascida em 31 de dezembro, a cantora e compositora (1947-2023) celebrava seu aniversário no dia dedicado a Santa Rita de Cássia. "Nunca tive uma festa minha. É sempre 'hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser'”, declarou, quando decidiu mudar a data.
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Tanto por isto, o 22 de maio foi também o dia escolhido para o lançamento do documentário “Ritas” – em Belo Horizonte, o filme estreia hoje em três salas. Menos de um mês após a HBO Max lançar o documentário “Rita Lee: Mania de você”, de Guido Goldberg, a mais brilhante das roqueiras brasileiras ganha um novo filme.
Com direção de Oswaldo Santana e Karen Harley, “Ritas” nasce em 2018. Naquela altura, Rita Lee já havia deixado os palcos havia seis anos e lançado sua autobiografia. Com os direitos de adaptação do livro para o cinema adquiridos pela Biônica Filmes, ela mesma participou do pontapé do projeto.
Karen Harley foi até a casa de Rita para fazer uma longa entrevista com a cantora e compositora. Este material em vídeo, inédito, acabou se tornando não só a última grande entrevista da artista como a espinha dorsal do longa.
“A conversa começou durante o dia e entrou para a noite”, comenta Oswaldo Santana. Mas não só: durante o processo, a equipe deixou com ela um celular. “Não teve nada muito preconcebido, só pedimos para ela se gravar”, comenta.
Jardim
Dessa maneira, o filme ganha uma nuance muito próxima, mostrando Rita sozinha, falando diretamente para a câmera, revelando detalhes da casa, da imensa memorabilia que colecionava, da vida em família (há uma longa sequência em que ela acompanha Roberto de Carvalho cuidando do jardim, uma de suas paixões).
Paralelamente a este registro íntimo, “Ritas” apresenta a cronologia da carreira dela, a partir dos Mutantes, recheada de imagens. Tanto Santana, ele estreante na direção de longas, quanto Harley têm uma grande trajetória como montadores – ela trabalhou ao lado de grandes cineastas, como Cacá Diegues e Walter Carvalho, e codirigiu (com Lucy Walker e João Jardim) “Lixo extraordinário” (2010), longa sobre o trabalho de Vik Muniz.
O título “Ritas” vem da percepção que os diretores tiveram, referendados pelas falas da própria biografada – que se refere a Rita Lee na terceira pessoa –, das personas que habitavam aquele corpo. A Rita Lee cantora, compositora, pioneira do rock brasileiro; a Rita caseira, que queria tranquilidade na velhice. “A partir desse insight, não só descobrimos o filme como tivemos segurança do caminho”, comenta Santana.
Autobiografia
Com a autobiografia como referência e uma ampla pesquisa em vídeo – que traz inclusive trechos de uma entrevista que ela concedeu a Tutti Maravilha, em Belo Horizonte, um bom par de décadas atrás –, “Ritas” vai costurando a história dela a partir de imagens históricas. Os Mutantes, que não aparecem no documentário anterior, preenchem uma pequena parte do início do filme – mas não se fala do relacionamento de Rita com Arnaldo Baptista.
A narrativa prossegue, dando conta das várias Ritas. Quando ela fala do poder da voz de Elis Regina, acompanhamos um dueto entre elas. Rita comenta do medo que sentia de João Gilberto – e é adorável vê-los juntos, tête-à-tête, entoando “Jou jou balangandãs”; ou então ela dançando com Maria Bethânia.
O diagnóstico do câncer de Rita Lee foi anunciado em 2021. “Naquele momento, a estrutura do filme já estava bem encaminhada, pois tínhamos revisto tudo no começo da pandemia”, afirma Santana. Roberto de Carvalho, em especial, mas também filhos e netos – “Gosto de brincar que é a ‘familee’” – participaram ativamente do projeto. “Depois da doença, amos a atualizá-los sempre”, diz Santana.
“RITAS”
(Brasil, 2025, 82min.). Direção: Oswaldo Santana. O filme estreia nesta quinta-feira (22/5), no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Sala 2, 16h20), no Pátio Savassi (Sala 8, 19h30) e no UNA Cine Belas Artes (Sala 2, 14h30, 16h20 e 20h).