O artista português Pedro Abrunhosa faz primeiro show em BH
Reconhecido em seu país e próximo de artistas brasileiros, o cantor e compositor abre turnê pelo país nesta quinta-feira (15/5), na capital mineira
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Siga noPortugal abraça a música brasileira há muito tempo. A recíproca está longe de ser verdadeira, mesmo que alguns nomes da produção contemporânea – Madredeus, Carminho, Dulce Pontes, António Zambujo – tenham alcançado público em grande escala no país.
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“A permuta entre Portugal e Brasil é muito desequilibrada. O Brasil sempre teve uma política de soft power cultural, se impôs no mundo através da música. Portugal ignorou isso”, comenta Pedro Abrunhosa, cantor, compositor e um dos nomes mais conhecidos da produção contemporânea de seu país.
Abrunhosa começa por Belo Horizonte sua nova turnê brasileira. Ao lado da banda Comité Caviar, formação com seis integrantes que o acompanha há 12 anos, ele faz show nesta quinta-feira (15/5), no Teatro Sesiminas. É sua primeira vez na capital mineira. Na sequência, ele se apresenta em São Paulo (16/5), Porto Alegre (18/5) e Rio de Janeiro (21/5), cidades pelas quais ou anteriormente.
Nascido no Porto, Norte de Portugal, onde vive até hoje, Abrunhosa, de 64 anos, já atingiu três décadas de carreira discográfica. Seus dois primeiros álbuns, “Viagens” (1994) e “Tempo” (1996), lançados com o quarteto Os Bandemónio, o tornaram grande. Por esses trabalhos, ele recebeu nove discos de platina em Portugal. Tem 15 álbuns lançados, oito deles de estúdio.
Voz grave
A voz é grave, o som é de forte influência black. Ora são canções funkeadas, ora baladas densas, melódicas. Abrunhosa chegou à música popular por outro caminho. Estudou em conservatório e só depois da música erudita migrou para a contemporânea. Posteriormente, a bordo de um baixo, dedicou alguns anos ao jazz.
Só mais tarde abraçou a carreira solo, até 2010 com Os Bandemónio e depois com o já citado Comité Caviar, que o acompanha no Brasil. Durante esse tempo todo, uma coisa não mudou: ele está sempre de óculos escuros, tal como uma segunda pele.
Compõe as próprias canções. “Gosto muito de escrever para os outros. Sou mais compositor, escritor, do que cantor. Adoro ouvir minhas músicas na voz de quem sabe cantar”, diz ele. Abrunhosa tem prestígio entre seus pares brasileiros. Maria Bethânia já gravou duas canções dele.
Parceiros brasileiros
“Um dia, mandei meu representante para falar com alguns intérpretes (brasileiros). Bethânia foi a primeira que olhou para as músicas com ouvidos de ouvir. Ela percebeu a densidade poética. Um dia, estava no Porto e fui surpreendido quando a rádio tocou ‘Balada de Gisberta’. Depois gravou ‘Quem me leva os meus fantasmas’. Faz duas semanas que enviei mais duas músicas que ela irá gravar”, conta Abrunhosa.
Em seus discos, ele gravou com Lenine, Ney Matogrosso, Sandra de Sá e Zélia Duncan. Em “Canções d’além mar” (2020), álbum dedicado à canção portuguesa, Zeca Baleiro gravou “Tu não sabes”, de Abrunhosa. “(Destes cantores) A relação mais próxima que tenho é com Lenine. Quando ele começa a gravar uma música minha, percebo que foi feita para ele, e não para mim.”
Ainda que venha, de quando em vez, ao Brasil desde os anos 1990 – produzida pela Globo entre 1997 e 1998, a novela “Por amor” incluiu a canção “Se eu fosse um dia o teu olhar” – Abrunhosa cita Chico Buarque ao falar sobre a sensação que tem em relação à turnê que estreia amanhã no país.
“Me recordo de uma entrevista dele, quando se apresentou no Teatro Colón, na Argentina. Disse que, quando você chega num país onde é menos conhecido, as coisas ‘piam mais fino’ (expressão portuguesa que significa falar mais baixo). É mais difícil você tocar um público que não conhece seu repertório. Além do mais, o público brasileiro é muito festivo, atento ao ritmo, ao balanço. Muito do meu repertório está no ambiente da canção, mas vou equilibrar os dois momentos.”
Sobre a música popular, Abrunhosa diz que atualmente gosta de coisas mais serenas. “Mais próximas de Leonard Cohen, já que meu tom mais grave fica bem nesse registro. O pop está indo por caminhos em que muitas vezes conta mais o espetáculo, os fogos de artifício do que a música. Tem coisas fascinantes, mas a minha canção está muito alicerçada na palavra”, afirma.
PEDRO ABRUNHOSA
Show nesta quinta-feira (15/5), às 20h30, no Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia). Ingressos a partir de R$ 120 e R$ 60 (meia). À venda na bilheteria e no Sympla.