Remake de 'Vale tudo' tem acertos e alguns erros. Mas cadê Odete?
Primeira semana da novela teve boas interpretações e belos momentos no Rio e em Foz do Iguaçu, mas houve pequenos deslizes, como cenas totalmente dispensáveis
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Siga noA espera acabou. O remake de “Vale tudo” está no ar e, por ora, não há o que reclamar da qualidade dos primeiros capítulos da novela, a grande aposta da Globo na comemoração de seus 60 anos.
Ainda que a versão original da história de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères tenha elenco imbatível e texto primoroso, a versão de Manuela Dias exibe boas interpretações de Taís Araújo (Raquel, a mãe batalhadora), Bella Campos (Maria de Fátima, a filha sem um pingo de caráter), Paolla Oliveira (Heleninha, que luta contra o alcoolismo) e Alexandre Nero (o inescrupuloso empresário Marco Aurélio).
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O público não poupa críticas a Bella, que se saiu bem em momentos cuja carga dramática não exige muito da intérprete.
Porém, a discussão com o avô (Antônio Pitanga), no capítulo de estreia, mostrou que é preciso redobrar cuidado e dedicação em cenas dessa natureza.
Quem está ligado na novela quer mais. E espera a chegada de Odete Roitman (Débora Bloch), a grande vilã desse folhetim e da teledramaturgia brasileira. Será preciso paciência, pois ela só deve dar as caras na última semana de abril.
Sob direção de Paulo Silvestrini, que deu agilidade a cenas da primeira semana, com imagens arrebatadoras de Foz do Iguaçu e do Rio de Janeiro, a espera tem tudo para ser prazerosa.
Manuela Dias exibiu bons acertos. As cenas em que Maria de Fátima se vinga do taxista picareta e de Aldeíde (Karine Teles), com medo de ser demitida, levando para casa pacotes de guardanapos de papel, são a prova de que o torto jeitinho brasileiro continua atual, quase 40 anos depois da estreia de “Vale tudo”.
Porém, já se percebem pequenos deslizes que tornam cenas inverossímeis. Em pleno 2025, não dá para acreditar que o pai vai ligar para o telefone fixo da empresa para saber como vão as coisas no primeiro dia de trabalho do filho.
Nem com o talento do respeitado ator Luiz Melo, de volta às novelas como Bartolomeu, pai de Ivan (Renato Góes), deu para levar a sério a situação.
A preocupação de Ivan com o pai, como se fosse um senhorzinho carente de atenção, também não cola. Bartolomeu tem 70 anos e está muito bem de saúde – física e mental.
Sem atualizações oportunas, o remake seria apenas a reprodução do folhetim original. Manter a empresa da família Roitman no setor aeronáutico foi um escorregão. Há possibilidades modernas, como uma big tech.
O grande acerto nas atualizações foi registrado no primeiro capítulo, quando Maria de Fátima revida o tapa que levou do pai, Rubinho (Júlio de Andrade), durante discussão acalorada.
Desafios à vista
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A grande questão é saber se “Vale tudo” vai se equilibrar entre a audiência de quem não desgrudou os olhos da telinha nos anos 1980 e o público do século 21, sem paciência para longas tramas. O alerta vermelho já está aceso na Globo.
No terceiro capítulo, exibido quarta-feira, “Vale tudo” perdeu para “Mania de você”, um dos maiores desastres do horário das 21h, e para “Um lugar ao sol” (2021). A trama de Manuela Dias ficou com 21,8 pontos de média, de acordo com dados da da Grande São Paulo. Cada ponto corresponde a 77.488 domicílios. “Um lugar ao sol” registrou média 23,0 e “Mania de você”, 22,2 pontos.
Ainda é cedo para julgar “Vale tudo”, mas existe o temor de que o fantasma de “Babilônia (de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga) assombre o remake. Exibido em 2015 para comemorar os 50 anos da Globo, aquele folhetim deixou (muito) a desejar. Por enquanto, vale torcer pelo sucesso da “novela das novelas”.