Regina Teixeira da Costa
Regina Teixeira Da Costa
EM DIA COM A PSICANÁLISE

Eu só existo no olhar do Outro?

Livro dos psicanalistas Ana Suy e Christian Dunker oferece uma boa reflexão sobre o prazer e a dor que acompanham a experiência humana de se apaixonar

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Este livro é indicado para pessoas que têm a coragem de se explorar e se descobrir naquilo que é estranho, desconhecido, infamiliar e intimidador. De buscar o diferente, o que no Outro lhe causa desejo. Um traço sutil reconhecido no Outro, talvez algo de seu ali lançado.

A pergunta que percorre o livro “Eu só existo no olhar do Outro?” (Paidos/Planeta) nasceu da conversa entre dois psicanalistas sobre o amor e a existência. Ana Suy e Christian Dunker conversam com leveza. Um bom “papo cabeça”.

Ana Suy é psicanalista, professora, escritora, doutora em pesquisa e clínica em psicanálise pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Autora de “Amor, desejo e psicanálise”, “Não pise no meu vazio”, “A gente mira no amor e acerta na solidão” e “As cabanas que o amor faz em nós”, entre outros títulos.

Dunker é professor titular de psicanálise e psicopatologia no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), pós-doutor pela Manchester Metropolitan University, analista membro da Escola dos Fóruns do Campo Lacaniano, duas vezes agraciado com o Prêmio Jabuti, articulista da Boitempo Editorial e do Tilt-UOL, youtuber e coordenador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP. 

Autor de mais de 100 artigos científicos, Dunker tem uma dúzia de livros publicados, entre eles o best-seller “Lutos finitos e infinitos”, “A reinvenção da intimidade” e “O analista e o palhaço”.

Desse encontro produtivo só temos a ganhar, embora a pergunta possa parecer difícil de responder. Afirmam os autores: “Nos descobrimos 'nós mesmos' quando nos reconhecemos no olhar do Outro”. 

No reflexo no olhar, que é espelho, nos descobrimos corpo, nos jubilamos e nos apropriamos de nossa imagem. Portanto, viemos do Outro, nos encontramos em seu olhar e dessa relação decorrem todas as outras. Sempre nos buscamos lá, no Outro. 

A vida é como o teatro, atuamos nos representando, como no brincar infantil. Não sabemos completamente quem somos, há um buraco nesse autoconhecimento, muitas vezes sustentamos uma impostura, um autoengano. Quando fazemos análise, buscamos uma “volta a si”, como se perdidos perseguíssemos nossa verdade última. 

Nem tudo é fingimento? Não, nem tudo é teatro, existem o amor e a solidão. 

No amor, sempre que pensamos conhecer alguém, alguma coisa sempre fica fora. O amor tem uma pitada narcísica, somos atraídos por um invisível, que, segundo Freud, pode ser apenas o brilho na ponta do nariz, que nos atrai e reconhecemos porque encontramos no Outro o que desejamos ver. Por isso, são muitas entrevistas para não se apresentar ao Outro, e, dizem os autores, conhecer alguém é sempre fazer o luto pelo que queríamos que ele fosse e ele não é.

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Nossa primeira versão é sempre pior do que a segunda. Achamos que temos uma essência que vamos encontrar, é o engano do autoconhecimento. Ela não é localizável, tem algo meu no campo que é do Outro, um pedaço, um objeto “a” que você não quer encontrar, mas vem em cima de você, te importuna e causa “atraência”, uma ânsia do Outro. 

A gente acredita que está no controle, só que não. Você quer o que deseja? Ou deseja, mas Deus me livre... A felicidade não é garantia de nada, há uma fragilidade, podemos sofrer perdas, sabemos disso. Somos vulneráveis e desamparados, não neguemos. Outra questão discutida: é preciso amar a si mesmo antes de amar o Outro?

Queremos a verdade, mas não amos nem um grama dessa substância... corrosiva e amarga. Isso é trágico no amor e na intimidade. A perda do amor é como perder a terceira perna, disse Lispector. Nossa insegurança vem do pensar que eu não posso me perder, que tenho de saber quem sou. Tenho de me impor a mim e ao Outro. 

Essas são apenas algumas provocações, encontraremos muitas mais neste livro recém-lançado, que oferece uma boa reflexão sobre o prazer e a dor que acompanham a experiência humana de se apaixonar, e quem se apaixona tem a melhor versão idiota de si mesmo com o Outro. Então, para os apaixonados, amantes e amados, é bom saber um pouco mais sobre o que não tem conserto nem nunca terá. 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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