
O sentimento humano
Muitas de nossas vivências promoveram tamanho quantum afetivo e pulsional, que ele rompe, arromba nossos limites
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

O sentimento humano é intrigante. Ele é nosso guia, porém, muitas vezes pode nos desorientar. Quase nunca itimos que os sentimentos nem sempre se ancoram em fatos. Eles podem ser desencadeados por pensamentos e pelo imaginário desassociado da racionalidade. Interpretamos tudo como nos convém, ou como nos é possível, de acordo com nossas experiências do ado ainda não superadas ou incompreendidas.
Ou seja, damos uma tonalidade sentimental ao que vivemos. Ao que imaginamos, porque o imaginário tem capacidade de parecer concreto como cimento – portanto, é sentido como verdade, como se fato fosse.
Leia Mais
E, até certo ponto é, por seus efeitos em nós; ele ganha corpo nos oferecendo explicações mentais, justificativas ficcionais. Provoca um erro de interpretação muito comum, porque envolve reações emocionais, isto é, sentimentos compatíveis com o pensado e irrazoáveis. Por exemplo o medo nos paralisa, como se estivéssemos diante de um paredão. Porém, ao enfrentarmos nossos fantasmas, com um sopro o paredão se torna nuvem. Evapora.
Muitas de nossas vivências promoveram tamanho quantum afetivo e pulsional, que ele rompe, arromba nossos limites. Pulsão é a energia entre somático e psíquico, que sai do corpo em direção aos objetos da realidade e retorna ao corpo, contorna os objetos, mas não pode apreendê-los, capturá-los, e retorna ao corpo vazia, é um movimento constante.
Quando o quantum energético é superior ao que podemos ar, chamamos trauma. Faz marcas afetivas. Da infância até o presente, ficam marcados em nós muitos acontecimentos que extrapolaram nossa capacidade de elaboração e compreensão, apenas fizeram erosões que, ativadas, despertam esse conteúdo. O imaginário acode inventado estória.
A resposta é sofrimento, um afeto dissociado da ideia, da causa primeva, como overdose, pela presença do real. A grande dificuldade dos juízos de valor que fazemos das coisas é que o sentimento embaça. Nem sempre acompanhado de prova da realidade. Daí, muitas dificuldades. E quem disse que viver é uma coisa simples?
Disse Guimarães Rosa que a ânsia nos faz querer o que de fato não queríamos. Nos faz falar do que devemos calar. E assim, desajeitados do desejo, sem saber nadar nas águas turvas de verdades múltiplas, nada cristalinas, ainda nos devemos atos de coragem, apesar do perigo.
Vamos errantes e divididos pelo que não sabemos, que sabemos e se oculta em nós e, ainda assim, lançamos os dados numa aposta sem garantias. Sem isso, não entramos na vida. Nos camuflamos onde ninguém nos possa ver, Imaginando que verão o feio, o ruim, o lado oculto antissocial, nos culpamos, e, do que nem sabemos, deixando restos, rastros e efeitos. Não sabemos, mas o inconsciente sabe. É o insabido que se sabe; seria o que nomeamos intuição, talvez?
Esse saber escondido da ciência não deixa de se apresentar por debaixo do pano, do olhar de que fugimos, da indignidade que acolhemos, da alma humana cheia de pegadinhas que tememos.
Crimes e desentendimentos ionais acontecem assim. Do ciúme decorre uma explicação paranoica de traição e desconfiança, que leva quem entra em delírio decorrente do imaginário despertado e desencadeado ao feminicídio, fratricídio, parricídio, etc. A inveja – que é uma prova de iração, não se inveja o desvalor – pode gerar reversão, rancor, ódio e o desejo de causar prejuízo ao que tem o que não posso ter.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Concluo alertando para o respeito máximo à nossa experiência de ser humano, pois derrapamos facilmente e, caso nos falte senso ético, entramos em caminhos tortuosos da pulsão mortífera que nos habita inevitavelmente. Felizmente, no melhor dos casos, as pulsões de vida caminham com elas e podem amenizar o tombo.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.