Lula reafirma desejo de reeleição e teme vitória da oposição no Senado
Favoritismo eleitoral do petista está em xeque, devido à desaprovação do governo e às articulações para que Tarcísio de Freitas seja candidato à Presidência
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“Se eu estiver bonitão do jeito que estou, apaixonado do jeito que estou e motivado do jeito que estou, a extrema direita não volta a governar este país”, anunciou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, domingo, no congresso nacional do PSB, ao lado do prefeito do Recife, João Campos, que tomou posse no comando a legenda. Lula falou por quase uma hora, reafirmou seu projeto de reeleição e defendeu a união entre os dois partidos de esquerda em 2026.
Para bom entendedor, ao comparecer ao congresso do PSB, Lula sepultou as expectativas dos aliados de centro-esquerda de que pode desistir do vice-presidente Geraldo Alckmin na chapa da reeleição. Nos bastidores da base governista, aliados do MDB defendem a indicação do governador do Pará, Helder Barbalho, para o lugar do ex-governador paulista.
Mesmo antes da posse de João Campos no comando da legenda, a cúpula do PSB já havia manifestado a posição de que deseja a manutenção de Alckmin na vice. No seu primeiro discurso como presidente da legenda, Campos destacou que a aliança entre Lula e Alckmin é estratégica e foi fundamental para a vitória nas eleições presidenciais de 2022.
A grande preocupação de Lula revelada no encontro foi com a eleição ao Senado, onde a oposição tem reais condições de formar maioria, ainda que Lula seja reeleito. Formar essa maioria é um objetivo claro das articulações que estão sendo feitas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Caso consiga formar maioria no Senado, a oposição tentará promover o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O principal alvo é o ministro Alexandre de Moraes, relator das ações que tramitam na corte sobre a organização de um golpe de Estado depois das eleições de 2022 e da que investiga a disseminação de fake news por extremistas de direita nas redes sociais.
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“Precisamos eleger senadores da República. Precisamos ganhar a maioria do Senado, porque, senão, esses caras [bolsonaristas] vão avacalhar a suprema corte. Precisamos preservar as instituições que garantem a democracia neste país. Se alguém for destruir aquilo que a gente não gosta, a gente não vai salvar nada”, disse Lula.
Embora os chamados “incumbentes” sejam favoritos quando disputam a reeleição, o próprio Lula, em 2022, mostrou que a vantagem estratégica de estar à frente do governo pode ser volatilizada numa campanha eleitoral polarizada, na qual a rejeição a a ter um peso maior do que qualquer outro fator na decisão do eleitor.
Foi o que aconteceu com Bolsonaro ao final do primeiro mandato, sobretudo por causa de seu negacionismo antivacinas, principalmente durante a pandemia, e das suas atitudes antidemocráticas e misóginas, que afastaram do ex-presidente os setores liberais e a maioria do eleitorado feminino.
Polarização
Embora se considere “bonitão”, “apaixonado” e “motivado”, Lula está com seu favoritismo eleitoral em xeque, por causa do índice de desaprovação do governo e das articulações do empresariado paulista para que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seja candidato à Presidência.
Bolsonaro, que mantém sua candidatura mesmo estando inelegível, até agora, refuga a possibilidade de retirá-la em favor do governador paulista. Sem o apoio decisivo de Bolsonaro, Tarcísio não deixará o Palácio dos Bandeirantes para concorrer à reeleição contra Lula, apesar da possibilidade de obter o apoio de outros pré-candidatos de centro e de direita, como os governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD); de Goiás, Ronaldo Caiado (União); e de Minas, Romeu Zema (Novo). Sem Tarcísio, todos pretendem manter suas candidaturas.
Esse cenário aumenta as possibilidades de Jair Bolsonaro levar ao segundo turno, sozinho, um candidato que tenha seu sobrenome, como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que aparece competitiva nas pesquisas. Ou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está licenciado mas atua nos Estados Unidos junto ao Congresso norte-americano, contra o ministro Alexandre de Moraes.
Esse cenário polarizado dificulta a chegada de um candidato de terceira via ao segundo turno. Mesmo sendo réu no processo da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, Jair Bolsonaro continuará percorrendo o país e articula candidaturas aos governos estaduais e ao Senado. Com a polarização, a defesa da democracia será uma linha divisória inescapável no segundo turno.
Não foi à toa que o novo presidente do PSB, em seu discurso, foi enfático quanto à posição do partido em apoio ao governo: “Não existe partido sem democracia. Não existe justiça social sem democracia. E é papel de quem compreende isso ajudar a fazer um governo dar certo e ajudar a vencer uma eleição importante e estratégica, como será a de 2026. Não vamos titubear. Não vamos brincar com nada disso em nenhum estado brasileiro”, salientou.
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João Campos é um ator político que defende a ampliação das alianças eleitorais de Lula para além das forças de esquerda: “Vamos trazer quem pensa diferente. Vamos trazer quem quer fazer o bem, mas não sabe como. Vamos mostrar que o nosso partido está pronto para colher uma grande frente política e vamos consolidar uma vitória democrática nos estados brasileiros e no nosso país, em 2026, ao lado do presidente Lula”, disse.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.