Bebel Soares
Bebel Soares
PADECENDO

Sexo frágil

Gostaria muito de não precisar continuar falando sobre violência de gênero, mas não cabe a mim o silêncio

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Em São Paulo, Bruna Oliveira da Silva, de 28 anos, desapareceu quando voltava para casa. Foi encontrada morta e com sinais de violência sexual. No Rio Grande do Sul, foram 10 casos de feminicídio na Semana Santa. Em apenas 24 horas, seis mulheres foram assassinadas, Raíssa Müllem, de 21 anos, Juliana Proença, de 47, Patrícia Viviane de Azevedo, de 50, Jane Cristina Montiel Gobatto, de 54, Simone Andrea Meinhardt, de 49, e Caroline Machado Dorneles, de 25, estava grávida de três meses.


Bruna não morreu porque estava voltando para casa sozinha à noite. Bruna morreu porque era mulher e porque homens acham que podem perseguir, atacar, estuprar e matar mulheres se estiverem andando na rua sozinhas à noite. Bruna foi morta porque era mulher. Câmeras de segurança registraram um homem a seguindo e a atacando quando ela voltava para casa. Bruna era mãe de uma criança de 7 anos. Raíssa, Juliana, Patrícia, Jane, Simone e Caroline morreram porque disseram não a homens frágeis que não sabem lidar com a rejeição. A masculinidade está em crise e quem paga por isso são as mulheres.


Sobre a masculinidade frágil, Jairo Carioca de Oliveira, doutorando em educação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, pesquisador Capes em sexualidades e gênero pelo LEGESEX/UFRRJ, coordenador do coletivo de pesquisa ativista em psicanálise, educação e cultura, e membro da Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro, escreveu:


“Não sei vocês, mas eu ando cansado dessa baboseira viril, desse masculinismo de brotheragem e desses coaches de testosterona recheados de pânico moral do homem-frágil. Uma epidemia de masculinidade em crise, disfarçada de autoconhecimento. Meninos se fantasiam de guerreiros espirituais, se agarram a discursos pseudocientíficos sobre energia masculina, neurociência de botequim e biologia evolutiva como se fossem verdades absolutas pinceladas com psicanálise de cursinho de fim de semana. É o retorno do macho-alfa, agora em podcast, fingindo profundidade com frases de coach e testosterona emocional.


Esses sujeitos se escondem atrás de uma mistura grotesca de darwinismo mal digerido com frases de efeito do tipo ‘o cérebro masculino foi feito para liderar’ e ainda citam ‘neurociência’ com a profundidade de uma poça d’água para justificar abandono afetivo, misoginia, e uma completa inaptidão para lidar com o próprio afeto. O problema real, no entanto, é que muitos homens confundem igualdade com ameaça e sensibilidade com fraqueza. O discurso é raso, violento e oportunista.


Enquanto isso, o Brasil segue como o quinto país mais violento para mulheres. A cada seis horas, uma mulher é assassinada. Mas esses homens se ofendem com a palavra patriarcado e falam em ‘ressignificar o masculino. O que propõem é um retorno à Idade Média dos afetos. Essa nova onda de masculinidade reativa o sintoma de um patriarcado em crise: quando o domínio não é mais naturalizado, ele se torna histérico.


Esses discursos enriquecem os charlatões. Não estão despertando, estão em fuga, aterrorizados com a insignificância do pequeno pipi. Não querem mudança, querem revanche. O tempo não volta. E quem tem medo da liberdade do outro, é porque nunca soube o que fazer com a sua.”


Gostaria muito de não precisar continuar falando sobre violência de gênero, mas não cabe a mim o silêncio. Ninguém vai trazer as Brunas, Raíssas, Julianas, Patrícias, Janes, Simones, Carolines de volta. Quem vai trazer a nossa paz? Quando vamos poder deixar de ter medo? Quando os homens vão olhar para as mulheres e ver pessoas e não corpos para serem usados e descartados? Bruna morreu do jeito que ela mais temia, do jeito que toda mulher mais teme. À medida que avançamos em direitos, a masculinidade se fragiliza e fica mais agressiva. Os homens não conseguem itir que ocupemos os mesmos espaços. Não conseguem dominar, agridem. O sexo frágil é o sexo masculino.

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