Bebel Soares
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PADECENDO

Estupro e o desejo de violência

Eles têm em comum a crença de que as vítimas vão ter medo ou vergonha de denunciar e eles ficarão impunes

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Um homem é estuprado em uma briga de torcidas em Pernambuco. Vídeos mostram a vítima sendo atacada por torcedores. O homem foi despido e violentado sexualmente com o uso de uma barra de ferro, madeira, não sei que material. Não assisti ao vídeo, evito ver essas coisas, mas vi várias notícias.

 

 


Estupro nunca é sobre desejo, é sempre sobre violência, dominação e poder sobre o outro, seja ele homem ou mulher.


O psicanalista Contardo Calligaris, em entrevista à TV Sesc em 2018, explica: “O estupro não tem nada a ver com desejo sexual. Tem mil maneiras de explicar o mistério que constitui o estuprador”. (...)

 

 


Nós continuamos pensando sempre em registros errados tipo: “O cara que vê a mina todos os dias e a deseja imensamente. O desejo é tão forte que o cara não se aguenta”. Não tem nada a ver.


Um estupro se trata de muitos desejos - pode ser o desejo pela própria violência, o desejo de controle, mas não tem nada a ver com desejo sexual. Então, nesse sentido, a investida de quem deseja o outro é de uma natureza completamente diferente da violência.


O caso do estupro de um homem durante uma briga de torcidas ilustra a fala do psicanalista. Não tem nada a ver com desejo sexual e sim com o desejo pela própria violência, o desejo de diminuir o adversário. O caso das torcidas também nos ajuda a entender que, para cometer esse tipo de crime, não é necessário ter um pênis, não é necessário ter ereção. Um estuprador pode usar outras partes do corpo e até objetos. É possível usar somente palavras; lembremo-nos que atualmente temos casos até de estupro virtual.

 


Mulheres são estupradas usando saias curtas, usando calça, usando burca, até mesmo usando fraldas. Mulheres são estupradas pelos próprios maridos: temos o caso emblemático da sa Giselè Pèlicot, que foi dopada pelo próprio marido para ser violentada por outros homens. E o marido ainda gravava os estupros.


Mulheres são estupradas até em consulta médica - vide o caso recente do médico que foi preso no dia 4 de fevereiro em Itabira/ MG, após ter sido apontado como suspeito de estupro por uma paciente com câncer de mama. Depois da primeira denúncia, outras mulheres procuraram a Polícia Civil para denunciar o mastologista por abusos. As vítimas são pacientes e funcionárias do hospital onde ele trabalhava e deveria exercer sua profissão. Podemos observar a relação com o desejo de controle.


O que os estupradores têm em comum? Eles são pessoas comuns, não são monstros, eles têm amigos, têm família, têm vida social, têm emprego e até podem gostar de futebol. Além disso, eles têm em comum a crença de que as vítimas vão ter medo ou vergonha de denunciar e eles ficarão impunes.


Acontece que a vergonha está mudando de lado, como profetizou Gisèle Pèlicot, que também disse: “Está na hora da sociedade machista, patriarcal que trivializa o estupro, mudar”. Hoje nós temos coragem e denunciamos, e quando uma denuncia, outras tomam coragem e denunciam também. A primeira denúncia acaba encorajando outras vítimas.


Mulheres aprenderam a duvidar de abusos sofridos, e tinham vergonha de contar, muitas vezes até para si mesmas, da violência sofrida. Era um tabu, mas está deixando de ser. Acredito que termos coragem de falar seja um o importante para que a mudança comece a acontecer.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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