
Estrangeirismo na imprensa
Uso de palavras em outros idiomas, sobretudo inglês, é tão exagerado que chega a comprometer a compreensão da notícia
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Há muito tempo, na época em que eu ainda viajava, li em um jornal francês que o uso de palavras estrangeiras estava proibido nas matérias ali publicadas. Isso em um jornal francês, quer dizer, com leituras internacionais.
Hoje, não sei como estão as coisas, pois não vejo nada da imprensa sa. Se algo assim acontecesse por aqui, muitos fornecedores de matérias para jornal não saberiam o que escrever. Há notícias que pedem dicionário para serem entendidas.
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Acho curioso o problema ocorrer com a língua portuguesa, uma das mais ricas entre as que conhecemos..
Vejo isso todos os dias, nos mais variados graus. Como imagino que ainda consiga fazer ligações entre o português e o inglês – um dos idiomas mais usados –, há notícias cujo teor o longe de entender.
A mania de usar termos estrangeiros nos textos de jornal, até onde posso avaliar, começou com força nas crônicas e colunas sociais, que, aliás, vêm desaparecendo do mapa.
Madames da sociedade (então conhecida como society) ganhavam todos os adjetivos que mereciam em outras línguas. Nenhuma delas era só bonita ou bem-vestida, recebia bem, estava amando ou se casando. Cada jornalista tinha seu jargão próprio e quem não merecia tal reconhecimento se achava inferiorizado.
Alguns cardápios de restaurantes caros só usavam inglês ou francês. Quem não entendia ou não tinha coragem de perguntar ao garçom sobre o prato, ou então ao maitre (olhem aí o francês), comia gato por lebre. E tinha que gostar...
Há alguns usos aceitáveis da língua estrangeira nos jornais, porque significam alguma mudança em seu país de origem.
Isso acontece, por exemplo, nos lançamentos de moda, quando cada costureiro batiza sua produção. É claro que se trata de um uso apenas para definir a peça ou o estilo, palavras essas que já caíram no domínio mundial. Estilistas brasileiros usam muito tais jargões, quando nada para dar importância à sua criação.
O negócio é que o exagero se transforma em pseudosofisticação, mais chegada à chatura.
Quem usa tais derivativos quer ar a imagem de conhecedor dos rituais da sociedade. Há pessoas que só cumprimentam ou felicitam amigos em inglês, pois acreditam que assim vale mais, é mais bacana, mais atual.
Há casos em que o voo é tão alto que convites para casamento vêm em inglês. Ou então se escreve, nesse idioma , onde será a recepção e até para informar que os noivos abrem mão do presente, cujo valor pode ser doado a campanhas beneficentes.
Um reparo: o exagero no uso de termos estrangeiros também pode ser computado à tecnologia, que invade desde os telefones manuais até grandes feitos mundiais.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.