
Os poemas de Charles Simic reunidos em “Meu anjo da guarda tem medo do escuro” (Todavia) oferecem ao leitor brasileiro a oportunidade de travar contato com um dos mais importantes poetas de língua inglesa em atividade. Escolhidos em coletâneas de versos publicadas em um período de 30 anos (de 1983 a 2013), os 33 poemas constituem um retrato preciso e revelador da poética deste curioso autor, que nasceu em Belgrado, na Sérvia, em 1935 e vive nos EUA desde 1954.
A poética de Simic é um caleidoscópio de referências extremamente original, que provoca e inquieta sem, entretanto, ceder a enquadramento rígido em nenhuma corrente ou movimento estético. Pela posição específica de poeta exilado e reconhecido e pela dicção distinguida que inventa, Simic é um raro e bem-sucedido caso de outsider laureado. A partir dessa condição, sua poesia dá vazão a uma consciência lírica que estrutura um olhar mítico que tem obsessão pelo mundo dos homens, pela história. Emblema desse verdadeiro projeto poético votado a perscrutar a desolação com lentes de inquiedtude é o belíssimo poema “Os cubos de gelo estão em chamas”, em que uma mulher que a cubos de gelo na face cálida é o centro de uma cena sufocante.
A poesia de Simic é pródiga na construção de cenas sumárias e precisas, as quais, voltadas ao registro poético da violência, constituem verdadeiros antimonumentos à história. Um primeiro aspecto estrutural dessas cenas deve-se aos seus “inesperados padrões imagéticos”, que explodem de modo radical, por exemplo, num poema, “Departamento de Monumentos Públicos”. Simic sempre surpreende pelo insólito das correlações estabelecidas entre referenciais de origens muito distantes, que são postos, pelo ordenamento lírico, sob uma mesma atmosfera desconcertante.
O que aumenta a sensação de desconcerto nesses casos é o caráter acachapante das imagens, construídas através de um esforço intenso de economia de recursos formais. O resultado, assim, são associações imprevistas e lancinantes que dão corpo a um posicionamento político radical e essencialmente crítico da vida contemporânea. O melhor da poesia de Simic, salvo engano, nasce deste núcleo de intensidade imagética, que é uma constante orientada para a amplificação de possibilidades expressivas do gênero lírico. Uma tal intensidade vincula, de modo determinante, a poesia de Simic ao chão da vida, como no poema “Noite de ventania”: “Este mundo velho precisa de uma escora”.
O que aumenta a sensação de desconcerto nesses casos é o caráter acachapante das imagens, construídas através de um esforço intenso de economia de recursos formais. O resultado, assim, são associações imprevistas e lancinantes que dão corpo a um posicionamento político radical e essencialmente crítico da vida contemporânea. O melhor da poesia de Simic, salvo engano, nasce deste núcleo de intensidade imagética, que é uma constante orientada para a amplificação de possibilidades expressivas do gênero lírico. Uma tal intensidade vincula, de modo determinante, a poesia de Simic ao chão da vida, como no poema “Noite de ventania”: “Este mundo velho precisa de uma escora”.
Conforme destaca o poeta e tradutor Ricardo Rizzo no “Posfácio” da obra, uma “mediação central” da poética de Simic seria a experiência da migração forçada, a qual convoca para o âmbito dos textos tanto a condição de emigrado, refugiado ou perseguido quanto um quadro de dicotomias altamente produtivo marcado pelos âmbitos da vida adulta na América e da infância na Europa em guerra. Rizzo lança, então, uma hipótese intensa e abrangente sobre o significado contemporâneo e histórico da poesia de Simic: “O percurso dessa poesia não estaria definitivamente marcado pela experiência de ser bombardeado">