
O profissional conta que, inicialmente, procurou o TJMG para tentar uma vaga de auxiliar istrativo anunciada pela instituição. O posto, no entanto, já havia sido preenchido.
“Daí eu vi que restava uma outra vaga, para trabalhar na limpeza. Não tive dúvidas, fui lá e aceitei. Primeiro, porque eu estava determinado a trabalhar no TJ de qualquer jeito. Eu já havia começado o primeiro período curso de direito, mas tive que trancar por falta de dinheiro. O direito sempre foi o meu lugar e eu queria ficar próximo do meio. E é claro que eu também precisava sobreviver. Minha origem é humilde”, relembra o ex-faxineiro
A decisão abriria muitas portas a Samuel. Certo dia, enquanto limpava o estacionamento do antigo fórum de Contagem, ele relata que ouviu uma conversa do juiz Wagner Cavalieri, da Vara de Execuções Criminais, com seus colegas. O assunto era a Teoria Objetiva da Posse. Interessado no debate, o então funcionário da faxina se juntou aos servidores e defendeu seu ponto de vista.
Oportunidade 83a17

Wagner e Afonso acionaram outros magistrados da comarca para prestar apoio financeiro ao estudante, permitindo que ele retomasse os estudos. “De volta à sala de aula, consegui uma bolsa de 50%. Mas, mesmo depois disso, eles fizeram questão de seguir me ajudando até o fim do curso. Em 2017, com muita luta, finalmente, me formei. Sou muito grato por todo apoio que recebi e sinto orgulho da minha trajetória. Ainda bem que aceitei aquele emprego de faxineiro. Profissão muito digna que acabou me levando longe”, reflete Silva.
O profissional hoje atua no Procuradoria-Geral do Município Contagem como estagiário de pós-graduação e já percorre a longa maratona de preparação para o concurso de juiz. Os futuros colegas seguem na torcida por ele.
"Samuel tem grandes virtudes, é perseverante e sempre procura se aperfeiçoar. As dificuldades não o abalaram. Vê-lo graduado foi um prêmio pra mim, sensação de satisfação por ter apoiado alguém que não poderíamos perder no mundo jurídico", ressalta o juiz Afonso Andrade.
Sobrevivente 2y5m5l
Além de obstinado, Samuel Silva é um sobrevivente. Ele conta que chegou a Belo Horizonte aos seis anos com a mãe, recém-divorciada, com quem ou muitas dificuldades. “Não tínhamos onde ficar. Chegamos a dormir dentro de uma igreja. Uma vez, pulamos um muro para dormir dentro de uma residência. Até comer era difícil. Sem dinheiro, ficávamos na porta de pizzarias e padarias para conseguir comida”, lembra o pós-graduado.
Os dois acabaram acolhidos pelos padrinhos de casamento dos pais de Samuel, que moram em Contagem. O casal, que já tinha 11 filhos, adotou a criança, dadas as condições adversas em que mãe e filho viviam.
“Ganhei uma família grande, a quem também sou muito grato. Minha mãe biológica, hoje, vive no interior. Ainda não tenho condição de cuidar dela. Mas, se Deus quiser, ainda poderei”, planeja o vencedor.