Para tudo precisamos de limites. Nos colocarmos em nosso lugar e ao outro devemos o mesmo respeito. Porém, nem sempre somos, desde muito cedo, respeitados o bastante para que aprendamos tal lição.
Viemos ao mundo pelas mãos de uma mãe e, se não ela, nos cuidou alguém que a substituiu. Quem assume nosso cuidado, nos educa independentemente de laços sanguíneos. Seja quem for, é a condição de nossa sobrevivência.
Essa pessoa também traz sua bagagem subjetiva e, como nós, é herdeiro de desejo, virtudes e defeitos. O fato de nos inserir na cultura implica em também transmitir desejo. Então, dizemos que o desejo é desejo do outro. Mais tarde, possivelmente, encontraremos nosso próprio desejo na melhor das hipóteses. Ou viveremos cativos do alheio.
Educar exige algo mais. Exige que sejamos valorizados, respeitados e isso é acatarmos o sim e o não. Termos a noção do nosso lugar no mundo entre todos. Até onde podemos ir e onde devemos nos deter, e nunca ultraar. Esta linha é tênue e nem sempre bem transmitida.

No entanto, seus efeitos são claros e trarão consequências. Sofreremos mais com retificações no caminho quando mal-educados, agressivos ou desrespeitosos. Quando não aprendemos a acatar o não, negar ao outro o indevido, dar “basta” principalmente em quem amamos. Assim os respeitamos, os colocando no lugar devido quando também estamos bem posicionados.
Como filhos sofremos por acreditar que tudo é culpa nossa, que todo erro do mundo está sobre nossos ombros. Se fomos crianças levadas é que somos maus. Se tivemos dificuldades escolares, terrores noturnos e molhamos a cama até mais tarde, é por que fomos maus filhos.
Com certeza tivemos pais com seus próprios problemas e dificuldades que nem sempre nos acolheram – com isso acreditamos ser o problema –, e não itindo a eles próprios insuficiências nesta missão. Nossa presença parece incômoda e indesejável quando os decepcionamos e irritamos. Que mãe nunca se desesperou? Nos sentimos indignos de seu amor. Não que não tenha havido amor, mas é que mesmo amando somos imperfeitos e temos nossa história.
Por amor e imaturidade, jamais poderíamos itir falhas em nossos cuidadores porque eles são nosso e. Se forem fracos, falhos, consequentemente caímos em desamparo. Erigimos um grande e magnífico outro imaginário, perfeito e blindado de críticas para nossa segurança. Somos devedores e insuficientes.
Assim, a verdade se oculta e a culpa recai sobre nossa existência. Não sejamos os culpados, sejamos responsáveis. Todos temos nossa própria verdade e nossas razões são únicas e particulares. Justo aí é nosso lugar no mundo, lugar do desejo. Consonância consigo.
Andaremos cegos, e cegos não são aqueles que não podem ver, mas os que andam na escuridão. Esbarrando nas paredes, se detendo nas pedras do caminho, com os curtos e trêmulos. São os que não conhecem o chão sob seus pés, que não sabem o seu lugar. Até que se acenda uma vela, iluminando o lugar que devemos, finalmente, ocupar.
Existe apenas um lugar para cada um, e mesmo que nos tentem impedir, ninguém jamais derrotará nosso desejo. O desejo de ocupar enfim nosso lugar. O único lugar onde poderemos ser minimamente felizes.