
Para muita gente, a ceia de Natal na noite do dia 24 se assemelha a uma corrida que envolve muita comida, bebida e afobação. Eu mesma fui vítima dessa maratona durante muitos anos, até que toda a família concluiu que o melhor seria mudar o esquema.
ávamos correndo na casa de meus sogros carregando presentes, crianças e um prato de comida. Mal chegávamos lá, éramos acometidos daquela aflição que toma conta da gente só de pensar na possibilidade de nos atrasarmos muito para o Natal na casa de meus pais.
Era uma tortura esperar pelos retardatários (sempre tem ao menos um), que provavelmente teriam ficado agarrados a outras ceias. Tínhamos que elogiar pratos de comida que nem sequer provávamos porque sabíamos que além dali teríamos que sujar outro prato na ceia seguinte, que provavelmente seria logo a seguir, pouco mais de uma hora.
Sempre gostei da época do Natal, desde a ansiosa espera pelo Papai Noel, que nunca consegui ver, até hoje, quando não tenho mais ninguém a quem convencer de que ele existe de verdade. O que não gostava era do momento em si. E olha que amo uma boa muvuca, de estar cercada por gente com quem tenho intimidade para rolar de rir e usar meu acentuado tom de voz.
Primeiro conseguimos nos convencer e aos demais que o Natal poderia ser comemorado na noite do dia 24 com um braço da família e com um almoço no dia 25 com a outra ala. Assim foi durante um bom tempo.
A família do meu marido, que já era grande, seis filhos, foi crescendo cada vez mais. Tantos são os agregados que sobrinhos acabaram se deslocando para outras cidades e outros núcleos familiares. Fora o fato de que há quem tenha os pais separados, aumentando ainda mais a quantidade de peru e lombo com farofa a comer.
Começamos a comemorar o Natal cerca de uma semana antes da data oficial, assim fica mais fácil reunir um maior número de pessoas. E para minha alegria, amos a variar o cardápio. Há quem proteste e argumente que se perdeu o espírito do Natal.
Fico me perguntando o que significa esse tal "espírito de Natal". Conceito pessoal e intransferível baseado na vida e no legado de um homem que viveu e morreu há muito. Mas de uma coisa estou certa: o que ele nos deixou está além de um momento de confraternização e muito menos na dúvida entre o quê e a que horas comer. Seria reduzir demais algo que toca o coração e a alma, algo incomensurável. Feliz Natal sempre!