
"É uma expressão feia", sentencia a escritora Baby Pontello. "Top é uma palavra muito vazia para mim. Ela tenta simbolizar muitas coisas e não simboliza nada. Acho vago, sem embasamento, palavra fraca demais... Quando você fala top, é como se você colocasse um fim em todo o contexto e temos tantos adjetivos legais para usar", critica, fazendo o mea culpa por, em algum momento da vida, ter usando o adjetivo.
O poeta Daniel Cruz lembra que, com a mesma lógica do estrangeirismo, como as clássicas palavras chatas “Top” e “Coach”, "vimos o surgimento de ‘Metaverso’, da sigla ‘NFT’, e até a inclusão no nosso dicionário da chatíssima ‘home-office’".
A empresária Laila Porto Cunha não aponta uma, mas três expressões. "A verdade é que estamos vivendo um momento chato, de discussões chatas (enquanto as que de fato são importantes estão sendo negligenciadas). "É sobre isso" me arrepia, "vai ficar tudo bem" dá coceira, "resiliência" seria linda, se fosse usada com responsabilidade", opina.
O também empresário Gustavo Paulino usa como referência para sua escolha o que viveu este ano. "Para mim, saudade é uma palavra que usualmente abraça a alma. Mas ei o ano engasgado com este sentimento, sem poder transformá-lo em afeto e felicidade."
Fernanda Bicalho aponta para o “Não”. "Não pode, não deve, não é aconselhado, não é permitido… Não viaje, não vá à escola, não venha, não abrace, não encoste, não se aproxime, não se exponha, não encontre, não aglomere…", enumera, reconhecendo a falta que o “Sim” faz.
"Sou positiva por natureza e acredito na força de uma virada de ano! Que 2022 venha largo, aberto, com horizontes íntimos ampliados, reflexo de tantos ‘nãos’ que nos fizeram pensar e repensar tantas coisas ! Vamos amorosamente em frente!”, diz ela.
Antivacina
“Pelo simples absurdo que é alguém ser contra a vacinação, depois de tudo o que a ciência provou e de toda a dor global que vivenciamos enquanto nossos pesquisadores se dedicavam para alcançar uma vacina eficaz.”
>> Daniel Cruz, poeta
Bolsonaro
“E precisa justificar" seria capaz de definir quem em hipótese nos lidera.
>> Ronei Sampaio, designer
Cancelamento
“Parece que o mundo virtual ficou mais importante que nossa vida real. Não sei se isso veio de fato para ficar, mas ser cancelado por um pequeno erro ou deslize não me parece politicamente correto. Temos o dom maravilhoso do perdão, que precisa ser exercitado.”
>> Carlos Nunes, ator
Cringe
“Odeio palavra de moda.”
>> Dani Madureira, produtora
“Termo usado para tentar diminuir gostos de outra pessoa e além de tudo é na língua inglesa. Preguiça total.”
>> Luis Couto, músico
“Até que descobri o significado da chatice de ser chamado de cringe, paguei muitos micos com meus sobrinhos adolescentes. Sou cringe, não nego e já vou tomar mais um café pra ar o bullying.”
>> Vander André, escritor e estudante de filosofia
“Os usos de palavras em inglês já são uma questão complexa, mas o uso do termo para tratar de uma situação ruim ou chata, mascarada de termo descolado para falar sobre um retorno é realmente um porre.”
>> Matheus Vianna, designer
Ivermectina
“Pela busca da salvação, mesmo quando ela comprovadamente não faz sentido. Mesmo com a vacina, a insistência no uso.”
>> Guilherme Rabelo, produtor
Liberdade de expressão
“Que em 2021 ou a ser usada de modo subvertido para que gente preconceituosa, misógina, homofóbica, racista, negacionista e antidemocrática expressasse pública e cinicamente seus pontos de vista intoleráveis.”
>> Flávio Castro, fotógrafo
Mimimi
“Se você nunca esteve na pele de um negro, de um indigena, de um LGBTQI+ ou de portador de deficiencia, não pode julgar que suas reivindicações por justiça e igualdade são infundadas e vazias de sentido.”
>> Rodrigo Cezário, consultor de moda
Negacionistas
“Pessoas sem embasamento, guiadas por uma corja e que imaginam serem os donos da verdade.”
>> Vinicius Amaral, DJ
Novo normal
“Não consigo conceber esta realidade como algo normal. É o verdadeiro ‘novo anormal’. Que em 2022 tenhamos um ano realmente normal.”
>> Breno Mello, oftalmologista
“Óbito a mais chata e mais sinistra disputa, em pé de igualdade, com outra igualmente sinistra: milícia.”
>> Antônio Grassi, ator
Politicamente correto
Politicamente correto
“Ficou desgastada, gera uma falsa proteção velando o preconceito que permanece.”
>> Romney Esteves, professor de educação física
Potente
“Poderia integrar um grupo de expressões que de tanto serem usadas e para toda e qualquer situação acabam esvaziando o próprio sentido e, sobretudo, do que se quer dizer com elas. Serve também para quando não se sabe dizer realmente sobre o que foi visto. O grupo de instigante, do gigante, e outras.”
>> Adilson Marcelino, jornalista
Protagonismo
“Esta bobagem não sai de moda.”
>> Afonso Borges, produtor cultural
Quântico
“O uso indiscriminado da palavra, que está sendo utilizada para validar serviços, sem nenhum embasamento científico. Exemplo: coach quântico, bronzeamento quântico (sim, vi isso em Búzios), assessoria de moda quântica…”
>> Fernanda Mello, escritora
Terceira via
“Não existe nem nunca existiu.”
>> Paulo André, ator