Maçã se adapta bem ao clima mineiro e se torna alternativa no campo
Plantio da maçã no Sul de Minas possibilita recuperação financeira de produtores de café afetados pelas mudanças climáticas, além da diversificação da economia
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Siga noO cafeicultor Luís Celso Pedroso investiu mais de R$ 75 mil para plantar frutas e diversificar sua produção em Guaranésia, no Sul de Minas Gerais, após uma brusca redução dos lucros com o café. Entre os frutos escolhidos, a maçã se destaca pela fácil adaptação ao clima da região e a variedade de possibilidades para comercialização. O cultivo da fruta na região, onde as plantações de café predominam, é uma novidade implementada pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), que rendeu 30 toneladas na primeira safra colhida neste ano.
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Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Minas Gerais é o quarto maior produtor de maçãs do país (5,8 toneladas), no entanto, a produção fica muito aquém dos líderes do ranking: Santa Catarina (593 toneladas), Rio Grande do Sul (553 toneladas) e Paraná (26,2 toneladas). Barbacena, na Zona da Mata mineira, é responsável pela maior parcela da produção do estado. O rendimento médio das cidades produtoras é 20,6 mil quilos de maçã por hectare.
“O Sul de Minas tem sofrido bastante com geada, seca, temperaturas altas. Entre 2019 e 2025, tivemos uma queda na produção do café por fatores climáticos. Ano ado, que era pra ser bom, colhemos 97 sacas por hectare, porém, em condições favoráveis, essa colheita chega a 300 sacas por hectare. A minha propriedade é pequena, então não consigo fazer uma plantação de soja ou milho, por exemplo, por isso investi nas frutas”, contou Pedroso.
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Apesar do alto investimento, ainda não é possível mensurar o lucro. Ele conta que a primeira colheita de maçã rendeu 170 quilos da fruta, vendida para um feirante do município. A ideia é fazer os cálculos, avaliar custos e, provavelmente, aumentar o plantio na próxima safra. “As mudas que trouxemos do Sul do país se adaptaram e produziram bem para a idade. Os pés têm apenas um ano e meio, e já foi possível ver resultados. Mas temos que aguardar no mínimo três anos para ter lucro mesmo, até pela questão das mudanças climáticas e altas temperaturas”, completou o produtor.
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Além da propriedade de Luis Celso Pedroso, em Guaranésia, a Emater-MG apostou nos municípios de Alfenas, Guaxupé, Monte Santo de Minas e Aerado, todos no Sul do estado, para distribuir os 1,5 mil pés de maçãs, que foram adquiridos conjuntamente pelos produtores. As mudas de macieiras Eva e Princesa, que vieram das regiões mais frias do país, foram adaptadas para o clima mineiro, mas precisam de atenção diferenciada. “A poda tem que ser bem feita e a árvore precisa ser estimulada com um produto químico para dar a flor. Em um clima mais frio, isso não é necessário”, afirmou.
Planos para o futuro
Segundo Kleso Franco Júnior, coordenador técnico da Emater-MG e responsável pelo projeto, as variedades cultivadas foram desenvolvidas pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e escolhidas por sua adaptabilidade ao clima local, com inverno menos rigoroso que o de regiões tradicionalmente produtoras de maçã no Sul do Brasil. “A produção de maçã exige dedicação e acompanhamento técnico. No primeiro ano de colheita, algumas plantas chegaram a produzir 15 quilos de frutos por pé, o que é muito significativo para uma cultura ainda em fase de teste nas propriedades dos agricultores”, explicou.
“É uma fruta que não compete com a cultura do café em termos de mão de obra. Só vai precisar de uma mão de obra na época da poda, que conflita com a colheita do café, mas a própria família faz. A certeza que nós temos é que a cultura vai muito bem na região”, explicou.
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A princípio, a produção deve atender o comércio local e a alimentação escolar. “A gente quer fomentar o cultivo da maçã para atender o mercado institucional, feiras-vivas, os mercados, e isso pode ser uma grande alternativa para a gente ter volumes maiores e pensar em produtos processados, subprodutos do cultivo da maçã e até mesmo, quem sabe, uma possibilidade aí de comercialização para outras regiões e até no futuro, por que não a questão de exportação”, afirmou o especialista.
“A gente já tem demanda de produtores e estamos fazendo uma nova compra em conjunto neste ano para novas áreas. Em agosto, deve chegar mais uma boa quantidade de mudas de maçã para serem implantados novos pomares no Sul de Minas”, disse Kleso Franco Júnior.
Cenário nacional
A analista de agronegócio do Sistema Faemg Senar, Mariana Marotta, afirmou que as taxas de importação de maçãs são expressivas, o que impacta no preço da fruta na prateleira do supermercado. A especialista ainda destacou que as grandes produtoras de maçãs foram atingidas pelas mudanças climáticas, o que impactou nos custos de produção, mas o cenário ainda pode ser revertido.
“A safra de 2023 e 2024 sofreu uma quebra significativa devido às condições climáticas adversas que acometeram todo o país, prejudicando a floração, polinização, e favoreceu o aparecimento de doenças. Isso elevou os custos com tratos culturais e reduziu a produtividade. Para a safra 2024 e 2025, há expectativa de recuperação gradual, maior qualidade dos frutos, mas isso só se confirmará com o avanço da colheita”, afirmou.
“A gente teve uma diminuição da safra, o que fez com que aumentasse a importação da fruta, que já é uma importação significativa, mas, no ano ado, foi a maior já registrada desde 1997. É possível afirmar que não estamos em um processo de crescimento. A gente pode alcançar novos patamares, mas isso é uma coisa que pode levar um tempo”, disse.
No momento, a especialista não enxerga a produção mineira de maçãs como destaque no cenário nacional. “A gente tem que pensar como é que estão os principais estados produtores, pois eles estão aumentando a produção, que atende todo o nosso mercado interno. Quando a gente fala do preço da fruta para o consumidor final, temos que analisar o quanto isso custou para sua produção. Por exemplo, quando a gente pega um clima seco, há uma diminuição da produtividade, um aumento de tratos culturais e um aumento de cuidados que vão acarretar no custo de produção”, explicou.
Marotta destaca ainda a relevância mineira na fruticultura. “Hoje, o nosso estado é o terceiro maior produtor de banana, o segundo maior produtor de laranja. Estamos como o maior produtor de abacate, e o segundo de abacaxi. Então, a gente já é uma referência na fruticultura brasileira. Minas Gerais já é uma referência para a fruticultura”, afirmou.
“O Brasil deve manter sua relevância no mercado de maçãs com recuperação de safra e aumento da qualidade. Minas Gerais, embora ainda com participação modesta, mostra potencial de crescimento nos próximos anos, especialmente com o fortalecimento de projetos regionais e maior tecnificação”, completou Marotta.
Fruticultura em Minas
De acordo com o último balanço da Faemg, a fruticultura mineira é bastante diversificada e está distribuída em todas as regiões do estado. As principais culturas produzidas são: abacate, banana, citrus, morango, manga, mamão, além das temperadas, uvas e pêssegos. Em 2020, as frutas mineiras foram enviadas para 32 países, sendo os principais destinos: Austrália (20,8%), Estados Unidos (16,3%), Reino Unido (13,6%), Espanha (9,4%) e Portugal (8%).
Em 2023, segundo o IBGE, Minas Gerais produziu 122.348 toneladas de abacate em uma área de 7.253 hectares, concentrada no Triângulo Mineiro. O abacate Hass, também conhecido como avocado, está em processo de abertura de mercado para ser exportado para a China.
A banana atingiu 846.837 toneladas produzidas no estado e rendeu quase R$ 2 milhões à economia mineira. A lima ácida Taiti, chamada comumente de limão Taiti, também está com os processos de abertura para exportação para o mercado chinês em andamento. A produção mineira de limão, de acordo com o último Censo, atingiu 101,7 mil toneladas e rendeu mais de R$ 155 mil.
O morango, que também é destaque no Sul do estado, responsável por 90% da produção da fruta, ultraou a marca das 100 toneladas produzidas. Alfredo Vasconcelos, na região Campo das Vertentes, e Datas, no Vale do Jequitinhonha, são importantes produtores da fruta.