‘Tem cura’, diz Carmita Abdo sobre obesidade na menopausa
A especialista participou de um simpósio voltada para o impacto da menopausa no ganho de peso e o uso de medicamentos nesses casos
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Siga no“Quando se trata de obesidade, o paciente necessita de tratamentos complementares para promover mudanças multifatoriais, que incluem educação alimentar, acompanhamento psicológico e novos hábitos”, afirma Carmita Abdo, psiquiatra, sexóloga e professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), durante apresentação sobre obesidade e menopausa no XXI Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, realizado nesta quinta-feira (29/5), no Minascentro, em Belo Horizonte.
Carmita participou de um simpósio voltada para o impacto da menopausa na saúde feminina, ressaltando o papel das alterações hormonais, emocionais e sociais no ganho de peso.
A transição para a menopausa, marcada pela queda dos níveis de estrógeno, pode desencadear uma série de sintomas físicos e emocionais, como insônia, ansiedade e depressão. “É muito comum que as mulheres tenham a sensação de inutilidade nesse período, já que os filhos se tornam independentes e, muitas vezes, há menos pressões externas. Isso pode levar à compensação emocional através da comida”, explicou Carmita.
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A psiquiatra destacou que os fatores emocionais e hormonais estão fortemente interligados. “A depressão tem uma base genética e pode ser agravada por momentos de baixa fisiológica de estrógeno, como a fase lútea do ciclo menstrual, gravidez, puerpério e climatério. Já a ansiedade, embora menos influenciada por hormônios, pode ser desencadeada por gatilhos típicos desse período da vida.”
Pilares da saúde
Além de abordar o contexto emocional e hormonal, Carmita enfatizou a importância de hábitos saudáveis no enfrentamento da obesidade. Dormir de sete a oito horas por noite, manter uma alimentação equilibrada, com preferência pela dieta mediterrânea, e praticar exercícios físicos regulares são medidas essenciais.
Ela alertou para a privação de sono que afeta diretamente o metabolismo e os hábitos alimentares - podendo levar à ingestão excessiva de alimentos calóricos e palatáveis. “Esses alimentos funcionam, muitas vezes, como uma forma de recompensa, especialmente entre pacientes com baixa autoestima ou sintomas depressivos”, afirmou.
Tratamento personalizado
Para os casos mais severos de obesidade, Carmita defendeu o uso de medicamentos como recurso complementar – especialmente aqueles que atuam tanto na fome fisiológica quanto na emocional. Um exemplo citado foi a combinação de naltrexona e bupropiona, indicada para pacientes que apresentam episódios de craving alimentar – um desejo incontrolável por alimentos específicos, relacionado à dopamina e à endorfina.
“A bupropiona pode ajudar não só a reduzir o apetite, mas também a tratar a depressão que muitas vezes está associada à compulsão alimentar. Mas o medicamento, por si só, não resolve: ele precisa estar inserido em um plano de cuidado que envolva psicoterapia, educação alimentar e acompanhamento clínico”, explicou.
Nesse sentido, Carmita defendeu a integração entre médicos clínicos, nutrólogos, psicólogos e profissionais de educação física como o caminho mais eficaz para o tratamento da obesidade. Segundo ela, a escolha do exercício físico deve respeitar as preferências da paciente, garantindo aderência e prazer na prática.
Ela também destacou a crescente participação de especialistas em saúde mental nos congressos médicos. “É um reconhecimento de que a obesidade não é apenas uma questão de calorias ingeridas e gastas. É uma doença complexa, que exige um olhar humano e amplo”, disse.
Efeitos da pandemia
Durante a apresentação, Carmita Abdo também abordou o impacto da pandemia da COVID-19 sobre a saúde mental e o peso corporal. O isolamento, o sedentarismo e o aumento dos níveis de ansiedade e depressão contribuíram para a elevação dos índices de obesidade em todo o país. Para ela, esses efeitos reforçam a necessidade de políticas públicas integradas que levem em conta os determinantes emocionais e sociais da saúde.
“A boa notícia”, afirma a especialista, “é que a obesidade tem tratamento. Quando bem conduzido, com acompanhamento de equipe e compromisso do paciente, é possível, sim, reverter o quadro e conquistar mais qualidade de vida.”