Reforma ministerial e sucessão: atenção para os próximos movimentos de Lula
Com queda preocupante na popularidade, o presidente prepara mudanças na equipe e abre o debate sobre o candidato do governo em 2026
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Siga noO governo chegou a um ponto delicado, com recorde de rejeição nas pesquisas, e uma insistente inflação dos alimentos, corrosiva para os bolsos e para a popularidade do presidente da República. A menos de dois anos do fim do mandato, Lula tem o desafio de garantir a estabilidade política, avançar na agenda econômica e encontrar respostas para a insatisfação do povo antes das eleições de 2026. Nesse cenário movediço, os próximos movimentos do petista merecem especial atenção de quem acompanha os poderes em Brasília.
Para tentar reverter a fase ruim, o presidente se lança às ruas. Lula vai anunciar esta semana investimentos nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em discursos e entrevistas, deve divulgar os feitos do governo, como recomenda o novo ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, que tem pela frente a difícil tarefa de reverter a impopularidade do presidente.
Ao mesmo tempo que divulga as ações do governo, a reforma ministerial aparece como o instrumento disponível, mais imediato, para o governo reagir ao momento desfavorável. Nesse sentido, as mudanças na Esplanada serviriam para evitar a debandada para a oposição de setores descolados da polarização, principalmente no espectro do Centrão. Com a popularidade em baixa, aumentam as exigências dos partidos para participar do governo.
Se de fato forem feitas, as trocas no primeiro escalão terão entre outros objetivos estancar o fortalecimento dos adversários. Vale, portanto, observar sob esse prisma os próximos lances do presidente na direção dos partidos e dos líderes políticos.
As dúvidas sobre o candidato do governo em 2026
Acima da reforma ministerial, paira uma dúvida monumental para o governo e para a oposição: Lula será candidato à reeleição? A queda de popularidade, certamente, desestimula o petista a se arriscar a mais uma disputa pelo Planalto. A hipótese de encerrar a carreira com uma derrota, ainda mais no exercício cargo, reduz consideravelmente o interesse do presidente pela empreitada.
Na última sexta-feira, 14, o próprio Lula se encarregou de incitar as especulações sobre sua sucessão. O presidente disse que não pode mentir para ele mesmo, lembrou que tem 79 anos e que somente será candidato se estiver com a saúde 100%. Recorde-se que petista precisou se submeter a intervenções cirúrgicas na cabeça depois de uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada.
Os próximos movimentos de Lula, então, podem trazer pistas do nome do governo para chapa presidencial de 2026. Nessa perspectiva, a reforma ministerial também ajudará na amarração de alianças eleitorais para o ano que vem. A definição do candidato entra como um dos elementos considerados pelos líderes partidários nas mesas de negociações. Esse jogo já começou.
Momento favorável a Alckmin
Caso o candidato não seja Lula, quem será? Os nomes mais óbvios são Fernando Haddad e Geraldo Alckmin. Herdeiro de Lula no PT, o ministro da Fazenda tem o futuro atrelado ao desempenho na economia, com números favoráveis de crescimento do PIB e melhoras no emprego, na renda e na indústria, mas com o peso da responsabilidade sobre a alta nos preços, os juros altos e a alcunha de “taxad”.
Pelo andar da carruagem, o vice-presidente Geraldo Alckmin desponta como o mais bem posicionado dos nomes disponíveis do lado governista. Atua em total afinação com o petista, dispõe de bons resultados na indústria para apresentar e dialoga com facilidade com diferentes correntes da política, mesmo no campo conservador. Pode ser uma alternativa para ampliar a aliança, rumo ao centro e à centro-direita.
O apoio do PT a um candidato a presidente de outro partido seria inédito. Desde 1989, o partido lançou nomes próprios, e apenas três: Lula, Dilma Rousseff e Haddad. Mas o improvável também acontece na política: ninguém imaginava que um dia Alckmin seria vice de Lula, e aconteceu. Seria até um gesto de reciprocidade. As conversas sobre a sucessão estão na mesa, e Alckmin está na fila.
Prioridades do governo no Congresso
O Congresso começou o ano legislativo desacelerado, sem pautas de grande repercussão. As votações mais importantes, como a apreciação do Orçamento de 2025, ficam para depois do Carnaval. Para o governo, as prioridades são a agenda econômica e a estabilidade política.
Nesse sentido, Lula fez entendimentos com os novos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) para aprovar os projetos mais relevantes, como o da isenção do imposto de renda – embora ainda não se saiba como compensar essa queda na receita.
No ponto mais sensível, o presidente esperar contar com a firmeza de Motta e de Alcolumbre contra tentativas de processos de impeachment. Outra pauta indesejada para o governo é a anistia dos condenados pelo 8 de janeiro. Nesse caso, os discursos dúbios do presidente da Câmara deixaram algumas dúvidas sobre suas intenções, mas o Planalto avalia que se trata apenas de uma satisfação à base bolsonarista.
Problema para a oposição: as denúncias do 8 de janeiro vêm aí
A oposição também vive um momento difícil. A partir desta semana, a qualquer momento, a Procuradoria Geral da República vai enviar ao STF as denúncias contra os idealizadores da tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023. Pelo relatório da Polícia Federal, são 40 indiciados. Conforme revelado pela colunista do PlatôBR Carolina Brígido, as acusações serão fatiadas e o ex-presidente Jair Bolsonaro estará na primeira leva.
Ainda não é possível prever o impacto das denúncias no cenário eleitoral de 2026. Para o governo, porém, o avanço dos processos representam uma esperança de desgaste para a oposição, que por enquanto comemorar a queda de Lula nas pesquisas.