LANÇAMENTO

1964: os momentos que antecederam o golpe contados em imagens

Com curadoria do Projeto República, da UFMG, livro lançado em BH ilustra um país que vivera o momento que suspendeu a democracia por 21 anos

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O poder de comunicação das imagens é dificilmente igualado por outras linguagens na capacidade de ambientar o interlocutor em uma realidade distante, seja pelo tempo ou geograficamente. A aposta na potência dos ícones se mostrou bem sucedida com o livro “1964: imagens de um Golpe de Estado”, publicado neste ano pela editora do Senado Federal e com curadoria do Projeto República, do Departamento de História da UFMG.

O livro, que será lançado nesta segunda-feira (2) no Auditório Bicalho da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), no Campus Pampulha da UFMG, reúne dezenas de fotografias e reproduções de documentos, panfletos e jornais do ano em que a democracia brasileira foi colocada em um sono profundo que durou mais de duas décadas.

A organização do livro é da professora Heloisa Starling, do pesquisador Danilo Marques (ambos do Projeto República) e da economista Lívia de Sá Baião, diretora-geral do museu virtual Rio Memórias. Na obra, que pode ser ada gratuitamente na livraria do Senado, cada imagem é acompanhada de um texto que a contextualiza e ajuda a ambientar o leitor nos meses que antecederam o golpe de 1964.

A historiadora do Projeto República, Nayara Henriques, contou à reportagem sobre como se deu a ideia de reunir as imagens em um livro, originado de um trabalho realizado em parceria com o museu virtual Rio Memórias. Com um vasto acervo em mãos, os pesquisadores pensaram em expandir geograficamente o Brasil que viveu o Golpe de Estado e mostrar que o turbilhão político ia bem além da capital fluminense.

“Temos uma parceria com o Rio Memórias, e a gente fez uma curadoria para eles. Nós montamos uma galeria dentro do museu chamada ‘Rio Capital do Golpe’. Nessa pesquisa, a gente conseguiu levantar um número de imagens muito grande. Imagens inéditas. Então, ficamos com essa ideia de contar a história do golpe a partir das imagens e de uma forma a contar a história do golpe no Brasil inteiro. Às vezes, quando a gente estuda o golpe, a gente pensa muito no ocorrido no Rio, São Paulo, Brasília, mas, quando fomos levantando imagens, a gente se deu conta de várias coisas no Brasil todo, tanto é que a capa do livro é uma imagem no Recife”, diz a pesquisadora.

Além de expandir geograficamente, o livro ilustra como o golpe em si pode ser tratado como um acontecimento político complexo e fruto de um emaranhado de movimentos que agitaram o cenário do poder no país. Para Danilo Marques, um dos organizadores da obra, o objetivo é mostrar que a tomada do poder pelos militares entre 31 de março e 1º de abril não pode ser encarada como um mero rito de agem que inaugura o período ditatorial.

“A gente queria mostrar o golpe 64 como um acontecimento. Voltamos à época para mostrar quais eram as possibilidades que estavam colocadas ali. A gente, que vive 60 anos depois, sabe que o golpe de 64 terminou em 21 anos de ditadura. Mas, quem estava lá não sabia desse desfecho. As pessoas sabiam que havia uma efervescência, uma crise brutal e o ‘pau estava quebrando’ para todos os lados. A gente queria trazer um pouco desse olhar. Tendemos a ver o golpe 64 como apenas um ponto de agem para a ditadura, e a verdade é que havia muitas portas abertas ali, muitas possibilidades, e a vitoriosa foi a dos militares”, afirma o historiador.

O livro mostra como houve apoio popular aos militares em imagens das eatas ao redor do Brasil com forte componente religioso, e um assombro com a ideia do comunismo. Parte do terror se materializava nas reformas de base propostas pelo presidente João Goulart e pelo então deputado federal pelo estado da Guanabara, Leonel Brizola.

Em uma das fotografias usadas no livro, o gaúcho que migrou sua atuação política para o Rio é surpreendido em uma palestra ministrada em Belo Horizonte por um grupo de mulheres com rosários em punho e a missão obstinada de impedir que Brizola discursasse na capital mineira.

Em um clique do fotógrafo Luiz Alfredo, da revista O Cruzeiro, estão representadas a integração nacional em torno do tema das reformas, o uso da religião como orientadora política e o clima de tensão na disputa pelo poder nos dias que antecederam o golpe.

Diálogo com o presente

Um clima de disputa perene não apenas no campo político, mas no aspecto moral; a possibilidade de destituir um presidente democraticamente eleito; a mobilização popular em torno de ícones religiosos; e o temor pela instalação de um regime comunista que desindividualizaria o cidadão e operaria a barbárie na sociedade. eatas numerosas com cartazes levando mensagens como “vermelho só no batom” ou “verde e amarelo, nem foice nem martelo”.

Se a descrição acima não fosse acompanhada por imagens que escancaram os limites técnicos da fotografia da década de 1960 e os traços típicos da produção editorial da época, poderia facilmente funcionar para o contexto político do Brasil dos anos 2010 e 2020. Este efeito foi levado em consideração na produção do livro, como conta Nayara Henriques.

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“Nosso trabalho como historiador é usar o ado para entender o que está acontecendo e tentar construir um futuro diferente. É muito falsa essa ideia de que a gente vive um progresso moral contínuo. É diferente do progresso tecnológico. Realmente, 2025 é diferente de 1964, mas a movimentação política e as ameaças à democracia continuam reais. Infelizmente, temos assistido isso acontecer. As escolhas (das imagens) têm a ver com isso também, para conseguirmos dialogar com o presente”, diz a pesquisadora.

Serviço

O que: Lançamento do livro “1964: imagens de um Golpe de Estado”

Onde: Auditório Luiz de Carvalho Bicalho - Fafich- Campus Pampulha da UFMG

Quando: 2/6/2025 (segunda-feira), às 16h

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