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O apagão europeu que clareou a ilusão do controle

O apagão durou poucas horas. Ele, porém, acendeu, em silêncio, um alerta duradouro: a vulnerabilidade está mais próxima do que parece

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Luciana Zanini
Conselheira, C-Level e CFO do Inhotim

No fim de abril, a Península Ibérica mergulhou temporariamente na escuridão. O colapso repentino do sistema elétrico interrompeu trens, comunicações e serviços essenciais em duas das maiores economias do sul da Europa. Por alguns minutos, Espanha e Portugal experimentaram o que acontece quando a infraestrutura crítica deixa de responder — e o que isso significa em um continente cada vez mais tenso, vulnerável e interdependente.


Embora os primeiros relatórios apontem para causas técnicas — quedas de geração, oscilações de frequência, falhas nos mecanismos automáticos de proteção —, o episódio deve ser lido em uma chave mais ampla. O que está em jogo não é apenas a confiabilidade da rede elétrica. É a resiliência da própria ideia de Europa enquanto projeto político e civilizacional.


Tratados, declarações, atos e critérios históricos, entre eles o de Schuman e Copenhague, nos mostram que a União Europeia projetou suas estruturas sobre três promessas: integração, estabilidade e confiança nas instituições tecnocráticas. Nos últimos anos, porém, essas promessas vêm sendo testadas — pela pandemia, pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, pela instrumentalização da energia como arma geopolítica, e agora por eventos que expõem a fragilidade física da infraestrutura continental.


O apagão ibérico ocorreu em um contexto global de competição estratégica, em que redes críticas — energia, dados, mobilidade — se tornaram alvos potenciais, inclusive em cenários de guerra híbrida. E embora não haja indícios de ação deliberada nesse caso, o evento nos lembra que uma interrupção local pode rapidamente gerar impactos transnacionais. Não há mais espaço para fronteiras energéticas isoladas dentro de um sistema interconectado.


Governos e empresas continuam respondendo com manuais antigos: planos de contingência, protocolos reforçados e investimentos incrementais. Talvez, no entanto, seja hora de reconhecer que vivemos em um ambiente de disrupções recorrentes, e que a resiliência do Ocidente dependerá menos da tentativa de restaurar um ado previsível — e mais da capacidade de operar sob instabilidade crônica.


Planejar, hoje, é aceitar que falhas ocorrerão — e que o sucesso está menos em evitá-las do que em responder rapidamente a elas sem perder coesão social, legitimidade política ou capacidade estratégica. O apagão durou poucas horas. Ele, porém, acendeu, em silêncio, um alerta duradouro: a vulnerabilidade está mais próxima do qu parece. E o tempo para reagir pode ser menor do que imaginamos.

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