editorial

Submundo digital é ameaça aos jovens

Há um modelo de negócio sustentado por algoritmos e premiação do engajamento a qualquer custo que precisa ser extirpado

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Ao completar um mês, a morte de Sarah Raíssa Pereira ainda tem questões a serem respondidas pela polícia – como quem são os responsáveis pelo sórdido desafio que pode ter tirado a vida de uma menina de apenas 8 anos –, mas também tem evidenciado a existência de um submundo na internet que implica os jovens brasileiros de forma perturbadora. Cada vez mais, eles são vítimas ou protagonistas de redes que lucram livremente com a disseminação do ódio, o armazenamento e a divulgação de pornografia infantil, a instigação ao suicídio, entre outras degradações dos direitos humanos.


Um dia depois do enterro de Sarah Raíssa, a Polícia Federal (PF) desarticulou uma organização “altamente estruturada”, com integrantes em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul, que aliciava vítimas em grandes plataformas, como Telegram e Discord. Na ocasião, dois adultos foram presos e sete adolescentes, apreendidos. Um dos jovens é acusado de ter transmitido ao vivo um ataque com coquetéis molotov, protagonizado por outro menor de idade, contra um homem em situação de rua. A vítima teve 70% do corpo queimado, e o crime foi transmitido pelo Discord para 220 pessoas. Na segunda fase da operação, deflagrada ontem, outros quatro adolescentes foram levados para prestar esclarecimentos.


Segundo a ONG Safernet, nos dois primeiros meses de 2025, o número, no país, de denúncias de comunidade de ódio que incentivam, dentro do Discord, a prática de crimes cresceu 172,5%, quando comparado ao mesmo período do ano ado. A plataforma costuma afirmar ter política de "tolerância zero" para atividades ilegais, agindo “imediatamente” ao ter conhecimento delas – por exemplo, derrubando servidores. Demais redes recorrem à justificativa semelhante quando questionadas sobre esse tipo de crime. Não basta.


Há um modelo de negócio sustentado por algoritmos e premiação do engajamento a qualquer custo que precisa ser extirpado. São pessoas lucrando com ameaças à vida e à dignidade. Senão, o que justifica a oferta de prêmio de até R$ 200 para jovens se automutilarem ao vivo para uma plateia remota, como descobriu a PF? A corporação também tem ciência de pagamentos por meio de Pix e de criptomoedas para aqueles que se submetem aos desafios – que incluem, ainda, o estupro virtual de meninas –, de que essas redes criminosas têm conexões internacionais e adotam estratégias próprias para não serem identificadas – entre elas, o uso de linguagem cifradas e links divulgados em grupos s.


Chegar aos mentores não é tarefa simples. Como vem sendo defendido neste espaço, a por medidas que favoreçam a articulação entre as forças de segurança, a capacitação de agentes públicos, a atualização do aparato técnico, além de atualizações legais para pôr fim a brechas que acabam favorecendo a prática de crimes cibernéticos. Nesse sentido, o amadurecimento do debate sobre a regulação das redes sociais se torna imprescindível. Enquanto a pauta se limitar à troca de acusações polarizadas sobre defesa ou ataque à censura, não há espaço para avanços em áreas que também são estratégicas, como a educação midiática.


Trata-se de desenvolver, em adultos e crianças, a capacidade de identificar os riscos camuflados no ambiente digital: de golpes que levam à perda de patrimônios a desafios que tiram a vida sobretudo dos mais jovens. Patrícia Blanco, presidente-executiva do Instituto Palavra Aberta, enfatizou que estes acabam vítimas dos crimes cibernéticos por uma falsa sensação de familiaridade com o ambiente digital. “Apesar de nativas digitais, as crianças são inocentes digitais”, reforçou a especialista. Protegê-las, portanto, é medida civilizatória imprescindível.

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