Mesmo hospitalizado e doente, nos últimos meses de vida, o Papa Francisco ligava quase todas as noites para os cristãos palestinos reunidos na única igreja católica na Faixa de Gaza, em meio ao conflito entre Israel e Hamas. O pontífice já tinha contado, anteriormente, que mantinha o ritual, mas só após sua morte, na última segunda-feira (21/4), foi revelado que ele mantinha o hábito mesmo debilitado.
O pároco local, o reverendo argentino Gabriel Romanelli, detalhou ao NY Times que o papa ligava quase todos os dias para verificar o bem-estar dos fiéis do local. As videochamadas duravam alguns minutos, e ficaram menos frequentes depois que o papa adoeceu, mas continuaram importantes para os membros da comunidade.
Francisco perguntava sobre a situação na igreja. Enquanto os fiéis compartilhavam sua rotina, pediam bênçãos e mandavam mensagens aos líderes mundiais. “As noites ficaram conhecidas como o momento do papa. As pessoas se reuniam, até mesmo jovens e adolescentes, para vê-lo", contou o padre.
Em Gaza, existem apenas algumas centenas de cristãos palestinos – a maioria deles está abrigada em duas igrejas na Cidade de Gaza — a católica e a ortodoxa — vários deles perderam suas casas em bombardeios israelenses. Com mais de 50 mil mortos e apagões nas telecomunicações, o conflito em Gaza fazia com que as ligações do papa fossem ainda mais especiais. “Parecia existencial”, classificou o padre.
“A morte do papa é muito difícil para nós — para mim e também para a comunidade, porque costumávamos ouvir sua voz todos os dias", lamentou.
Defesa da paz
Francisco era um grande oponente do conflito entre Hamas e Israel, pedindo um cessar-fogo e denunciando a crise humanitária. Ele chegou a se encontrar com as famílias dos israelenses feitos reféns pelo Hamas no ataque surpresa de 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 pessoas e deu início à guerra. "Entre eles também há muitas crianças; que retornem às suas famílias!", disse em um discurso de novembro de 2023, referindo-se aos mais de 250 reféns capturados pelo Hamas.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Em sua última aparição pública, no domingo de Páscoa, durante a bênção liga pelo Arcebispo Diego Ravelli, Francisco pediu novamente pelo fim da guerra, rogando para que as partes "declarassem um cessar-fogo, libertassem os reféns e socorressem um povo faminto que aspira a um futuro de paz".