Jordane Macedo, natural de Pimenta, na Região Oeste do estado, com a relíquia que chegou pelo correio em 2023 e que ele guarda com gratidão crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Imagine guardar em casa uma carta enviada pelo papa Francisco, com uma bela mensagem e bênçãos para si, sua família e ao povo de sua terra? Pois o mineiro Jordane Macedo, de 49 anos, natural de Pimenta, Região Oeste do estado, teve esse privilégio, renovado agora com a morte do sumo pontífice. Para reforçar a mineiridade dessa história, o que atraiu as palavras escritas por Jorge Mario Bergoglio foi um bom pedaço de queijo!
Iguaria, que aproximou Francisco do produtor cultural e dos mineiros, e a correspondência papal Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Mas, como esse queijo foi parar nas mãos do papa Francisco? Jordane é produtor cultural e diretor da Rota do Queijo de Minas. Em 2023, ele estava preparando um eio por vários continentes – em países como Bolívia, Estados Unidos, Japão, Singapura e Itália –, quando se lembrou que o queijo do Ivair Oliveira, produtor de São Roque de Minas, no Alto São Francisco, um canastra com Selo de Inspeção Federal (SIF) e com certificação sanitária, poderia seguir viagem com ele.
Jordane levou quatro unidades do queijo, um para o papa Francisco, outro para o embaixador do Brasil na Santa Sé, um como “moeda de troca” (seja lá o que isso signifique) e outro que faria toda a viagem e voltaria para “contar história”. Esse último visitou a Nasa e esteve nas mãos do camundongo mais famoso do mundo, o Mickey Mouse, mas esta é outra história. Vamos voltar ao “queijo do papa”...
Depois de rodar por vários países, o produtor cultural finalmente chegou ao seu principal destino. “Eu queria mesmo era encontrar com o papa!”, confessou. Mas, naquela data, Francisco estava viajando. Por outro lado, o desejo de entregar o queijo ao sumo pontífice era tamanho que Jordane levou o assunto à Embaixada do Brasil na Santa Sé, que assumiu a missão e se comprometeu a entregar a encomenda, junto a uma carta contando sua história, a Bergoglio por meio de protocolos oficiais.
Carta será colocada em um lugar especial para que as pessoas possam ter o, revela o dono da preciosidade Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press De volta ao Brasil, Jordane Macedo continuou vivendo a vida, quando, 40 dias depois, recebeu em sua correspondência um envelope de aparência simples. “Pensei que era uma carta da LBV (Legião da Boa Vontade), tinha uns cartõezinhos”. Mas, era nada menos que uma cartinha enviada pelo papa Francisco. Na mensagem, datada em 10 de agosto de 2023, o papa agradece pela oferta do “produto típico da sua terra” e conta que muito apreciou o presente.
Destinada a todos
O último parágrafo “derrete” até o coração mais duro desse mundo: “Invocando a proteção da Santíssima Virgem, te envio de coração a minha Benção, que de bom grado estendo à tua família e ao querido povo de Minas Gerais. Por favor, não deixe de rezar por mim; eu o farei por ti”.
A morte do Papa Francisco, aos 88 anos, no dia 21 de abril de 2025, não apenas marcou o fim de um pontificado histórico, mas também o consolidou como o segundo Papa mais velho da história da Igreja Católica a falecer enquanto ocupava o trono de São Pedro. La Cancillería de Ecuado/Wikimédia Commons
Nascido em 1936, Jorge Mario Bergoglio rompeu diversos paradigmas ao longo de seu papado, sendo pioneiro em diversos âmbitos. Jeon Han/Wikimédia Commons
Foi o primeiro papa jesuíta, o primeiro sul-americano e o primeiro a adotar o nome Francisco. Porém, com sua morte, outro aspecto ou a ser lembrado com mais ênfase: sua longevidade. Reprodução/YouTube
Vários papas exerceram o cargo até a velhice, enfrentando desafios físicos e espirituais. A idade avançada simboliza sabedoria, mas também levanta debates sobre saúde e sucessão. Francisco, por exemplo, seguiu firme até o fim. Veja os cinco papas mais velhos que morreram no cargo, segundo levantamento feito pela "Exame". Divulgação/Vaticano
Pio XII, nascido Eugenio Pacelli, morreu em 1958 aos 82 anos. Durante seu longo papado (1939â??1958), ele comandou a Igreja durante os anos sombrios da Segunda Guerra Mundial. Reprodução de Youtube
Foi uma figura central em meio às tensões políticas e ideológicas do século XX. Embora sua atuação frente ao nazismo ainda gere debate entre historiadores, não há dúvida de que sua idade avançada não o impediu de atuar ativamente até o fim de sua vida. Reprodução de Youtube
Ao falecer, Pio XII consolidou-se como um dos mais longevos pontífices do pós-guerra, exercendo um pontificado firme em tempos de instabilidade global. Domínio Público/Wikimédia Commons
Karol Wojty?a, o Papa João Paulo II, faleceu em 2005 aos 84 anos, após 26 anos de pontificado - o terceiro mais longo da história. Domínio Público/Wikimédia Commons
Ele foi uma figura central na transição do século XX para o XXI, testemunhando o colapso do comunismo no Leste Europeu e enfrentando crises internas da Igreja com coragem, mesmo em meio a graves problemas de saúde. Reprodução do Youtube
João Paulo II manteve sua agenda internacional até os últimos anos de vida, sendo reconhecido por sua energia espiritual e liderança carismática. Sua morte comoveu o mundo e deixou uma marca profunda em várias gerações de católicos. Domínio Público/Wikimédia Commons
O italiano Giovanni Maria Mastai-Ferretti, conhecido como Pio IX, reinou entre 1846 e 1878 - um impressionante total de 31 anos, o mais longo pontificado confirmado da história. - Domínio Público/Wikimédia Commons
Morreu aos 85 anos e foi responsável por transformações importantes dentro da Igreja, como a proclamação do dogma da Imaculada Conceição e o Concílio Vaticano I. Seu papado também foi marcado pela perda do poder temporal dos papas, com a unificação da Itália. Domínio Público/Wikimédia Commons
Apesar da idade avançada, Pio IX manteve uma atuação firme e, em muitos momentos, polêmica. Foi beatificado em 2000 por João Paulo II. Domínio Público/Wikimédia Commons
Papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, faleceu em 2025 aos 88 anos, tornando-se o segundo Papa mais velho a morrer durante o pontificado. Seu papado foi marcado por uma abordagem pastoral mais próxima dos pobres, pelos apelos à paz e pela luta contra os abusos sexuais na Igreja.
No entanto, a saúde sempre esteve sob os holofotes nos últimos anos de sua vida, especialmente após cirurgias e internações. Reprodução TV Globo
Mesmo com limitações físicas, Francisco continuou a receber líderes mundiais, discursar com clareza e promover reformas estruturais na Cúria. Sua longevidade foi um símbolo de resiliência, espiritualidade e compromisso com o cargo até o último instante. Reprodução TV Globo
Nenhum outro pontífice faleceu em idade tão avançada quanto Leão XIII. Nascido Vincenzo Gioacchino Pecci, ele morreu em 1903 aos 93 anos, deixando um legado intelectual e doutrinário duradouro. domínio público
Leão XIII é conhecido principalmente por sua encíclica "Rerum Novarum" (1891), que lançou as bases da doutrina social da Igreja e abordou questões como o trabalho, o capital e a justiça social em tempos de revolução industrial. Domínio público
Apesar da idade, ele continuava lúcido e ativo até pouco antes de sua morte. Seu papado foi uma ponte entre a tradição e a modernidade, e sua longevidade impressiona até hoje. Domínio Público/Wikimédia Commons
A idade avançada desses papas mostra que, embora o peso do pontificado seja grande, muitos conseguiram exercer a liderança da Igreja até os últimos dias. Flickr Hannes Flo
Francisco, ao falecer com 88 anos, entra para a história não só por suas reformas e discursos marcantes, mas também por ter desafiado os limites físicos da idade em nome da fé.
Seu nome se junta a uma lista seleta de pontífices que viveram longamente, mas jamais se afastaram da missão que aceitaram. Em vida e após a morte, esses papas seguem influenciando o curso da Igreja e do mundo. JEROME CLARYSSE por Pixabay
“Essa carta não vai ficar comigo. Ela vai para um lugar muito especial que eu comecei a ‘arquitetar’ ontem (quarta-feira). Isso tem que ser de domínio público, é para o povo, não é para mim. Isso aqui é tão maior, é muito ruim isso ficar comigo. A quantidade de gente que se sentiu abençoada…”, disse, emocionado. Por enquanto, o criador da Rota do Queijo de Minas não adiantou a destinação que pretende dar à carta: “Fiz uma provocação e vou ver se vai dar certo”.
“O que esse povo dá valor à história desse queijo, da bênção do papa, e o tanto que esse povo do queijo merece esse carinho, essa valorização. A gente tem diversos laticínios e indústrias, e isso é muito bem-vindo, mas a cultura queijeira… Estou certo que daqui a 30 anos, nem 3% dos produtores da Rota do Queijo estarão produzindo, porque não tem essa história de sucessão familiar, não tem funcionário, a dificuldade é grande. A gente tem muito que ajudar esse povo para continuar com essa cultura”, finaliza Jordane.