A ESPERA SERÁ LONGA

Restaurante Popular do Centro de BH fecha para reforma por um ano

Restaurante Popular Herbert de Souza só será reaberto em 2026. As refeições serão transferidas para a unidade da área hospitalar

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Na fila que dobra a esquina da Avenida do Contorno, 11.484, Centro, no coração de Belo Horizonte, ao lado da rodoviária, é possível ouvir de tudo: conversas apressadas, trocas de receitas, desabafos sobre a vida difícil e, principalmente, incertezas. Nesta sexta-feira (31/5), o Restaurante Popular I Herbert de Souza teve seu último dia de atendimento presencial ao público geral antes de fechar as portas para uma reforma que deve durar quase um ano. A unidade será desativada a partir de segunda-feira (2/6) e só deve reabrir em abril de 2026.


A notícia chegou como surpresa para Marisa Rodrigues Martins, de 30 anos, que almoça ali de três a quatro vezes por semana. “Sério? Vai fechar? Eu nem sabia. Vai me prejudicar muito”, conta ela, que mora no Jardim Vitória, Região Nordeste da capital. Marisa explica que não tem tempo nem condições de se deslocar até o Restaurante Popular II, na área hospitalar, para onde será transferido o atendimento aos usuários que não estão em situação de rua.

A capital mineira conta atualmente com quatro unidades: a do Centro (Restaurante Popular I – Herbert de Souza), duas na Região Hospitalar (Bairro Santa Efigênia), uma em Venda Nova e outra no Barreiro. Juntas, elas servem cerca de 10 mil refeições por dia. Essas unidades funcionam de segunda a sexta-feira para o público em geral e, aos fins de semana, oferecem almoço exclusivamente para pessoas em situação de rua.

Com a reforma do Restaurante Popular I, as refeições que antes eram preparadas para unidades de apoio socioassistenciais também serão produzidas na unidade II, na Rua Ceará, Santa Efigênia.

Reforma total

O restaurante, que serve cerca de três mil refeições por dia – 420 no café da manhã, 2,2 mil no almoço e 440 no jantar – encerra o atendimento temporariamente para uma reforma orçada em R$ 3,3 milhões. O tempo de fechamento é considerado adequado para as obras, que incluem intervenções de grande porte. As obras começam pela cozinha, que deve ficar pronta até outubro.

Haverá troca dos sistemas hidráulico e de gás, instalação de novo escoamento para pias, substituição de pisos e azulejos quebrados, além da higienização do sistema de exaustão. Os banheiros também serão reformados, inclusive os adaptados para pessoas com deficiência. O refeitório, o açougue, as câmaras frigoríficas e até o estacionamento também arão por intervenções.

Com a reforma, não são só os usuários que terão que se adaptar. O chefe de cozinha Vicente Soares, que trabalha há 23 anos no Restaurante Popular I, será transferido para a unidade II da Rua Ceará. O Restaurante Popular I também é responsável por preparar 432 refeições diárias destinadas aos abrigos Tia Branca.

Segundo a prefeitura, durante a reforma, essa produção também será transferida e não será necessário aumentar a equipe, já que haverá remanejamento para garantir o atendimento sem prejuízo aos usuários. A unidade II fornece, atualmente, cerca de 2.300 refeições diárias e, segundo o município, está preparada para absorver o aumento da demanda.

Marmitas garantidas para quem mais precisa

Durante o período de reforma, todas as refeições fornecidas no Restaurante Popular I às pessoas em situação de rua cadastradas no CadÚnico serão mantidas no mesmo local.  Segundo a prefeitura, cerca de 850 marmitas serão entregues diariamente no almoço, além de 300 no café da manhã e 300 no jantar.

Os horários seguirão os mesmos: café da manhã das 7h às 8h, almoço das 11h às 13h e jantar das 17h às 18h30. As marmitas continuarão sendo distribuídas no entorno do prédio da unidade I, que contará com estrutura de apoio aos usuários, como filas organizadas, o à água e sanitários. Uma equipe de apoio dará orientações no local durante todo o período de obras.

“É o que cabe no meu bolso”

Apesar de a mudança impactar usuários que não estão em situação de rua, mas dependem da proximidade do restaurante do Centro, a prefeitura informou que não há previsão de transporte ou vale-transporte para esse público.

O estudante Marcus Felipe dos Reis, de 24 anos, é um dos que veem com preocupação a mudança. Ele almoça no local três vezes por semana. “Estudava no Santa Efigênia e já comia no restaurante da Câmara. Agora venho sempre meio-dia. É o que cabe no meu bolso”, diz. Sobre a nova unidade na Rua Ceará, ele reclama: “Muito cheia. E pra mim é longe.” 

Assim como Marcus, muitos usuários afirmam que a estrutura atual do restaurante central é suficiente, embora desgastada. “Tem banco quebrado, banheiro com mal cheiro, lixo espalhado... Mas fechar por quase um ano é demais”, critica.

“Vai me desfalcar muito”

José Carlos Pereira, morador de Ribeirão das Neves, também não esconde a indignação. “Eu me pergunto: de novo, reforma? E pra levar pra área hospitalar? É loucura. Jamais vou lá. É muito longe e fica caro pagar ônibus. Vai me desfalcar muito”, lamenta. Para o prato, entretanto, só elogios. “Tutu, lombo, salada e doce de banana. A comida aqui é muito boa.” 

Segundo a prefeitura, os cardápios dos restaurantes populares são elaborados por uma equipe de nutricionistas da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN), com foco em variedade, saúde e sabor. As refeições priorizam alimentos in natura ou minimamente processados e incluem opções proteicas sem origem animal.

Já para o aposentado José Durval dos Santos, de 92 anos, enfrenta uma verdadeira maratona para conseguir almoçar e jantar na unidade. Morador do Bairro Vale das Acácias, em Ribeirão das Neves, ele enfrenta cerca de 43km todos os dias e leva uma hora de ônibus até o restaurante.

Com o fechamento, diz que vai tentar se virar em casa. “Tenho um fogão velho, vou dar um jeito. Pra mim pegar dois ônibus é muito difícil. Tenho problema de saúde, não consigo andar muito.” Sobre o ambiente, ele aponta o que chama de “banheiro desumilde”: “É sujo e difícil de ar.”

 

“Aqui é onde eu consigo comer”

Todas as orientações estão sendo readas diretamente aos usuários no Restaurante Popular I. Durante as obras, uma equipe estará disponível no local para fornecer informações. Os critérios de gratuidade e os valores das refeições continuarão os mesmos. “É longe, mas eu preciso comer. Se vai demorar e melhorar, que bom, né?”, afirma Ademir Raimundo Machado, morador do Bairro João Pinheiro, que já planeja continuar se alimentando na unidade da Rua Ceará.

Já Marisa Rodrigues, mãe de um bebê de quatro meses, não esconde o receio. “Esse restaurante é minha salvação. Se ele não existisse, eu ia ar necessidade. Aqui é cheio, é bagunçado, mas é onde eu consigo comer.”

As refeições fornecidas aos abrigos Tia Branca também serão produzidas na unidade II, que já está preparada para atender à demanda. Lembrando que os marmitex de almoço para as pessoas em situação de rua, hoje usuários do RP I, serão produzidos pelo Restaurante Popular IV Dom Mauro Bastos – do Barreiro.

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Atendimento realocado já na próxima semana

O atendimento será transferido para o Restaurante Popular II, localizado na Rua Ceará, 490, no Bairro Santa Efigênia. O funcionamento lá será das 7h às 18h30, com oferta das três refeições diárias: café da manhã (R$ 0,75), almoço (R$ 3) e jantar (R$ 1,50). A gratuidade permanece para pessoas cadastradas no CadÚnico que estejam em situação de rua. A entrega de marmitex continuará, porém, será destinada exclusivamente a essa população.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

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