Museu de História Natural em BH pede ajuda para retirada de planta invasora
Espécie exótica ameaça vegetação nativa de museu da UFMG. Mutirão será realizado neste sábado (31/5)
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Siga noA população de Belo Horizonte está convidada a participar, neste sábado (31/5), de um mutirão para erradicação da Dioscorea sansibarensis, conhecida popularmente como “caratinga”, uma planta exótica invasora que ameaça a mata da Reserva Ecológica do Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A atividade será realizada das 9h às 11h, com ponto de encontro na portaria do museu, localizada na Rua Gustavo da Silveira, 1035, Bairro Santa Inês, Região Leste da capital.
O único registro oficial da caratinga no Brasil é justamente na reserva da UFMG. Acredita-se que a introdução tenha ocorrido na década de 1970, por interesse estético, em tempos em que era comum trazer espécies de outros países para compor acervos de jardins botânicos. Hoje, a planta ocupa entre 20 e 30 hectares da mata e ameaça a regeneração natural da área.
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Segundo o engenheiro agrônomo Francisco David da Silva, responsável técnico da área, a trepadeira tem um alto potencial invasor. “Ela interfere no processo natural de sucessão ecológica, impedindo que árvores jovens se desenvolvam. A planta sobe pelas árvores, cobre a copa, bloqueia a entrada de luz e provoca a quebra dos galhos, especialmente no período de chuvas”, explica. “Muitas vezes, só sobra o tronco da árvore, que nem sempre consegue se recuperar.”
Outro fator preocupante é a resiliência da espécie que, mesmo após o corte, rebrota com facilidade, por conter tubérculos subterrâneos que funcionam como estruturas de resistência. "Por isso, apenas a roçada não resolve o problema. É preciso fazer a retirada manual desses tubérculos", afirma o engenheiro.
Doutora em biologia vegetal pela UFMG e mestre em genética pela mesma instituição, Jacqueline Rodrigues é bióloga do Museu de História Natural e Jardim Botânico da universidade. Ela fala que a planta caratinga está invadindo a mata e comprometendo a vegetação.
Técnica de controle e cuidados
Durante os mutirões, o método principal adotado é a catação manual dos tubérculos e ramos, mais eficiente do que a simples roçada mecânica. “A roçada a gente faz com equipe técnica, porque envolve equipamento, mas ela não resolve sozinha, já que os tubérculos continuam no solo. A retirada manual enfraquece esses tubérculos e reduz a capacidade de propagação”, detalha o agrônomo.
Após cada mutirão, a área é monitorada e revisitada, entre duas e quatro semanas depois, para recolher rebrotas. Essa segunda fase, chamada de “recatação”, só é possível fora do período de dormência da planta, comum no inverno.
Apesar de ser do mesmo gênero de algumas espécies comestíveis, não há estudos que garantam a segurança do consumo da caratinga. “Ela até lembra um ‘batatão’, mas não existem registros de uso alimentício para essa espécie específica, então é melhor não arriscar”, completa Francisco.
Como participar
O mutirão será coordenado pelo próprio Francisco David da Silva junto a bolsistas da UFMG ligados ao setor do Jardim Botânico. A proposta é realizar a ação uma vez por mês, sempre no final e evitando feriados, para ampliar a participação.
Para participar, basta preencher o formulário de inscrição disponível no site da instituição e comparecer ao museu com calça comprida, camisa de manga longa, calçado fechado e boné. Luvas serão fornecidas pela organização, mas quem tiver em casa pode levar as suas. O trabalho é voluntário e dura duas horas.
“É uma atividade que exige esforço físico. Por isso, o tempo é limitado, para que não seja cansativo e as pessoas queiram voltar nas próximas edições”, comenta Francisco.
Um movimento que nasceu na comunidade
A retomada do mutirão marca uma nova fase de uma iniciativa que teve início em 2023, a partir da mobilização espontânea de moradores do entorno do museu. A moradora Ana Deister, que vive entre os bairros Sagrada Família e Horto, é frequentadora antiga do espaço e conta que ficou preocupada ao ver as plantas se alastrando pelas trilhas.
“Eu não sou da área, mas achava estranho ver aquelas plantas subindo pelas árvores. Falei com uma funcionária do museu e ela confirmou que eram invasoras. A partir daí, mandei um e-mail e perguntei se podíamos ajudar. Eles toparam e nós começamos a nos organizar”, conta.
Ana criou um grupo nas redes sociais com familiares, amigos e integrantes de um coletivo ambiental, um grupo pequeno que se reunia um sábado por mês, fazia a retirada das plantas manualmente e contava com o apoio técnico do museu.
O grupo realizou 10 encontros ao longo de 2023 e 2024, mas o trabalho foi interrompido no fim do ano ado por questões internas de organização da instituição. Agora, a partir de junho, o projeto será retomado em parceria com o setor técnico do museu, com a intenção de ampliar a participação popular.
“Fico muito feliz de ver que o museu está abraçando essa causa. Antes era um trabalho quase familiar, agora a ideia é envolver mais gente e cuidar com mais força desse espaço tão especial”, afirma Ana.
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As próximas datas serão divulgadas nas redes sociais do museu e por meio do formulário de inscrição. “Nosso objetivo é evitar que a planta ultrae os limites da reserva e comprometa ainda mais o ecossistema”, reforça Francisco David.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino