Inveja? Família de jovem assassinada em escola discorda da investigação
Parentes de Melissa Campos divulgaram um vídeo e uma nota em que afirmam que o crime deveria ser considerado feminicídio e misoginia
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Siga noParentes de Melissa Campos, de 14 anos, assassinada dentro de sala de aula em escola particular de Uberaba, no Triângulo Mineiro, em 8 de maio, divulgaram nessa terça-feira (20/5) uma nota e um vídeo por meio de redes sociais discordando do Ministério Público e da Polícia Civil de Minas Gerais. Segundo eles, é um equívoco não classificar o crime como feminicídio e misoginia.
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Durante coletiva a imprensa, na manhã de ontem, na sede do MPMG, em Uberaba, delegados e promotores responsáveis pelo caso disseram que o crime foi motivado por inveja por parte de dois adolescentes (suspeitos de autoria e coautoria) e que o mesmo está sendo investigado como ato infracional análogo a homicídio triplamente qualificado.
Os adolescentes estão apreendidos em centro de internação de Araxá, a cerca de 100km de Uberaba.
Por meio de nota, a família da Melissa declarou que expressa sua gratidão à Polícia e ao Ministério Público por afastarem infundados rumores referentes a bullying. "E por reafirmarem o caráter de nossa menina, nossa tão amada Melissa, que pagou com sua vida simplesmente por ser feliz demais".
Por outro lado, a família de Melissa reforça a convicção de que o bárbaro crime, cometido a facadas, merece, sim, a alcunha de feminicídio e que não foi motivado por simples inveja. "Quando a felicidade de uma mulher é suficiente para suscitar tamanho ódio a um homem, não há como negar o envolvimento de misoginia", finaliza a nota divulgada pela mãe e outros parentes da vítima.
A nota foi publicada juntamente com um vídeo.
A estudante do 9º ano foi morta dentro de uma sala de aula da Escola Livre Aprender. Dois adolescentes foram detidos no mesmo dia. Um deles é suspeito de dar as facadas que mataram a vítima e outro seria coautor do crime. De acordo com as autoridades de segurança, a dupla teria planejado o assassinato a partir de anotações em cadernos.
Mais detalhes
De acordo com o promotor André Tuma, até o momento, o que se sabe é que vítima foi abordada pelos dois adolescentes no dia do crime, que teria sido motivado por inveja. "A motivação é uma questão ligada à inveja e a vítima não tinha nenhum atrito com esses dois envolvidos. A vítima era uma das meninas que acolhia os novos alunos que chegavam", esclareceu.
Ainda conforme o relato do promotor, um dos policiais militares que prendeu o primeiro adolescente informou no registro da ocorrência que o jovem disse ter praticado o crime porque tinha inveja da menina por ela simbolizar uma alegria que ele não tinha.
"O que nós temos de concreto é que o indivíduo que praticou o crime leva uma faca para a escola, entrega o bilhete para a vítima e poucos segundos depois pratica o crime. Parece que ela ficou sem entender o bilhete e que não teria tido nenhuma reação. No topo do papel estava escrito 'sentença' e abaixo 'estrangulamento'", disse.
A dupla responde por ato infracional análogo ao crime de homicídio triplamente qualificado, mas sem elementos para chegar à conclusão de que houve feminicídio. Segundo o promotor, a possibilidade de que os suspeitos apresentem algum tipo de neurodivergência já foi descartada. "O suspeito de praticar o crime é um garoto muito inteligente e com excelentes notas. Era um aluno premiado".
O delegado Cyro Outeiro, que trabalha no caso, informou que a investigação não aponta para a existência de outros adolescentes envolvidos no crime. Ainda segundo ele, não é possível afirmar que se trata de um feminicídio.
"Não há nada comprovado se há outros envolvidos e se eles (adolescentes suspeitos) fazem parte de alguma organização. Eles são colegas de sala e sentavam um do lado do outro. Além disso, não há grupos de internet, seita, uma lista; não há nada disso como tem se falado por aí", ressaltou.
Participaram da coletiva os delegados Armando Papacidero e Cyro Moreira e os promotores Diego Aguillar Martins, Fernanda Fiorati Freitas e André Tuma Delbim Ferreira. A coletiva ocorreu no Auditório do Ministério Público, em Uberaba.
O crime
A estudante do 9º ano foi morta na manhã do dia 8 de maio, dentro de uma sala de aula do Colégio Livre Aprender, localizado no Bairro Universitário. Segundo testemunhas, o suspeito do crime fugiu, supostamente, por um campo, aos fundos da escola.
Ele foi localizado na AMG-2595, estrada mais conhecida como Filomena Cartafina, que liga Uberaba aos distritos industriais, e encaminhado à Delegacia de Plantão da Polícia Civil, acompanhado por responsáveis e advogados. Já no início da noite do crime, o segundo suspeito também foi apreendido por uma equipe da Polícia Civil de Uberaba.
Melissa Campos era filha de um dos coordenadores pedagógicos do Colégio Livre Aprender. No dia do crime, a direção da escola emitiu uma nota dizendo estar "consternada com o lamentável acontecimento".
Ainda segundo a instituição, "um professor do colégio, acadêmico do 10º período de medicina, imediatamente prestou os primeiros socorros. O Samu foi acionado e assumiu os procedimentos. A equipe tentou reanimar a vítima, que infelizmente veio a óbito".
As aulas no Colégio Livre Aprender voltaram nessa segunda-feira (19/5), depois de uma semana suspensas.