BH: historia do Cemitério do Bonfim é contada em obra inédita
Cartilha "Cemitério do Bonfim: Patrimônio Cultural, Arte e Fé" foi publicada pelo Iepha nesta segunda-feira (12)
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Siga noIntitulado “Cemitério do Bonfim: Patrimônio, Arte e Fé”, a nova edição dos "Cadernos do Patrimônio", dedicada inteiramente ao Cemitério do Bonfim, localizado na Região Noroeste de BH, foi publicada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) nesta segunda-feira (12/5). A cartilha, com 81 páginas, reúne relatos e fotos e está disponível para gratuito no site do Iepha.
Segundo o presidente do instituto, João Paulo Martins, a escolha do Cemitério do Bonfim como tema se deve ao fato de o local estar diretamente relacionado à história da construção da nova capital. "O necrotério do Cemitério do Bonfim, também chamado de Capela Necrotério, é um dos primeiros bens tombados pelo Iepha, em 1977", explica.
"Além do necrotério, havia toda uma relação de memória, da importância do espaço físico, da relação com a história da capital. Não só como cemitério, lugar de memória dos seus entes queridos, mas também com a arte de Belo Horizonte naquele momento."
João Paulo Martins, presidente do Iepha-MG
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Pesquisa e desafios
A pesquisa começou em 2010. O caderno é uma versão mais ampla, voltada à difusão pública do material, de acordo com o presidente do Iepha. Na cartilha, é possível encontrar fotografias, relatos de trabalhadores do local e comentários de especialistas sobre o acervo levantado.
"O principal é conhecer melhor essa arte e os nomes de vários artistas presentes ali, que também estão na arte pública de Belo Horizonte e são pouco conhecidos do público. O Bonfim perdeu parte de sua imponência com o tempo, então a divulgação é importante para que as pessoas conheçam as visitas guiadas e os aspectos históricos e religiosos — como o túmulo da irmã Benigna, que tem relatos de graças alcançadas”, conta João Paulo.
Embora não haja um número exato de obras catalogadas, de acordo com o Governo de Minas estima-se que cerca de 40% dos cerca de 5 mil túmulos presentes no cemitério contenham elementos artísticos, como esculturas, bustos e imagens assinadas por artistas renomados, incluindo os irmãos Natali e João Amadeu Mucchiut.
O caderno revela como era importante o cuidado com os mortos nas primeiras décadas da capital. Isso se reflete no tratamento dado aos túmulos, no valor artístico e na presença de artistas cuja memória está preservada por meio de suas obras. “O cemitério tem um papel direto no desenho urbano da cidade e guarda a história das primeiras gerações da nova capital”, declara o presidente.
História simbólica
Perguntado sobre qual descoberta mais o marcou durante a pesquisa, João Paulo Martins diz que gostou muito de uma história contada por Marcelina das Graças de Almeida, historiadora e professora da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), idealizadora do projeto de visitas guiadas no Cemitério do Bonfim, sobre o túmulo de Berthe Adéle.
Berthe fez o cemitério ser inaugurado às pressas. Filha de um engenheiro da comissão construtora da capital, a jovem belga morreu aos 19 anos. Seu túmulo é protegido por um gradil esculpido em ferro por seu pai, em 1877. Cercado de mistério, o local abriga um cipreste que brotou ali curiosamente e hoje cobre de sombra o jazigo, onde há apenas uma cruz de madeira e uma lápide de mármore com o nome da falecida. A origem da árvore desperta a imaginação de quem frequenta o cemitério.
Memória e importância
“Sem dúvida, quem dá valor a um patrimônio são as pessoas. Não se fala de patrimônio sem gente.” Ao falar do cemitério, o presidente ressalta que é preciso lembrar também de quem cuida, de quem trabalha ali e recebe as pessoas. “Trazer esses trabalhadores para o Caderno do Patrimônio é fundamental para a preservação”, destaca.
Ao longo da pesquisa, houve contato com famílias que têm entes sepultados no cemitério. A busca por fotografias e relatos foi fundamental. "Em algumas áreas, há gerações de pessoas sepultadas. Essa memória familiar é parte essencial do trabalho”, conta João Paulo, que considera o documento uma importante conquista também para as famílias.
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Martins espera que a obra também contribua para que o cemitério volte a ser um local imponente da capital. De acordo com o portal da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a visita guiada no cemitério é gratuita e convida o público para uma imersão na história da necrópole mais antiga da cidade. Para participar, é necessária inscrição prévia. São disponibilizadas 40 vagas por encontro. As visitas têm duração de três horas e são mensais – a próxima acontece no dia 25/5 com o tema "As pessoas profissionais da saúde: memória e história". Para ar a programação completa e fazer a inscrição, clique aqui.
"A preservação do patrimônio está profundamente associada ao seu conhecimento, à fruição e à divulgação. Não se preserva aquilo que não se conhece. Queremos que as pessoas conheçam mais essa arte, que se apropriem dela, pois ela está profundamente ligada à história de Belo Horizonte. Esta publicação contribui para isso."
João Paulo Martins