PATRIMÔNIO PARA BH

Ícone de BH, Café Nice lança campanha para evitar fechamento

O espaço, na Praça Sete há 86 anos, criou linha de produtos personalizados como parte do projeto para salvar o negócio

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Por 85 anos, o Café Nice foi mais do que um balcão de café fumegante e pão de queijo quentinho. Ele foi testemunha silenciosa do vai e vem apressado das manhãs, dos encontros casuais no horário de almoço e até de visitas de presidentes da República. Fundado em 1939, na Praça Sete, o Nice cresceu junto com Belo Horizonte — e agora, luta para não desaparecer. Nesta terça-feira (15/4), o estabelecimento lançou uma campanha que convida a população a contribuir e ajudar a salvar um dos mais tradicionais pontos do centro da cidade.

Durante décadas, o Centro de BH foi o núcleo da vida urbana, de bancos e cartórios a comércio e lazer. E o Nice, plantado em uma das principais vias da capital - a Avenida Afonso Pena -, era quase uma extensão da casa de muitos belo-horizontinos. Criado por Heitor Resende, o lugar também era parada obrigatória de políticos durante campanhas eleitorais. Já recebeu Juscelino Kubitschek, Lula, Dilma Rousseff, Itamar Franco, Tancredo Neves e Michel Temer, dentre tantos outros, cujas fotos estão espalhadas pelas paredes. Durante as eleições municipais de 2024, o deputado estadual Bruno Engler (PL) também esteve na casa para gravar um material como candidato à Prefeitura de BH.

Mas o tempo ou, e a Região Central foi se “esvaziando”. “A cidade era muito movimentada, muito cheia, então as gestões públicas começaram a descentralizar. Mas esvaziaram tanto que o Centro, hoje, está morrendo”, desabafa Renato Moura Caldeira, à frente do negócio junto ao irmão Tadeu, há 55 anos. A dupla herdou o espaço após o pai, Heitor, encerrar as atividades.

Ele conta que a pandemia também dificultou seu trabalho. “Ficou três meses fechado. Depois, funcionando só por delivery; e em seguida voltei aos poucos, mas respeitando o limite de pessoas dentro da lanchonete. Para complicar mais, veio a tecnologia, que afasta ainda mais o público que vinha resolver a vida aqui e aproveitava para tomar um café. “Quem vem aqui hoje é porque gosta mesmo. A maioria sumiu”, lamenta Renato. Foi nesse pano de fundo que o Café Nice, no último ano, quase teve suas portas fechadas. 

Financiamento coletivo

A ideia de dar uma nova configuração ao negócio, veio de um encontro em uma mesa de bar - como um bom belo-horizontino gosta. O ex-presidente da Câmara Municipal Gabriel Azevedo (MDB) é amigo da família Caldeira e soube do momento crítico. Ele, então, acionou o designer gráfico Rafael Quick, que possui histórico em resgatar espaços “esquecidos” na cidade, como o Café Jetiboca, no Mercado Novo, a Casa Alvorada, no Santa Efigênia, e o Forno da Saudade, no Carlos Prates. 

“Fomos tomar uma cerveja com os donos do café, e eles já estavam desanimados, quase desistindo. A pandemia e o pós-pandemia forçou neles um endividamento, suficiente para deixar o negócio no vermelho. A dupla estava pensando em vender, ar o ponto, não estava sabendo o que fazer. Mas o café tem muito potencial, a marca é muito valiosa”, conta Rafael Quick. 

Entre um gole e outro, surgiu o projeto para salvar o espaço. A campanha de mobilização popular - “Abrace o Nice” -, lançada nesta terça (15/4), é a primeira fase. “Vai acontecer via financiamento coletivo. O que começamos a fazer é levantar a poeira, trazer atenção para o Café Nice. Para as pessoas entenderem que, se a gente não se envolver, esses lugares vão fechar”, afirma o designer. 

Para isso, foi criada uma linha de produtos personalizados, com base em fotos históricas da marca ao longo do tempo. Até o momento, estão disponíveis camisa, boné e sacola. “A ideia é que essa campanha, por enquanto, seja só uma pré-venda, para as pessoas vestirem a camisa do Nice, literalmente. A partir disso, buscamos concretizar apoios maiores, por meio de investidores”, explica Quick. 

A meta é arrecadar R$ 280 mil, sendo R$ 30 mil por meio do financiamento coletivo. “É uma maneira de revitalizar algumas coisas, já que o lugar foi muito deteriorado pelo tempo. Equipamento que precisa consertar, coisas que precisam ser cuidadas para ter um charme e refazer os uniformes, por exemplo”, descreve Rafael. 

O plano também prevê a construção de um com fotos que contam a história da cidade e uma nova configuração para a lojinha - chamada de tabacaria pelos frequentadores -, que, hoje, é onde funciona o caixa. Segundo Rafael, a expectativa é começar a anunciar os investidores já na próxima semana e entregar o projeto finalizado em dois meses. 

Patrimônio afetivo

Considerado um patrimônio afetivo de BH, o estabelecimento mantém uma freguesia fiel. Angela Eulália dos Santos, de 66 anos, conta que quando vai ao Centro, independentemente de onde estiver, sua parada obrigatória para o lanche é sempre no Café Nice. “É uma maravilha. O lugar que eu venho para lanchar é aqui. Sempre como a tortinha de frango, o pastel assado e o creme de ameixa com maizena. Quando estou aqui, me lembro da antiga história de Belo Horizonte, das figuras que frequentaram. Além de ser uma delícia, também é um lugar de política”, relata ela.

Renato Simão Paulino, de 75 anos, é nascido e criado na capital mineira e diz que frequenta a lanchonete desde a infância, quando aprendeu a ler. “Sempre que tinha um dinheirinho para comer algo, aqui estava eu. Isso aqui é referência. Temos que ter todo o empenho para que o Nice permaneça, ele é memória para a cidade. Não podemos deixar ele morrer, para que pais, avós e tios possam trazer os descendentes para conhecer”, anseia o cliente.

Quem também acompanha a rotina de perto é Ivone Soares da Silva, que trabalha na porta do café há 57 anos. “Estou aqui desde a época do pai de Renato e Tadeu. Ainda havia os bondes que atravessavam o cruzamento da Praça Sete, e o pessoal frequentava o lugar vestidos de terno. Acho muito bom arrumar o espaço e não deixar acabar”, compartilha ela.

A fama do Café Nice é ada entre gerações, e também conquistou o estudante João Víctor Plá, de 20 anos, que começou a trabalhar no Centro em 2023. "Sempre soube do Café Nice porque meus pais e avós frequentavam. Meu trabalho é perto, então comecei a aproveitar e ar por lá. Para mim lá tem o melhor pão de queijo da cidade, além do creme de maizena com ameixa. Fiquei apaixonado", compartilha.

Mas para João o diferencial do lugar está na boa prosa. "O café Nice tem essa áurea de sentar no balcão e conversar com alguém que você não conhece, trocar uma experiência com pessoas no meio do caos que é o Centro. O pessoal que frequenta gosta muito de conversar.  É um lugar para viver a história de Belo Horizonte", conclui ele. 

Milton Caires trabalha no Centro há seis anos e vai ao Nice todos os dias, religiosamente. “Aqui tem o melhor café do mundo, o pão de queijo com queijo, e as pessoas que tornam tudo mais especial, desde os donos até os clientes. Estou muito feliz com a iniciativa de divulgar o Café e a campanha, para que ele prospere. Conhecê-lo é também conhecer a história de BH”, enfatiza.

Funcionamento

Apesar de tudo, o negócio está funcionando normalmente - com café coado servido para quem se acomoda no balcão. O cardápio é uma extensa viagem pelos sabores mineiros, e inclui desde pão de queijo, empadinhas, pastéis e tortas, até clássicos sanduíches como x-burguer e x-bacon. 

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Também é uma boa pedida a linha de omeletes de sabores variados - queijo, presunto e frango com palmito - acompanhados pelo cafezinho coado, mate e frapê de coco ou laranja. Vale a visita de segunda a sexta-feira (8h às 19h) e aos sábados (8h às 13h). 

Serviço

Av. Afonso Pena, 727 - Centro

 (31) 3222-6924

 Veja fotos do Café Nice

*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata

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