Desaparecidos

BH é a cidade onde mais pessoas somem no estado. O que a polícia recomenda?

Com mais de 3 desaparecimentos a cada dia em 2024, BH é a cidade que mais concentra esse tipo de ocorrência. Polícia diz que prazo de 24 horas é "lenda urbana"

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Belo Horizonte lidera o ranking de desaparecimentos em Minas Gerais, com 408 registros até 31 de março. São mais de 100 por mês, o que representa aumento de 45,1% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram contabilizados 281 casos na capital, que somou 1.350 desaparecimentos nos 12 meses.

Entre eles, está o de Geralda Aparecida de Sousa, de 55 anos. Moradora de Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, ela sumiu em 4 de setembro de 2024, após acompanhar uma idosa ao Hospital Luxemburgo, na Região Centro-Sul da capital. Mais de sete meses depois, a família ainda busca respostas sobre o paradeiro de Cida, como era chamada.

Segundo a polícia, ela teria tido um surto e entrado em uma área de mata. A filha, Juscilene Sousa, diz que a mãe nunca teve histórico de esquecimento ou demência. “Minha fé em Deus é maior. Sei que ela está bem e que logo voltará para casa, mas precisamos da ajuda de todos”, apela.

Casos de sofrimento mental e doenças cognitivas, como depressão, ansiedade e mal de Alzheimer, representam quase 40% das hipóteses relatadas nos registros de desaparecimento. Os primeiros lugares são atribuídos ao uso de bebida alcoólica (52,53%), drogas (40,05%) e também associados a medicamentos controlados (35%).

Esperar ou agir rápido?

Os dados do Sisp revelam que a maioria dos desaparecimentos entre mulheres são de meninas entre 12 a 17 anos. Foi o que aconteceu na tarde de domingo, 9 de março, quando Stefany Vitória, de 13 anos, desapareceu a caminho da casa de uma amiga, em Ribeirão das Neves, na Grande BH.

A família buscou ajuda das forças de segurança acreditando estar diante de uma urgência – e estava. No entanto, ouviram que era preciso esperar. “Deve estar com algum namoradinho”, comentaram policiais. Ou talvez “em algum baile”.

Cinco dias depois, Stefany foi encontrada sem vida em uma área de mata, e um pastor acabou preso suspeito de cometer o crime. Em nota, a Polícia Militar argumentou que as guarnições do turno acompanharam o caso e coletaram informações sobre o desaparecimento. Destacou ainda que a corporação auxiliou a Polícia Civil na prisão do suspeito.

A crença equivocada de que é preciso esperar 24 horas para registrar um desaparecimento – repetida até por agentes de segurança – ainda permeia o imaginário popular e pode comprometer o tempo precioso necessário para localizar alguém em risco.

A recomendação é exatamente oposta. No caso de crianças e adolescentes, a legislação brasileira é explícita ao afirmar que a busca deve começar “imediatamente depois de notificação aos órgãos competentes”, conforme determina a Lei 11.259, de 2005.

O delegado Alexandre Oliveira da Fonseca, da Divisão de Referência à Pessoa Desaparecida (DRPD) de Belo Horizonte, reforça que não há prazo mínimo. “O prazo de 24 horas é uma lenda urbana. Isso não existe”, afirma. Perceber uma interrupção de contato, seja por telefone, mensagens ou ausência física, já é motivo para procurar a polícia e registrar o boletim de ocorrência.

Esse registro é a porta de entrada para a ação da Polícia Civil, que, a partir daí, pode iniciar a apuração do que ocorreu. O delegado reforça que, embora parte dos casos de desaparecimento envolva pessoas que se afastam por vontade própria, não há como saber isso com antecedência.

“A pessoa pode estar com alguns problemas, com a família, de trabalho, que a leva a querer ficar assim, inível. Chamamos isso de desaparecimento voluntário. Mas, até ter certeza, a família precisa registrar o caso na delegacia, pois o desaparecimento pode estar relacionado a atos de violência”, explica.

Alexandre Oliveira da Fonseca também aponta que a taxa média de localização é de 90%. Segundo dados do Sisp, 6.971 mineiros foram encontrados depois que a polícia foi acionada, o que representa média de 18 casos solucionados por dia. Os casos que permanecem sem desfecho, geralmente, são os que envolvem vítimas de crimes violentos ou acidentes graves.

Crianças, idosos e pessoas com problemas de saúde mental ou cognitiva exigem atenção especial. Para esses perfis, o delegado recomenda medidas preventivas, como o uso de pulseiras ou etiquetas com informações básicas (nome, endereço, número de identidade), o que pode agilizar a identificação e o retorno para casa em caso de desaparecimento. “É fundamental que todos saibam da gravidade de um caso como esse e se empenhem em mudar essa realidade”, reforça o delegado.

A lei da rua

Na prática, há um descomo entre o que diz a lei e o que acontece nas ruas. O caso de Stefany e os de tantas outras meninas desaparecidas em Minas Gerais escancara essa contradição.

Além disso, as investigações esbarram em barreiras legais. Se a família não tem o às contas da pessoa desaparecida ou desconhece suas senhas, os investigadores dependem de decisões judiciais para prosseguir. “Informações cruciais, como dados telefônicos, bancários ou movimentação digital, estão protegidas por sigilo e só podem ser adas com autorização judicial. Essa é uma das nossas maiores dificuldades”, explica o representante da Polícia Civil.

Mais de 3 mil alertas de desaparecimento ativos em Minas deram entrada no sistema no ano ado. No entanto, segundo Alexandre Fonseca, esse número é inflado pela falta de comunicação após o reaparecimento.

“Se uma pessoa desaparecida é encontrada, é fundamental informar as autoridades imediatamente. Isso evita o desperdício de recursos e permite que a polícia atue com mais rapidez em outros casos urgentes”, destaca o delegado.

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Ele explica que, se a família não formaliza a localização com um novo boletim de ocorrência, o nome continua no sistema como desaparecido. “Isso prejudica a real dimensão estatística do problema e consome tempo e esforços que poderiam ser direcionados a novos desaparecimentos”, alerta o policial. Atualmente, Minas Gerais tem mais de 22.400 alertas de buscas ativas por desaparecidos.

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