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CRIMINALIDADE EM MINAS

O comércio de BH na mira de ladrões: conheça setores e bairros mais visados

Mais atacados que moradias, estabelecimentos foram alvo de 9.028 furtos em 2024 em BH. Farmácias e drogarias são as mais visadas e o Centro, a área mais crítica

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Lojas arrombadas, invadidas na calada da noite, mercadorias escondidas sorrateiramente ou simplesmente arrancadas das prateleiras por ladrões que fogem correndo pela multidão... Os furtos a estabelecimentos comerciais representam prejuízo para comerciantes, que precisam investir mais em segurança, em um aumento de custos que pode acabar sendo reado para os produtos. Só em 2024, esse tipo de crime foi registrado em 9.028 ocorrências policiais em Belo Horizonte, segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

Essa modalidade de crime tendo como alvo o comércio foi a mais intensa na capital, superando em 35,5% o volume de furtos a residências no mesmo período, que chegou a 6.660 ocorrências, como vem mostrando série de reportagens publicadas pelo Estado de Minas, que mapeia os roubos e furtos no estado e em Belo Horizonte.

A partir da base de dados de pontos de comércio atacados por ladrões, a equipe do EM aponta quais são as regionais e os endereços da capital mineira onde mais ocorrem furtos a estabelecimentos comerciais. Ao todo, ocorrências desse tipo foram registradas em 285 bairros de BH, segundo a Sejusp.

Os estabelecimentos que mais foram alvos de ataques foram drogarias e farmácias, concentrando quase um terço dos registros, com 3.000 furtos em 2024. Em seguida aparecem os bares, lanchonetes e restaurantes, que foram alvo de 1.164 crimes registrados oficialmente.

Lojas de mercadorias diversas e serviços (roupas, órios, celulares, papelarias, perfumarias etc.) registraram 1.088 ataques de criminosos, enquanto mercearias, sacolões e supermercados aparecem em 830 casos. Na sequência há ainda outros ramos, como shopping centers, com 270 furtos registrados, lojas de departamento (196), confeitarias e padarias (159), oficinas mecânicas (141), postos de combustíveis (139), estacionamentos (113), escritórios (96) e atacadistas (57).

Arrombamentos são o principal método

Os meios empregados para os furtos variam muito de atividade para atividade. Mas, de forma geral, os crimes são cometidos com mais frequência a partir de arrombamentos ou rompimento de obstáculo (como portas de aço, basculantes e telhados), totalizando 1.899 registros. Em seguida aparece o chamado “abuso de confiança”, com 1.515 crimes, que ocorrem geralmente quando um funcionário ou fornecedor, por exemplo, aproveita para furtar, mas pode ocorrer também quando um ladrão se a por cliente para agir.

Outros métodos de invasão, como escalada de muros ou fachadas para entrar em lojas e escritórios, foram registrados 387 vezes no ano ado. Mas alguns furtos simplesmente ocorrem com invasões despercebidas ou ataques a prateleiras, tão velados e sorrateiros que comerciantes e funcionários sequer sabem como se deram, muitas vezes só descobrindo o prejuízo na contabilidade da empresa ou na conferência de estoques e mercadorias. Esse tipo de ação, descrita como “meio desconhecido” na estatística da Sejusp, foi assinalada 1.781 vezes – o segundo maior volume nas ocorrências.

Os meses de férias escolares aparecem como os dois com mais furtos ao comércio de Belo Horizonte em 2024, sendo que janeiro foi o mais crítico, com 869 casos, seguido por julho (789). Na sequência vêm setembro (785), outubro (776), maio (768), junho (754), abril (751), dezembro (740), agosto (727), novembro (725), março (680) e fevereiro (664).

O dia da semana preferido dos ladrões para ataques são as segundas-feiras (1.500), seguidas das terças (1.355), sextas (1.349), quartas (1.298), quintas (1.273), sábados (1.199) e domingos (1.054). Já o horário mais frequente dos furtos é entre o almoço e o fim da tarde, do meio-dia às 17h39, concentrando 2.811 ocorrências em 2024.

Considerando os bairros com mais de 50 furtos a estabelecimentos comerciais em 2024, a regional com maior quantidade de endereços nessa condição foi a Centro-Sul, com 14 bairros que somaram 2.692 ocorrências. Em seguida vêm a Noroeste, com sete bairros (734); Pampulha com sete bairros (503); Leste, com seis bairros na lista (860); Oeste, com cinco bairros (734); Venda Nova, também com cinco bairros (385); Nordeste com três bairros (244); Norte com três bairros (165); e Barreiro com dois (317).

O setor mais exposto e a ligação com a saúde

Os estabelecimentos mais sujeitos a furtos em Belo Horizonte no ano de 2024, segundo dados da Sejusp, foram drogarias e farmácias, que além de remédios costumam comercializar vários outros produtos visados, de chinelos a bijuterias que acabam sendo vendidos em mercados periféricos. Foram 3 mil furtos a esse tipo de comércio durante o ano ado.

Na drogaria em que o balconista Jandir Florêncio trabalha, no Bairro Santa Efigênia, os furtos são tão frequentes que os funcionários já até conhecem alguns dos criminosos. “Todos os dias ladrões tentam furtar a loja em vários horários, principalmente no começo da manhã e no fim da noite. A gente tem que ficar na porta, tentando coibir, mas mesmo assim eles atacam sem medo. A maioria pega alguma coisa e sai correndo, uns 70%. Já outros 30% escondem a mercadoria na roupa ou na bolsa, tentando despistar. Mas já até sabemos quem são”, afirma.

Segundo ele, entre os praticantes de furtos muitos são usuários de drogas. “Tinha um que a gente chamava de homem-bomba, porque um dia chegou com uma garrafa de coquetel molotov e disse que ia acender e tocar fogo na loja se não déssemos o que ele queria”, lembra o balconista. Segundo ele, os alvos mais visados para furtos são protetores solares, desodorantes em aerossol, leite em pó, fórmulas para alérgicos e recém-nascidos, fraldas e outros itens de fácil comercialização.

Ataques frequentes na área hospitalar

Os ataques insistentes de ladrões e a localização na Região Hospitalar de Belo Horizonte fazem do Santa Efigênia o bairro com mais ataques a farmácias na capital. Só nessa área foram 157 furtos a drogarias e farmácias, com ladrões surrupiando produtos ou correndo com eles das prateleiras pelo menos 66 vezes, entre os furtos nos quais as ações de criminosos foram percebidas.

De acordo com dados da Prefeitura de Belo Horizonte, o bairro é atendido por 20 hospitais, entre eles o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, o Hospital das Clínicas da UFMG, o Hospital Santa Casa de Misericórdia e o Hospital São Lucas. Somado a eles, um grande número de clínicas, consultórios, laboratórios, lojas de insumos e instrumentos médicos incentivou a abertura de dezenas de farmácias e drogarias para atender profissionais de medicina e pacientes.

O Bairro Barreiro, na região de mesmo nome, é o segundo com mais furtos contra farmácias e drogarias, somando 139 crimes registrados, sendo que 66 deles ocorreram com retirada de produtos de forma sorrateira das prateleiras ou com o ladrão fugindo com o item ou valor. A região também concentra pacientes e profissionais envolvidos em serviços que orbitam unidades de saúde: o Notre Dame Intermédica Minas Gerais Saúde, o Hospital Infantil de Urgência São Paulo, o Centro de Saúde Carlos Renato Dias e o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador.

Produtos de higiene pessoal são os mais visados também por lá. “Os ladrões entram na farmácia, dão uma olhadinha e acabam levando qualquer coisa: desodorante, shampoo, protetor solar, até balas... Muitas vezes, a gente nem vê. Em outras eles pegam e correm. Temos um grupo de WhatsApp em que trocamos mensagens avisando quando os mais conhecidos estão na vizinhança. Assim, a gente se prepara melhor para evitar”, conta Ana Paula Souza, gerente de uma farmácia no Barreiro.

Estratégias conjuntas ajudam na prevenção

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) destaca a importância da atuação conjunta entre sociedade civil, poder público, entidades privadas e forças de segurança para fortalecer a segurança pública, especialmente no combate a furtos e assaltos no comércio da capital. “Um exemplo dessa cooperação é a parceria da Polícia Militar com a CDL/BH e associações de comerciantes do Hipercentro, região que recebe cerca de 1 milhão de pessoas diariamente e demanda estratégias para aumentar a sensação de segurança e aprimorar o enfrentamento aos crimes patrimoniais”, afirma o presidente da entidade, Marcelo de Souza e Silva.

A CDL/BH informa também ter parceria com a PM para incentivar a criação de grupos de WhatsApp entre comerciantes. “Esses canais permitem a comunicação ágil sobre situações suspeitas, atitudes criminosas, eventos e problemas de infraestrutura, além de troca de informações sobre segurança. A iniciativa fortalece a vigilância comunitária e amplia a capacidade de resposta das autoridades”, observa Marcelo de Souza e Silva.

Outras ações eficazes, segundo a CDL/BH incluem o videomonitoramento do programa Olho Vivo e o policiamento velado. “O reforço das ciclopatrulhas em áreas comerciais aproxima a PMMG e a Guarda Municipal dos lojistas, enquanto o uso de tecnologia para comunicação em tempo real otimiza a alocação de recursos conforme a demanda. Reuniões periódicas com lideranças do setor de comércio e serviços também garantem ajustes estratégicos, fortalecendo a segurança pública na cidade”, enumera o presidente da CDL.

Na capital dos botecos, a conta da insegurança

Quando se consideram os setores mais visados pelos criminosos que cometem furtos contra o comércio em Belo Horizonte, o segmento que é vitrine na “capital dos botecos” aparece em destaque, na segunda posição entre os alvos mais frequentes. Nos ataques contra bares, lanchonetes e restaurantes da cidade, os arrombamentos foram o método especificado com mais frequência nos registros de ocorrência em 2024, somando 291 dos 1.164 casos. Em outros 261, os métodos adotados pelos ladrões são simplesmente desconhecidos.

O Centro de BH é onde esse tipo de estabelecimento sofreu mais furtos, chegando a 210 casos, em que mercadorias responderam por 60 ataques. Na sequência aparece a Savassi, um bairro de movimentada vida noturna, além de concentrar restaurantes. Lá, foram 96 ocorrências, nas quais produtos e valores desapareceram sem que ação dos ladrões fosse percebida em 33 casos. Em terceiro aparece novamente o Bairro Santa Efigênia, onde também há muitos desses estabelecimentos devido ao movimento hospitalar. Lá, foram 53 ocorrências.

“À noite tem pouco policiamento e os ladrões esperam para aproveitar, se camuflam... Ficam dormindo na beirada da calçada, perto das portas das lojas, dos restaurantes, se fazendo de moradores de rua. De madrugada, estouram portas com pé de cabra e aí levam o que tiver de mais valor: equipamentos, mercadorias, o que acharem. Já tentaram várias vezes entortar e abrir minha porta, mas não conseguiram, ainda. A gente fica com o prejuízo de ter de consertar”, conta João Pimenta, proprietário do Bar do João, na Savassi.

Lojas invadidas e os truques de ladrões

Lojas de mercadorias e serviços diversos (roupas, órios, celulares, papelarias, perfumarias etc.) registraram 1.088 ocorrências de furtos em 2024 na capital, a maioria por meio de arrombamentos, com 364 registros. Os chamados abusos de confiança chegaram a 149 casos, com 198 praticados por meios desconhecidos.

Mais uma vez nesse ramo, o bairro mais crítico foi o Centro, com 274 queixas, 58 delas por arrombamentos. Na sequência aparecem Barreiro, com 35 registros, 11 deles por arrombamentos, e Venda Nova, com 39, 19 dos quais por arrombamentos.

Na loja de roupas e órios onde trabalha a atendente de caixa Gisele Cardoso Moreira, de 33 anos, funcionários se revezam para melhor atender clientes enquanto impedem tentativas de furto a todo momento. Imersos no mar de gente que a diariamente pelo Hipercentro, eles já testemunharam ações das mais variadas. “Tem aqueles que entram na loja como se fossem clientes e ficam tentando reparar quais ângulos as câmeras não filmam. Nesses pontos, aproveitam para pegar produtos e esconder nas bolsas e entre as roupas. Outros são muito ligeiros, saem correndo. Mas aqui no Centro tem de tudo. Tem aqueles 'mágicos' que conseguem trocar a etiqueta de uma roupa cara por uma barata sem ninguém descobrir como, e ainda os que conseguem misturar duas roupas como se fossem só uma, pagando a metade do preço”, conta Gisele.

Repressão, apuração e ações preventivas

Para combater crimes como furtos e roubos, a Sejusp informa que vem investindo na cooperação entre as forças de segurança. “A Polícia Militar tem papel central nas ações preventivas e coercitivas, com destaque para as Patrulhas de Prevenção a Homicídios e a Gestão de Desempenho Operacional, ferramentas essenciais para mapear tendências criminais e direcionar a repressão de forma eficiente”, destaca a pasta.

Na esfera investigativa, de acordo com a Sejusp, a Polícia Civil vem adotando estratégias contra a criminalidade por meio de seu serviço de Inteligência e Tecnologias, em parceria com o Ministério Público e o Poder Judiciário. Com a criação da Agência Central de Inteligência, as forças de segurança aram a compartilhar informações de forma mais eficiente, ampliando as ações de repressão ao crime, afirma a secretaria.

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Já em relação à atuação preventiva, a Sejusp informa que conduz ações contra a criminalidade, priorizando comunidades e locais de maior vulnerabilidade por meio do programa Fica Vivo!, que atende jovens de 12 a 24 anos. Em Belo Horizonte, o programa conta com 13 Unidades de Prevenção à Criminalidade. A cidade também faz parte da Integração da Gestão em Segurança Pública (Igesp), iniciativa que usa dados criminais para mapear as áreas mais preocupantes.

“O atual ciclo do Igesp se concentra em crimes contra o patrimônio: roubo, furto, extorsão, extorsão mediante sequestro e receptação. Todo o trabalho é baseado no mapeamento de dados, para atuação nos locais de maior incidência de crimes”, informa a secretaria. 

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