A alquimia, prática antiga que buscava transformar metais comuns em ouro, sempre fascinou a humanidade. Durante a Idade Média, alquimistas acreditavam que o chumbo poderia ser transmutado em ouro devido às suas densidades semelhantes. Essa busca pela crisopeia, termo derivado do grego que significa “fazer ouro”, era mais do que uma simples curiosidade; era uma tentativa de compreender e manipular a natureza dos elementos.
No século XX, a ciência moderna revelou que a meta dos alquimistas não era tão absurda quanto parecia. Todos os elementos são compostos pelas mesmas partículas fundamentais: prótons, nêutrons e elétrons. A diferença entre chumbo e ouro reside no número de prótons: o ouro possui 79, enquanto o chumbo tem 82. A remoção de três prótons do chumbo, em teoria, poderia transformá-lo em ouro.
Como a física moderna transforma chumbo em ouro?
A transformação de elementos, embora possível, é um processo complexo e raro na natureza. Átomos de elementos pesados podem se dividir ou liberar partículas para se estabilizar, liberando energia na forma de radiação. Este fenômeno pode ser replicado artificialmente, mas requer equipamentos sofisticados e caros.
O Grande Colisor de Hádrons (LHC), operado pelo CERN, é uma das poucas máquinas capazes de realizar tal feito. Este acelerador de partículas colide prótons à velocidade da luz, criando condições extremas que permitem a transformação de elementos. Entre 2015 e 2018, o LHC produziu 86 bilhões de núcleos atômicos de ouro, embora em quantidades ínfimas, invisíveis a olho nu.

Por que a produção de ouro no LHC é limitada?
Apesar do sucesso em criar núcleos de ouro, a produção é limitada e não viável economicamente. O processo ocorre durante colisões entre átomos de chumbo, onde alguns perdem três prótons por dissociação eletromagnética. No entanto, esses átomos de ouro existem por frações de segundo antes de se desintegrar, tornando impossível sua coleta.
Embora não seja uma solução prática para criar ouro em massa, esses experimentos são valiosos para a ciência. Eles ajudam a testar e aprimorar modelos teóricos de dissociação eletromagnética, contribuindo para o entendimento de fenômenos que afetam o desempenho de aceleradores de partículas.
Qual é o futuro da alquimia moderna?
Embora a transformação de chumbo em ouro continue sendo um desafio técnico e econômico, a pesquisa em física de partículas oferece insights valiosos sobre a estrutura da matéria. O trabalho no LHC e em outros aceleradores não apenas explora a possibilidade de transmutação de elementos, mas também avança nosso conhecimento sobre as forças fundamentais do universo.
O estudo contínuo desses processos pode, eventualmente, levar a novas descobertas que revolucionem nossa compreensão da física e da química. Até lá, a busca pela crisopeia permanece uma fascinante interseção entre a ciência e a história, inspirando novas gerações de cientistas a explorar os mistérios do universo.