CINEMA

Ética e mentira desafiam Juliette Binoche no filme 'Entre dois mundos'

Em cartaz em BH, longa francês acompanha jornalista que se infiltra entre faxineiros para escrever livro e vive conflito ao esconder a identidade dos colegas

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Mulher de meia-idade, Marianne é graduada em direito, divorciada e ou os últimos 20 anos em branco. Pelo menos é isso o que diz seu currículo, que não traz menção alguma a trabalho. Ela está sozinha, nunca trabalhou e precisa de emprego a qualquer custo. Marianne aceita, sem piscar, o bico como temporária numa empresa de limpeza.

Em cartaz nos cines Ponteio e UNA Belas Artes, “Entre dois mundos”, filme de Emmanuel Carrère estrelado por Juliette Binoche, logo explica ao espectador que essa Marianne acima é pura invenção. Da própria Marianne (Binoche), na verdade uma jornalista que se infiltra entre aqueles que lutam para sobreviver, pois a crise do desemprego será o tema de seu novo livro.

Bastante atrasado (o filme é de 2021) em seu lançamento no Brasil, “Entre dois mundos” se baseou em “Le quai de Ouistreham” (2011). O livro-reportagem de Florence Aubenas acompanha trabalhadores das balsas de Ouistreham, na Normandia. Duas vezes por dia, elas viajam da sa Caen até a britânica Portsmouth.

Aubenas ficou conhecida mundialmente após ter sido sequestrada, com seu tradutor, em Bagdá, em 2005 – a dupla ficou 157 dias em cativeiro no Iraque.

A Marianne de Binoche é muito aguerrida. Decide deixar a vida burguesa para trás e viver apenas com o que o trabalho como faxineira lhe permite.

Depois de ar por treinamento exaustivo, em que descobre que as mulheres têm lugar pior do que os homens (eles não lavam latrinas), entra no grupo da balsa. É quase uma operação de guerra, pois a equipe deve limpar 230 habitações duas vezes por dia, com quatro minutos para cada quarto.

Em meio às horas exaustivas, ao madrugar e à falta de tempo para qualquer coisa que não seja o trabalho pesado, Marianne se envolve com os colegas. Tem Nadège (Evelyne Porée), a supervisora durona; Justine (Emily Madeleine), a gatona da turma, de bem com a vida e supercompetente; o solitário Cédric (Didier Pupin), que tenta uma chance com Marianne; e a jovem Marilou (Léa Carne), que sonha em fugir da cidade com o namorado.

E tem ainda Chrystèle (Hélène Lambert), mãe solteira com vários filhos pequenos, para quem não há opção a não ser trabalhar de sol a sol. De personalidade forte, sem levar desaforo para casa, ela logo chama a atenção de Marianne. A dureza da personagem vai se desfazendo aos poucos, quando as duas se aproximam nas caronas que a jornalista dá a ela.

A amizade tem início, e realmente parece sincera, mas o espectador observa Marianne avaliando a “colega” como potencial protagonista para seu livro.

A grande questão do filme não é a “verdade jornalística” sobre as péssimas condições laborais na França, mas o dilema de Marianne.

Ela “está” faxineira. Ao terminar a pesquisa, onde mente para os amigos, voltará à vida real. Os colegas, não. O desenrolar é um anticlímax, beirando a presunção, que nem a delicadeza que Juliette Binoche imprime à personagem consegue salvar.

“ENTRE DOIS MUNDOS”

(França, 2021, 106min., de Emmanuel Carrère, com Juliette Binoche e Hélène Lambert) – Em cartaz às 13h50 e 18h45, no Ponteio 2; e às 18h40, na Sala 1 do UNA Cine Belas Artes, que não abre às segundas-feiras.

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