Sebastião Salgado, um dos fotógrafos mais respeitados do mundo, construiu sua obra em preto e branco, com tons de cinza. Ao longo de sua carreira, o artista visual, que morreu nesta sexta-feira (23/5), explicou por que fez essa escolha estética.

O preto e branco era uma escolha consciente. Em 1995, Salgado contou à Folha de S.Paulo que começou fotografando em cores - suas últimas imagens coloridas são de 1987, em comemoração aos 70 anos da revolução soviética -, mas migrou para o preto e branco por afinidade. Ele dizia que essa paleta era mais adequada ao seu modo de ver e representar o mundo.

A cor o distraía. Em uma conversa também com a Folha de S.Paulo, em 2022, Salgado declarou que, após um tempo, ao ver fotos coloridas, não era possível "concentrar no fato principal da foto".

"No momento em que eu presto mais atenção ou me preocupo com a cor, como na camiseta vermelha de uma garota, posso ter perdido o mais importante, a sua expressão", disse o fotógrafo.

 

Bebês abandonados brincando no teto de unidade da Febem, em São Paulo Sebastião Salgado
Trabalhador em plantação de cana-de-açúcar, em Cuba Sebastião Salgado
Ilhas Anavilhanas, arquipélago do Rio Negro, no Amazonas Sebastião Salgado
Rio Jutaí, no Amazonas Sebastião Salgado
Sebastião Salgado registrou a trajetória do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Sebastião Salgado
Filhotes de elefantes-marinhos-do-sul, na Baía de Saint Andrews, na Geórgia do Sul, entre a Argentina e a Antártica Sebastião Salgado
Impactado pela Amazônia, Sebastião Salgado registrou a grandiosidade daquela região Sebastião Salgado
Xamã yanomami durante ritual para subida ao Pico da Neblina, no Amazonas Sebastião Salgado
Trabalhadores da Serra Pelada, no Pará. Exposição "Gold - Mina de Ouro Serra Pelada" Sebastião Salgado
Fotografia da série "Gold - Mina de Ouro Serra Pelada". Retrata um homem trabalhador da mina em uma posição de esforço. Sebastião Salgado

Segundo Salgado, o preto e branco traduzia melhor a emoção. Na mesma entrevista, em 2022, ele afirmou que, com as fotografias em preto e branco, "conseguia transmitir algo nas gamas de cinza, e não mais de maneira escandalosa e acintosa como eram com as cores".

"Sou obrigado a entrar nesse mundo fantasma para poder restituir a realidade do que estou vendo. O preto e branco é uma ficção, e sou obrigado a entrar na ficção para me concentrar", afirmou.

O fotógrafo explicou que suas fotos eram capturadas em cores, mas ganhavam os tons de preto e branco apenas no processo de revelação. A técnica favorecia seu processo.

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Ainda em 1995, ele explicou que usava filmes Kodak Tri-X 400 ASA, conhecidos por sua sensibilidade e flexibilidade em condições de pouca luz. Salgado revelava os negativos em Paris e fazia as ampliações em casa, com controle total sobre o resultado final.

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