Filme "O agente secreto" concorre à Palma de Ouro em Cannes
Longa brasileiro estrelado por Wagner Moura conta a história de um especialista em tecnologia que tenta fugir do ado
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Siga noO Brasil tem hoje seu dia de gala em Cannes com a première, às 15h (10h no horário de Brasília) de “O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho, um dos 22 longas que concorrem à Palma de Ouro. Com Wagner Moura no papel-título, o thriller, ambientado em 1977, acompanha Marcelo, um especialista em tecnologia que retorna ao Recife fugindo do próprio ado. Não demora a perceber que o local está longe de lhe proporcionar o alento que busca.
Uma grande equipe estará no tapete vermelho do Grande Théâtre Lumière. Além de Mendonça Filho, Moura e da produtora Emilie Lesclaux, estão em Cannes os atores Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Alice Carvalho, Hermila Guedes, Isabél Zuaa e o belo-horizontino Carlos Francisco.
Nascido e criado em Santa Tereza, onde voltou a morar depois que retornou para Belo Horizonte, Carlão, como é conhecido no meio, participou também de “Bacurau” (2019), filme de Mendonça Filho que levou o Prêmio do Júri em Cannes.
Um dos destaques de ontem (17/5) do festival foi “Nouvelle Vague”, de Richard Linklater, longa que homenageia Jean-Luc Godard, morto há três anos. Batizado pelo nome do movimento francês do qual Godard foi um dos pais, o filme é uma carta de amor ao cinema, especialmente o francês. O resultado não é uma Palma de Ouro, mas um filme simpático, como costuma ser o caso na cinematografia do americano.
"Nouvelle Vague" acompanha os bastidores de "Acossado", uma das joias da coroa do cinema francês. Zoey Deutch dá vida a uma Jean Seberg em seu auge, sagaz e cheia de personalidade, enquanto Aubry Dullin vive um Jean-Paul Belmondo à beira do estrelato mundial, com todo o carisma e charme do ator, morto há quatro anos. Também desconhecido, Guillaume Marbeck se junta ao elenco como Jean-Luc Godard.
Outros assumem papéis menores, vivendo nomes como Agnès Varda, Jacques Demy, Suzanne Schiffman, Claude Chabrol, François Truffaut, Jacques Rivette e toda a nata do cinema francês dos anos 1960. Para os cinéfilos que frequentam Cannes, "Nouvelle Vague" é um deleite.
Um filme encantador, fofo e de uma leveza que o contrapõe à dureza dos outros longas exibidos na competição até aqui. Para quem não está familiarizado com o movimento francês, talvez funcione como convite para conhecer seus mestres – ou seja, simplesmente enfadonho.
Godard e Linklater compartilham o gosto pelos diálogos longos, refinados e despidos de grandes momentos – notadamente em “Antes do amanhecer”, “Antes do pôr do sol” e “Antes da meia-noite”. "Nouvelle Vague" pode até não se demorar nas conversas, mas seu ritmo é desacelerado, há esmero em recriar as cenas de "Acossado" e seu humor é de nicho.
Ambos também usam seus filmes para pensar o mundo e por vezes lançam mão da metalinguagem. "Nouvelle Vague" é um grande uso do recurso e, num momento cômico desta première, vemos um Godard ainda crítico de cinema, na Cahiers du Cinéma, eando por Cannes durante seu festival.
Mas é claro que Godard é infinitamente mais provocador que Linklater, seja na personalidade ou no cinema. E, com seu gênio sabidamente difícil, até mesmo arrogante, é difícil pensar que ele aprovaria "Nouvelle Vague". Os frequentadores de Cannes, por outro lado, parecem satisfeitos com o que viram, após uma première encerrada por aplausos efusivos.