Marco Paulo Rolla abre a exposição "Contrapontos e contratempos" em BH
Na mostra em cartaz no Centro Cultural Unimed-BH Minas a partir desta sexta (11/4), o artista propõe uma reflexão sobre a presença da tecnologia no cotidiano
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Siga noCenas cotidianas contaminadas por certa dose de surrealismo ou em que dispositivos tecnológicos, como notebooks e celulares, ganham centralidade predominam na exposição “Contrapontos e contratempos”, individual de Marco Paulo Rolla que ocupa a galeria de arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas, a partir desta sexta-feira (11/4).
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O conjunto das obras inclui pinturas, desenhos, colagens, esculturas em bronze, intervenção em madeira e o registro em vídeo de uma performance.
A maior parte delas foi produzida a partir de 2020, mas algumas remontam há mais de 15 anos. Rolla afirma que é uma exposição bastante focada na questão da tecnologia e da incomunicabilidade, o que tem a ver com o capitalismo. O artista observa que, quando a tecnologia não era tão onipresente, o ser humano se comunicava mais, e se questiona se isso é um contraponto ou um contratempo.
A propósito, ele ri do título da exposição. “‘Contrapontos e contratempos’ é tudo o que a gente quiser. Podemos colocar tudo nesse lugar, porque a vida é inconstante. Como falar da nossa existência atual sem falar do celular? Da manipulação do nosso desejo? Do incômodo com nosso corpo e do que é vendido para trabalhar esse incômodo? As obras acompanham a mudança de relação do ser humano com a tecnologia, porque o telégrafo é uma tecnologia, a televisão é outra e o computador é outra”, diz.
Brechó
Ele conta que a primeira obra da série que dá nome à exposição teve como inspiração cartilhas de escola que ganhou de uma tia, dona de um brechó, que sabia de seu apreço por imagens antigas. “Essas cartilhas mostravam, por exemplo, trabalhadores saindo da fábrica. Tem uma com um telégrafo desenhado. Em outra, tem uma mulher ouvindo uma vitrola. São todas ilustrações das décadas de 1950 e 1960. Sobrepus essa imagem das pessoas saindo do trabalho com o desenho de um sujeito olhando o celular.”
Outro quadro que ele destaca mostra um executivo engravatado saltando por cima de uma mesa, com os papéis de sua valise voando pelos ares, e um buraco negro no chão, logo em frente à mesa. Rolla pontua que gosta de deixar as questões abertas, como forma de convidar o espectador a imaginar os desdobramentos da ação retratada. “Existe na exposição essa questão da dúvida e da inconstância, o que a pelo experimento”, diz.
Esse experimento se dá, por exemplo, em uma obra sonora em que o visitante é involuntariamente colocado numa situação de performer, na medida em que tem que ficar com fones de ouvido de pé em frente a uma parede branca em que está escrito “Enganos”. “No início dos anos 2000, eu tinha uma secretária eletrônica que falava inglês – leave your message –, e recebia ligações de pessoas perguntando se era do orelhão da padaria. Fui colecionando isso, então são esses enganos que as pessoas ouvem”, diz.
Performance
A exposição inclui o registro em vídeo da performance “Urgência social”, realizada pelo artista em 2005, como forma de expressar seu incômodo com o celular. Ele criou um evento “dissimulado mas verdadeiro”, conforme diz.
O artista convidou várias pessoas, dizendo tratar-se de uma performance. “Sou conhecido por trabalhos imagéticos, pictóricos, com materialidade estética, mesmo no campo da performance. Quando os convidados chegaram, o evento era um coquetel, em que eu estava lançando um livro, e ficou todo mundo sem entender nada”, conta.
Depois de falar sobre o tal livro em um palanque, ele desceu e foi confraternizar com os convidados. “Isso já era a performance. Eu tinha combinado previamente com 20 pessoas de ficarem me ligando sem parar no celular, de forma que, a todo momento, eu tinha que interromper a conversa com algum convidado para atender. Num dado momento vinha a ação, que era cair no chão, eu e essas 20 pessoas, com o celular na mão, quebrando as taças de vinho e ficando ali, estatelados, paralisados, ausentes do evento social”, explica.
“CONTRAPONTOS E CONTRATEMPOS”
Individual de Marco Paulo Rolla, em cartaz a partir desta sexta-feira (11/4) até o dia 22 de junho, na galeria de arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes - 31.3516-1360). Visitação de terça a sábado, das 10h às 20h, domingos e feriados, das 11h às 19h. Entrada gratuita.