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Quando as SAFs chegaram ao futebol brasileiro, achei que seriam a redenção dos clubes, endividados até a alma. ados alguns anos, percebo que há uma diferença gritante para as SAFs dos clubes europeus. Vou pegar como exemplo o Leipzig, da Alemanha, cujo a dona é a Red Bull. Vejam bem, uma companhia gigante, que está no mundo todo, e que tem condições de gerir o clube, sem que o dinheiro saia do bolso ou do F de alguém. Funciona o CNPJ da empresa, que é multimilionária. No Brasil, a Red Bull também patrocina o Bragantino e lá você não ouve falar em salários atrasados, em dívidas com outros clubes ou em dívidas impagáveis e gigantescas. Tudo funciona conforme o orçamento, previsto no começo da temporada, com a verba x destinada ao futebol dos clubes. Peguei a Red Bull como exemplo, mas há outras empresas gigantescas que patrocinam outros clubes de grande porte no Velho Mundo.
No Brasil, temos as SAFs do Cruzeiro, Atlético e Botafogo que pertencem a pessoas físicas. Vou me ater ao alvinegro mineiro, que está com uma dívida de R$ 1,8 bilhão, segundo consta, prêmios e salários atrasados e devendo contratações de jogadores. O presidente do Cuiabá e do Athletico-PR detonaram a diretoria do Atlético Mineiro, publicamente. O torcedor acha que por ser SAF esses donos têm a obrigação de contratar a torto e a direito, com dinheiro próprio. A coisa não pode funcionar assim. Tirando Flamengo e Palmeiras, que são superavitários, os demais clubes brasileiros têm dificuldades em fazer futebol, principalmente os que têm receita 5 vezes menores que os times citados. O Corinthians, por exemplo, que é associação, deve R$ 2,5 bilhões, seu presidente está envolvido em denúncias e o clube está praticamente insolvente. Os presidentes vão sucedendo seus pares e jogando a sujeira para debaixo do tapete.
Voltando ao Atlético Mineiro, depois que o clube virou SAF, não ganhou um título importante sequer. Para quem não se lembra, o Brasileirão, vencido em 2021, depois de 50 anos na seca, foi pela associação Clube Atlético Mineiro, assim como a Copa do Brasil, do mesmo ano. A Cidade do Galo pertence hoje aos compradores, assim como o estádio. O que significa dizer que a associação e os torcedores não são donos de absolutamente nada. Pelo fato de os donos serem bilionários, os torcedores e conselheiros acharam que eles iriam contratar os melhores jogadores do mundo, montarem seleções e ganhar títulos todos os anos. Não funciona assim. A realidade é bem diferente da imaginada. Na Inglaterra, por exemplo, o dono do Manchester United não é o dono do Old Trafford, estádio, nem do CT do clube. Esses imóveis pertencem ao United e sua torcida. Há um orçamento a ser seguido e nem mesmo se o time estiver caindo pelas tabelas não se pode contratar além da conta. Vale lembrar que na Europa há o fair Play financeiro e clubes podem até ser rebaixados se não pagarem salários e ficarem devendo contratações.
Se não é fácil para uma empresa ficar tirando dinheiro para fazer futebol, imaginem para a pessoa física? O futebol dos clubes tem que se pagar, e, para isso, é preciso a criação de uma Liga, de receitas divididas em partes iguais para os participantes das competições, e um fair play que realmente funcione. Criaram tal dispositivo, mas só funcionou para dois clubes do nordeste, quando foram rebaixados. No mais, o que vemos Brasil afora são os clubes contratando e não pagando, com raras exceções. Com o futebol caro e fora da realidade econômica do país e do povo, os clubes não vão ar muito tempo e, nem mesmo as SAFs são garantia de uma vida saudável e confortável, pois quando aperta no bolso dos compradores, a coisa não é tão simples. Uma empresa gigantesca, que compra um clube, a qualquer situação, já a pessoa física não. Que o Atlético Mineiro consiga resolver seus problemas, pois, na visão de milhões de atleticanos e de economistas com os quais conversei, uma dívida de R$ 1,8 bilhão é impagável.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.