
Só um coração de inox pra aguentar esse Galo
Continuo preferindo um volante carne e osso. Se necessário fosse, botasse em tal volante, também, um sobrenome-empresa
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Gostei do Galo Inox instalado na esplanada de o ao Terreirão do Galo. Um galão de prata que remete à honraria máxima do clube. Um galo com peito de galo, como em outros tempos, e não com o novidadeiro peito de chester a que nos acostumamos a ver, puxado no ferro e no Whey.
Se faço uma ressalva, é o fato de ser apenas um. Um galo sozinho, ensinou o poeta, não tece a manhã – “Ele precisará sempre de outros galos. / De um que apanhe esse grito que ele / e o lance a outro; de um outro galo / que apanhe o grito que um galo antes / e o lance a outro; e de outros galos / que com muitos outros galos se cruzem / os fios de sol de seus gritos de galo, / para que a manhã, desde uma teia tênue / se vá tecendo, entre todos os galos”. E ainda dizem que João Cabral era botafoguense.
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Pois bem, eu preferia um volante, um zagueiro, um atacante. Ok, o Galo Inox foi um presente, tanto que seu sobrenome oficial não é Inox mas o nome de uma empresa de chapas, tubos e barras. Continuo preferindo um volante carne e osso. Se necessário fosse, botasse em tal volante, também, um sobrenome-empresa. Tivéssemos pensado nisso antes, teriam vindo de graça, em 2013, o Leandro Emive, segurança à toda prova, além do Pierre Scania, pra ninguém bater de frente.
Pelo andar da carruagem, estão com dias contados os Juninhos Pernambucanos, Ronaldos Fenômenos, Ronaldinhos Gaúchos. O primeiro poderia ter sido o Juninho Casas Pernambucanas, os Ronaldos teriam se dividido entre Nike e Adidas. Viva o futebol moderno, das SAFs e do raio gourmetizador!
Como em toda cumbuca onde mete a mão os nossos tutores, o advento do Galo Inox é pleno em equívocos. Um galo desses, bicho, era pra ter desfilado em volta olímpica na reinauguração do Terreirão antes de ser fincado à esplanada. Uma imagem que já nasceria histórica. E que faria referência aos ancestrais do Galo Doido, fabricados em madeira, e que assim desfilavam no Mineirão nos anos 70. Um deles aparece no documentário Todomundo, do grande fotógrafo Thomas Farkas, disponível no YouTube.
Mas não. O Galo Inox foi prontamente parafusado na parte que lhe cabe naquele latifúndio. No mesmo dia em que jogamos fora de casa, empatando sofrivelmente com o pequeno Maringá. Cujo uniforme, se não é confeccionado com partículas indestrutíveis de inox, possui certamente um dos elastanos mais resistentes do mundo. O Galo só não perdeu porque o juizão achou ok o puxão na camisa dentro da área, um dos mais acintosos da história do futebol, da moda e do vale-tudo. O Galo Inox, pois, já nasceu tomando ferro. Parabéns aos envolvidos.
Claro que ainda pode vir, em seu lugar, um bom volante. Basta uma oferta qualquer, irrecusável ou não, por exemplo, da seleção sa. Ou mesmo do Treze da Paraíba, o Galo da Borborema. amos o Inox nos cobres e, retirada uma parte para pagar juros aos bancos dos mecenas-credores, aplicamos o restante no melhor Leandro Emive possível. Nada de “joias” da América do Sul, por favor, nesse caso melhor o Inox.
Tá realmente feia a coisa, pessoal. A única evolução vista no Galo nas últimas semanas é mesmo o Galo Inox, do tipo que joga parado. Entre a turma que precisa se movimentar, é notória a involução. Como o Galo Inox, estamos estacionados, só que na zona do rebaixamento, caraca. Se bem que melhor esquecer o Caracas.
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Conosco todo mundo podosco. É um Caracas mostrando a carranca, um Grêmio perdido que se acha, o Peixe que respira, o Mirassol que ofusca, meu Deus, que fase. Fora os problemas terrenos, as coisas transcendentais: todo goleiro é o Dasaiev, todas as traves adversárias têm um metro de diâmetro. Não é milagre, eles devem dizer, é Atlético Mineiro.
Agora, pelo menos até o fechamento dessa missiva, parece que vem o Dudu. Dudu Maguary, a laranja podre que ainda dá um caldo. Só um coração de inox pra aguentar esse Galo.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.