O povoado de Suzana, em Brumadinho, preserva o bucolismo de outras épocas e é refúgio para quem deseja deixar o tumulto da cidade grande - Foto: Euler Júnior/EM/DA Press 566829
Na zona rural de Sabará, Brumadinho, Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Florestal e Santa Luzia, ainda se honra o fio do bigode, brinca-se de roda e cumprimenta-se o vizinhoAs compras são pagas no dinheiro e o crédito é o da cadernetaEm diversos trechos não há sinal de operadora telefônicaNada de iPhones, redes sociais ou amigos virtuaisSteve Jobs? Mark Zuckerberg? Quase ninguém sabe quem sãoAs crianças, criadas soltas, batem bola descalças e pedalam nas ruas e nos campinhos de terraNa roça, interior do interior, “craque” conhecido é o jogador habilidosoO outro, o crack – grande mal que consome –, é notícia ruim vinda das antenas
Tempo para a família
Foi Gameleira, distrito de Florestal, a pouco mais de 70 quilômetros de Belo Horizonte, com cerca de 260 habitantes, que Francisco Alves, de 56 anos, escolheu para reconstruir vida de pazDepois de “pelejar” com pizzaria na capital e ser vítima de seis assaltos, o comerciante optou pela tranquilidade do povoado onde nasceuHoje, o pai do Lucas, de 18, da Luana, de 16, e do Luiz Felipe, de 13, tem pousadinha no belo quintal de sua propriedade, com lago de tambaquis, tambacus, tilápias, traíras e pacus“Aqui, você não ganha dinheiro, mas vive muito bem”, avalia, seguro de que fez a escolha certa pelo bem dos filhosMorando no quarteirão deserto da Pousada Gameleiras desde abril, Romilda Maria Marques Andrade, de 40, mãe das pequenas Ariane e Ana Catarina, também está de volta à terra natal em busca de qualidade de vida“Em BH, tudo é muito caro e com muito tumultoEstamos bem melhor agora”, sorri.
Diferentemente da irmã Romilda, Romélia de Fátima Marques, de 31, nunca quis deixar GameleiraCasada, mãe de casal, a cantineira acredita que “modernidade demais atrapalha a educação”
Urgências do mundo de lá
A estradinha de terra é traço de cinco quilômetros entre o verde vivo de FlorestalA 15 minutos de Gameleiras, em Cachoeira de Almas, a bela Ana Paula da Silva, de 18, pensa em casamento, em 2015O futuro para a mocinha inteligente, politizada, que pensa em “ser” mais que “obter”Para o dinheiro, ela, babá, diz não dar muita confiança“Cuido da minha sobrinha e minha irmã me dá uns trocadosAqui, ninguém ganha muito, mas, como não temos com o que gastar, a gente consegue juntar… o mais importante é que a gente tem mais tempo para ficar junto e fortalecer as relações em família e com a comunidade”, ressaltaAna Paula fala das metrópoles que ela vê na TV e afirma não querer para a sua vida as urgências “do mundo de lᔓOs engarrafamentos, os acidentes, os crimes… quero distância de tudo isso”, comenta, ao lado de Nataly Aparecida, de 6, que se diverte com os carinhos da tiaDiva das Graças, de 49, participa da conversa“Também não gosto da cidade grandeÉ barulho demaisE prefiro gente do que tecnologia”, pontua.
Na praça do lugarejo, as placas comemorativas indicam as datas de inauguração dos serviços de água (1990), telefone (1990) e calçamento (2000)Sob o sol das 15h, nos bancos, meia dúzia de homens, mulheres e crianças conversam amenidadesOutros, em alpendres e janelas, observam o movimento na ruaAo lado da igrejinha, aula de costuraA lavradora Elza Naves, de 49, trabalha no campo desde os 13 anosDiz-se feliz com a rotina dos dias, que, ali, para a maioria dos 400 moradores, começa às 4hOs filhos, de 24 e 20 anos, “nunca jogaram videogame”Em casa, 35 galinhas gordas representam farturaEla conta que ônibus no povoado só uma vez por semanaE para Pará de Minas“Para Florestal, tem o escolar duas vezes por dia, que a gente também pode usar”, comenta, enquanto compra remédio para a vizinha com dor de cabeçaPriscila Cristina, de 20, funcionária da “vendinha”, única mercearia do lugar, escreve na caderneta miúda o preço do comprimidoConhece BH, Priscila? “Só pela TVAcho bonitaMas é muito violenta, né!">