Produção de ovos caipiras cresce mais de 25% em Minas
Preocupação do consumidor e do produtor com o bem-estar das aves estimula a atividade, que tem como característica a criação de galinhas soltas
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Siga noA produção de ovos caipiras em Minas Gerais registrou aumento superior a 25% da produção de 2024 em comparação com o ano anterior, de acordo com estimativas feitas pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) com base nos dados dos produtores que a empresa atende. Enquanto em 2023 o estado registrou cerca de 17,5 milhões de dúzias ao longo do ano, em 2024, os números chegaram a aproximadamente 22,1 milhões.
O aumento nos números, segundo profissionais da área, se deve, entre outras coisas, a uma maior preocupação do consumidor e do produtor com o bem-estar do animal que fará parte da alimentação e com a preferência dos pequenos produtores ao ingressar no mercado.
"Nessa criação (caipira), as galinhas ficam soltas, não ficam presas em gaiolas como as industriais. Tem um piquete para poder cercar, onde elas podem comer algum inseto, molusco, grama, capim, algumas sementes, além da ração que ela recebe durante o dia. Tem uma alimentação balanceada e a opção de outros alimentos diversificados", afirma a engenheira agrônoma e coordenadora técnica da Emater, Márcia Portugal.
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A criação industrial, que foi mencionada por ela, é aquela feita com aves confinadas em um galpão, onde são disponibilizadas água, ração e o ambiente é controlado, normalmente as produções em grande escala.
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A produtora Selma Máxima Amaral, que afirma sempre ter tido paixão pela criação de galinhas, resolveu entrar no mercado em 2022 e atualmente produz cerca de 6,5 mil ovos diários. "Hoje estamos em torno de 7 mil aves e nós iniciamos com mil. A média por dia é em torno de 6,5 mil, 6,3 mil ovos. Tem um retorno bom. As galinhas são soltas às 7h da manhã e ficam com o ao piquete e à área de pasto o dia todo. Isso dá um percentual de produção bom e aumenta a qualidade do produto", diz.
Pelo estado
Com o grande volume de ovos caipiras em Bocaiúva, no Norte de Minas, Selma Máxima comercializa a sua produção em redes de supermercados e pequenos comerciantes em diferentes cidades da região e até fora dela, como Montes Claros, Januária, Belo Horizonte e Curvelo.
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O mercado em crescimento fez com que um casal de mineiros, que estava há quase duas décadas na Europa, decidisse, no início deste ano, retornar para Engenheiro Dolabela, distrito de Bocaiúva, para se dedicar à produção de ovos caipiras.
"Neste momento, a gente tem 700 galinhas. Estamos entrando no mercado. Minhas galinhas começaram a botar em março e estamos buscando o mercado", afirma Iara Britto. Segundo ela, em média, são produzidos 500 ovos caipiras por dia.
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Ela, que trabalhou como auxiliar de limpeza e vendas por 18 anos em Portugal, França, Bélgica e Suíça, conta que está muito satisfeita com a escolha de retornar ao Brasil. A rotina da criação também virou conteúdo para o canal “O Rei do Ovo”, aberto no Youtube com o seu esposo.
Márcia Portugal afirma que, caso haja o manejo correto, não há grandes diferenças na produção caipira e na industrial e que hoje os pequenos produtores estão dando preferência para a criação mais livre para as aves.
"Ela é rentável, já que não tem muita tecnologia para ser empregada nesse tipo de criação. Em um galpão, há um gasto maior e a legislação é mais burocrática. Hoje, em Minas Gerais, a maioria dos pequenos agricultores – os familiares – está escolhendo essa forma de criação", diz
“Ela (a criação caipira dos pequenos produtores) é rentável, já que não tem muita tecnologia para ser empregada. Em um galpão, há um gasto maior e a legislação é mais burocrática. Hoje, em Minas, a maioria dos produtores familiares está escolhendo essa forma de criação”
Márcia Portugal
Coordenadora técnica da Emater-MG
Profissionalização
Para facilitar a comercialização e dar mais segurança sanitária para o produto, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), responsável pela fiscalização, atendeu a um pedido dos próprios produtores para a criação de um selo que permite uma rastreabilidade do produto, dando maior segurança e confiabilidade.
Além disso, quando a certificação é feita, os órgãos estaduais fazem a gestão, o aconselhamento dos produtores do ambiente em que as aves são criadas e até mesmo o manejo do animal.
Ovos caipira
“É preciso certificar para ter um preço melhor no mercado. A certificação é uma rastreabilidade deste produto. O consumidor vai ter transparência, segurança, vai saber a origem, vai ter confiabilidade”, diz a a coordenadora técnica da Emater. “É um selo que o IMA, que é o responsável pela auditoria para ver se está de acordo, vai dar para colocar junto ao rótulo, que faz com que tenha um preço melhor no mercado. Além disso, quando estamos fazendo a certificação, a gente faz a gestão da produção, desde o meio ambiente até o manejo da ave.”
A estimativa dos números só não é mais precisa devido a muitas produções serem caseiras e não terem o acompanhamento da Emater, o que, segundo a engenheira agrônoma, pode não dar o resultado esperado pelo produtor e pode apresentar alguns riscos para o consumidor.
“A galinha criada no fundo de quintal não vai te dar a produção que você quer de ovos; está aberta a problemas sanitários, já que você não terá controle de medicação e vacinação; e não consegue legalizar essa produção. Tem a questão da segurança alimentar também, já que o ovo transmite doenças se não for bem manejado”, conclui.